Se 2020 trouxe ganhos financeiros para alguns nichos do mercado, três empresas passaram por provas de fogo que transformaram seus rumos por completo, são elas: Oi (OIBR3 e OIBR4), IRB Brasil RE (IRBR3) e Cogna (COGN3).
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De casos de desconfiança institucional à reformulação de estratégias a longo prazo, o mosaico que indicará o futuro da tríade mais enigmática da bolsa de valores se forma aos poucos.
Sempre costumo dizer que gosto de empresas que passaram por situações difíceis, mas nem por isso deixaram de ser boas empresas. Os momentos em que as falhas organizacionais estão expostas servem de aviso para que a empresa repense as estratégias que a levaram até aquela situação e obrigatoriamente precisam se reinventar. Por meio desta reformulação, a gestão é forçada a pensar em soluções criativas e vasculhar cada canto do negócio, o famoso “arrumar a casa”.
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É claro que cada caso é diferente e único e nem sempre as corporações conseguem identificar os erros de forma clara e concisa. Assim, tardam a resolver suas deficiências. Com isso em mente, explico porque manterei Oi, IRB Brasil RE e Cogna em 2021 na minha carteira de ações.
Oi (OIBR3)
Em recuperação judicial desde 2016, a Oi contraiu uma dívida de R$ 14,3 bilhões com a Anatel. Depois de realizar um acordo com a Advocacia-Geral da União (AGU), o montante foi reduzido em 50% e a dívida final caiu para R$ 7,2 bilhões.
Direcionada pela gestão de Rodrigo Abreu, a Oi realizou uma série de leilões que angariaram quase R$ 18 bilhões até dezembro. A estimativa da empresa é que os leilões arrecadem ainda mais R$ 20 bilhões com a venda de parte da InfraCo.
Neste momento, o radar do mercado está direcionado ao leilão da InfraCo, que acontecerá ainda no primeiro trimestre de 2021. O sistema da empresa conta com 400 mil quilômetros de fibra ótica, estrutura indispensável ao sistema de distribuição do 5G, que deve figurar entre as novas tecnologias a serem implantadas no país nos próximos anos.
Na última terça-feira (12), a Bloomberg divulgou que o Canada Pension Plan Investment Board (CPPIB) teria se unido a um fundo gerido pelo BTG Pactual (BPAC11) para realizar uma oferta no leilão da InfraCo. Além desta oferta, duas outras devem ser apresentadas, uma pela Highline do Brasil, que arrematou as torres móveis no primeiro leilão, e a outra pela Ufinet, gerida pela Enel.
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Diferente das outras vendas, cujos ativos foram integralmente adquiridos pelas empresas ofertantes, apenas 51% da rede será leiloada. Os outros 49% permanecerão em posse da Oi, que pretende angariar pelo menos R$ 20 bilhões com venda da InfraCo.
Por conta disso, apesar do comentário feito por Rodrigo Abreu de que a Oi só deveria começar a gerar caixa entre 2022 e 2023, acredito que 2021 será um ano significativo para a empresa. Nesta reta final dos leilões, é possível enxergar a luz no fim do túnel, com uma Oi mais firme e recuperada judicialmente. Continuarei com a ação na minha carteira.
IRB Brasil RE (IRBR3)
No dia 26 de junho de 2020, o IRB terminou a investigação interna que pautaria todos os veículos econômicos. A descoberta? Uma fraude milionária praticada pela antiga diretoria. Como forma de tentar recuperar sua imagem e, consequentemente, a confiança do mercado, a empresa anunciou uma série de reformas.
A maior resseguradora brasileira sofreu um baque do qual ainda está tentando se reerguer. A desvalorização de seus papéis foi notável, assim como o repúdio geral dos acionistas e analistas. Desde que as ações do IRB caíram em março – mais de 64% -, não conseguiram atingir os antigos patamares. Se no dia 31 de janeiro as ações estavam precificadas em pouco mais de R$ 40, hoje elas ainda patinam nos R$ 7.
No entanto, após a série de medidas serem instauradas, e Antônio Cássio dos Santos assumir a presidência, há perspectivas da instauração de uma nova IRB, mais centrada e transparente. Segundo o CEO, não há mais esqueletos guardados, o que havia para ser analisado já foi propriamente descoberto.
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Leia também: O IRB irá sobreviver. Mas em que circunstâncias?
Nesta onda de reformas o IRB anunciou a contratação de uma consultoria internacional para reavaliar as estratégias a longo prazo. Apesar do informativo não acompanhar o nome da empresa contatada, podemos avaliar esta ação como um compromisso do IRB com sua severa reformulação organizacional.
Em convergência com as ações, a empresa concluiu o angariamento da sua segunda emissão de debêntures. Com prazo de quitação de 6 anos, a proposta animou acionistas, que injetaram mais de R$ 229 milhões no caixa da empresa. O IRB é líder de mercado e esta grave crise obriga a empresa a se reinventar. Acredito que o balanço do 4º trimestre virá melhor que o terceiro e em 2021 voltará a dar lucro e se reerguer. Mantenho a ação na minha carteira.
Cogna (COGN3)
Afetada pela paralisação das aulas em 2020, a Cogna viu suas ações despencarem. Seu carro chefe, a empresa Kroton, foi atingida em cheio pelas mudanças sociais do ano. Por conta disso, a Cogna iniciou um plano de reestruturação de seus negócios.
A companhia inovou no setor ao criar um marketplace de educação digital que será estreado entre este ano e o próximo. Basicamente, haverá uma plataforma para a venda de produtos educacionais de outras empresas.
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O plano de negócio com a empresa Eleva animou os acionistas que buscam sinais de recuperação a curto prazo. É especulado que a troca de ativos envolverá uma troca entre as duas empresas. A Cogna disponibilizaria seu sistema K2, enquanto a Eleva venderia seu sistema de ensino à Cogna.
Sinceramente, não acredito na recuperação da empresa no curto prazo. A vacinação ainda levará meses até a população estar protegida. O primeiro semestre ainda será de restrições. Entretanto, a Cogna já havia iniciado a transição, está se tornando uma empresa de tecnologia dentro da área de educação e logicamente este movimento foi acelerado na pandemia. Confio na gestão da empresa e mantenho a ação na minha carteira.
Assista ao vídeo sobre as ações da Oi, IRB e Cogna: