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Com risco fiscal e Fed, dólar encerra o dia a R$ 6,26, o maior valor da história

O maior patamar desde o início do Plano Real, em 1994, se deve ao auge do estresse fiscal no País, mas a decisão de juros nos EUA ajudou a definir a piora da cotação

Com risco fiscal e Fed, dólar encerra o dia a R$ 6,26, o maior valor da história
Notas de dólar. Foto: Envato Elements
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  • O dólar hoje voltou a renovar seu maior valor de fechamento da história, encerrando esta quarta-feira (18) a R$ 6,2657 com um salto de 2,78% ante o real
  • O maior patamar desde o início do Plano Real se deve ao risco fiscal e falta de avanços das medidas de corte de gastos na Câmara, mas decisão de juros nos EUA também ajudou a definir a piora

O dólar hoje voltou a renovar seu maior valor de fechamento da história, encerrando esta  quarta-feira (18) a R$ 6,2657 com um salto de 2,78% ante o real – o maior patamar desde o início do Plano Real, em 1994. A alta e a cotação recorde se devem principalmente ao auge do estresse fiscal no País, mas a decisão de juros nos Estados Unidos também ajudou a definir a piora da cotação na sessão.

O impasse em relação às medidas do pacote fiscal na Câmara continua pesando no câmbio nos últimos dias. O dólar já vinha em forte alta na sessão e disparou depois de o Congresso Nacional aprovar a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), que orienta o Orçamento de 2025. Os deputados rejeitaram a possibilidade de corte de emendas parlamentares. Isso aumenta o reajuste do fundo partidário e autoriza gastos de estatais fora do arcabouço fiscal. As medidas contrariam a intenção do Executivo de reduzir os gastos públicos.

Na véspera, o dólar chegou a R$ 6,20, mas cedeu até fechar o pregão em R$ 6,09, depois de declarações do presidente da Câmara, Arthur Lira, de que a votação das medidas de contenção de gastos poderia acontecer ainda na terça-feira (17). O texto-base foi aprovado, mas a votação de três destaques relacionados ao Projeto de Lei Complementar (PLP) do pacote de ajuste fiscal foi adiada e não voltou à pauta antes do fechamento desta quarta-feira.

Risco fiscal é o ‘protagonista’, mas BC dos EUA piora cenário

A disparada da moeda americana já acontece há alguns dias. Desde a quinta-feira (12), o Banco Central injetou cerca de US$ 12,7 bilhões no mercado de câmbio via leilões de dólar para tentar conter a disparada da cotação – essa é a maior frequência de intervenções desde 2021.

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Os leilões de dólar são operações para garantir liquidez ao mercado de câmbio em momento de alta da moeda americana. Apesar disso, nenhuma das operações realizadas pelo BC até aqui tem gerado o efeito desejado no valor do dólar. Os especialistas explicam que esse já era um resultado esperado, tendo em vista os motivos por trás das altas recentes.

Em dezembro, é comum observar um aumento na procura, especialmente por parte de empresas multinacionais que compram a moeda para remeter recursos às matrizes. Isso tende a jogar a favor da oscilação cambial. Mas o principal motivo por trás da disparada do dólar é outro: o risco fiscal.

Investidores acompanham com atenção a evolução da tramitação do pacote de corte de gastos no Congresso, cuja aprovação precisa ocorrer até a sexta-feira (20), antes do recesso parlamentar. “O pacote fiscal segue como o principal motor do mercado cambial brasileiro, ofuscando outras variáveis. A volatilidade permanece alta, e qualquer notícia negativa pode disparar o dólar, enquanto avanços no Congresso tendem a reduzir a cotação na mesma intensidade”, destaca Elson Gusmão, diretor de câmbio da Ourominas.

Lá fora, o dólar tinha viés de baixa ante divisas rivais, em compasso de espera pela decisão de política monetária nos Estados Unidos, antes da tarde desta quarta-feira. O Federal Reserve (Fed), o banco central americano, decidiu por um corte de 0,25% ponto percentual na taxa de juros, agora no intervalo entre 4,25% e 4,5% ao ano.

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Plínio Zanini, diretor de risco da Ciano Investimento, explica que, para o mercado brasileiro, a nova redução da taxa de juros americana, em geral, significa menor retorno na renda fixa americana, abrindo espaço para o fluxo de capital estrangeiro buscar melhores retornos em mercados emergentes, como o Brasil – o que poderia reduzir a cotação do dólar. Mas, com o fiscal no foco das atenções, esse movimento não tem acontecido. “Na atual situação, em meio às incertezas fiscais do Brasil e pelo fato de o corte ter ficado em linha com o esperado pelo mercado, não devem ocorrer grandes mudanças. Possivelmente, o fato de as projeções terem aumentado pode, na verdade, reverter este efeito de maior atratividade de mercados emergentes.”

Declarações do presidente do Fed, Jerome Powell, em coletiva de imprensa após a decisão, jogaram a favor de um dólar mais forte e ajudaram a acentuar a queda do real na sessão. A revisão das projeções para taxa de inflação e juros feitas pelos dirigentes da instituição dão a entender que há menos espaço para um alívio monetário nos EUA.

Com a perspectiva de juros mais altos por mais tempo por lá, o índice DXY, que mede o comportamento do dólar ante uma cesta de seis divisas fortes, passou a subir mais de 1% após as declarações de Powell.