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“O Brasil está fora do radar do investimento estrangeiro”, diz diretor do Itaú

Nicholas McCarthy, da área de Estratégias de Investimentos, vê investimentos paralisados no País

“O Brasil está fora do radar do investimento estrangeiro”, diz diretor do Itaú
Trader em operação na Bolsa de Valores. (Foto: DragonImages em Adobe Stock)

Nicholas McCarthy, diretor da área de Estratégias de Investimentos do Itaú, lamenta a situação atual do mercado doméstico. Desde que ele entrou no banco, há cerca de oito anos, este é o momento em que a exposição à Bolsa brasileira está no nível mas baixo; de 5% para os investidores moderados e de 7% para os arrojados. Zerar não é uma opção por ora, já que a Bolsa está barata e qualquer ajuste no fiscal pode desatinar uma recuperação. Contudo, a possibilidade existe. Até porque com o cenário fiscal incerto, não há visibilidade sobre indicadores importantes, como inflação, nem mesmo no curto prazo.

“O que tenho mais convicção são os títulos indexados à inflação”, afirma McCarthy, que vê pouca saída além de recomendar alocação no CDI aos clientes. Essa nebulosidade quanto ao futuro tende a continuar afastando os investidores estrangeiros – hoje, ele ressalta que o investimento direto no País está parado. “O Brasil está fora do radar, ninguém olha para o país mundialmente”, diz o diretor.

Apesar de historicamente ser otimista com os ativos brasileiros, é preciso ver uma inflexão das projeções para a inflação à frente para que essa visão positiva do diretor de estratégia retorne. E para haver melhora nas perspectivas para a inflação, o Governo deve enfrentar os desafios fiscais com seriedade.

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McCarthy participou de uma coletiva promovida pelo Itaú em São Paulo nesta quarta-feira (18), junto a Gina Baccelli, economista-chefe da área de Estratégia de Investimentos do Itaú Unibanco.

Disparada do dólar e Governo Dilma

Os executivos do Itaú também comentaram sobre a escalada do dólar sobre o real. Para McCarthy e Baccelli, o que levou o dólar de R$ 5,40 para R$ 6 foram majoritariamente questões internas. Contudo, até R$ 5,40, o movimento veio do cenário internacional: a mistura de uma economia pujante nos Estados Unidos e juros nas máximas históricas e incertezas sobre o novo governo de Donald Trump fazem com que a moeda se fortaleça globalmente.

“Todas as moedas do mundo estão desvalorizadas em relação ao dólar”, diz Baccelli. “Um dos componentes do que está acontecendo aqui é o cenário internacional”, afirma. A recomendação do Itaú é sempre ter alguma exposição ao dólar na carteira. Contudo, não se trata de comprar e manter a moeda “debaixo do braço”, mas para investir em ativos estrangeiros.

Os especialistas também não acreditam que o mercado brasileiro está “irracional”. Para McCarthy, diretor da área de Estratégias de Investimentos, a velocidade da deterioração dos ativos desde o anúncio do pacote de corte de gastos surpreendeu, mas os preços estão em um patamar justo. Nesta quarta (18), por exemplo, o dólar voltou a saltar e já encosta em R$ 6,20, enquanto o Tesouro Direto já registra pelo menos dois “circuit breakers” no dia em função da volatilidade das taxas. O título Prefixado mais curto oferece o juro de 15,6% ao ano, um patamar raro, enquanto o Tesouro IPCA+ juros reais próximos a 8% ao ano. Na análise dele, o que está sendo precificado é um risco razoável do País ter inflação muito fora da meta no ano que vem.

Por outro lado, as comparações com o segundo mandato de Dilma Rousseff (PT) tem fundamento. De acordo com o diretor do Itaú, o País vive um momento muito parecido, mas com uma relação dívida/PIB ainda mais elevada do que naquela época. “O calcanhar de Aquiles é nossa dívida. Precisamos de um choque de confiança para os investidores internacionais voltarem a investir”, diz.

Multimercados são oportunidade

Ainda que a estrela do ano que vem continue sendo o CDI, uma classe de ativos que McCarthy aprecia são os fundos multimercados. Esses veículos de investimento enfrentaram saques em massa desde 2022, na esteira da rentabilidade aquém da esperada pelos investidores. Contudo, nos últimos seis meses, os retornos reagiram e, para o diretor de estratégia do Itaú, são um forte aliado do investidor pessoa física já que acessam vários mercados.

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“Multimercados são a melhor classe de ativos do Brasil”, pontua. “Os gestores não ‘desaprenderam’, apenas passaram por três anos conturbados depois da pandemia de Covid-19 e agora podem voltar a ganhar dinheiro.”