O que este conteúdo fez por você?
- A 'marcação a mercado' é uma atualização de preços que ocorre diariamente nas cotas de fundos de investimento, em ativos negociados na Bolsa e nos títulos de renda fixa, de acordo com as condições atuais do mercado
- Quem investe nesses papéis precisa estar atento às oscilações de preços no mercado secundário – onde os títulos podem ser negociados antes do vencimento previsto
- A marcação a mercado não é vilã, mas um reflexo da dinâmica do mercado financeiro
Quem tem cotas de fundos ou títulos do Tesouro Direto – como Tesouro IPCA+ ou Tesouro Prefixado, por exemplo – já se assustou ao ver no seu extrato de investimento, até mesmo no perfil conservador, que o valor atual estava abaixo da aplicação inicial. Se isso já aconteceu com você, fique tranquilo: provavelmente não há nada de errado. As oscilações nos valores se devem exclusivamente a um mecanismo de ajuste de preços chamado “marcação a mercado”.
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Mas afinal, o que isso significa e como pode afetar seus investimentos? Basicamente, trata-se de uma atualização de preços que ocorre diariamente nas cotas de fundos de investimento, em ativos negociados na Bolsa e nos títulos de renda fixa, de acordo com as condições atuais do mercado. Por isso, quem investe nesses papéis precisa estar atento às oscilações de preços no mercado secundário – onde os títulos podem ser negociados antes do vencimento previsto.
Para entender como a marcação a mercado funciona, vamos tomar como exemplo um dos investimentos mais populares: os títulos públicos do Tesouro Direto.
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Imagine que você tenha investido em um título do Tesouro Prefixado com vencimento em 2029 e remuneração de 14,5% ao ano. Agora suponha que, por conta de um estresse no mercado, a projeção da Taxa Selic suba 5 dias após sua compra, para 15%. Se isso acontecer, daqui a 5 dias o investidor que adquirir um título igual ao seu certamente conseguirá juros superiores aos 14,5% ao ano que você obteve. Em outras palavras, o seu título estará menos atrativo daqui a seis meses, se comparado aos que o mercado lançará no futuro, em um cenário de Selic mais alta. E, portanto, valerá menos se você quiser vendê-lo no mercado secundário antes do vencimento. A esse efeito damos o nome de marcação a mercado.
Aqui, vale destacar que o ajuste diário de preços não afeta o investimento, caso ele não seja resgatado antes do vencimento. Portanto, se você tem um título sujeito à marcação a mercado e pretende mantê-lo até o vencimento, não há motivo para se preocupar.
O mesmo vale para os títulos atrelados à inflação, como a NTN-B (Nota do Tesouro Nacional Série B). Estes títulos variam de preço diariamente, conforme a expectativa do mercado em relação ao IPCA, ou seja, o indexador do Tesouro IPCA+. Quando se espera que os preços continuem subindo, a marcação a mercado tende a beneficiar a rentabilidade desse título, pois parte da remuneração é a variação do IPCA e outra parte são juros pagos anualmente pelo título. Para explicar melhor, vamos trazer mais um exemplo.
Suponha que você tenha na carteira uma NTN-B com vencimento em 2032 e rentabilidade de IPCA+7% ao ano. Estamos falando de um ótimo retorno, como podemos ver pela performance histórica de juros pagos nesses títulos. No entanto, se o mercado estressar, preocupado por exemplo com questões fiscais, esperando um posicionamento mais efetivo do governo sobre corte de gastos, podemos ver esses títulos remunerando acima dos 7% que você possui em carteira. Vamos supor que na cotação de hoje o mesmo título com vencimento em 2032 esteja sendo negociado em IPCA+7,15% ao ano. Ou seja, comparando os dois títulos, o investidor que comprou o segundo terá um retorno 0,15% ao ano a mais que o primeiro. Se pensarmos em um título de 10 anos, ao final haverá uma diferença de 1,5%.
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Portanto, o que acontece com quem comprou o título a IPCA+7% ao ano? O preço do título sofrerá um ajuste negativo, no primeiro momento, pois o título que você possui agora já não é o mais atraente em relação aos novos títulos, que pagam IPCA+7,15%. No entanto, uma vez feito esse ajuste, o valor do título que você carrega passará a ser calculado com base na nova taxa de 7,15% ao ano. E assim ocorrerá sempre que o título sofrer ajuste de preço, ou seja, uma remuneração automaticamente maior do que aquela que foi pactuada inicialmente.
E o que isso significa para você?
É importante lembrar que o fato de seu título sofrer ‘marcação a mercado’ para baixo não significa que você perderá a rentabilidade que contratou no início da aplicação. Caso decida resgatar o título antes do prazo, o mesmo deverá ser realizado no mercado secundário de renda fixa, ou seja, vender o papel para outro investidor. Se os juros estiverem mais altos na época, é provável que a rentabilidade que você contratou seja sacrificada. Porém, se o mercado estiver mais otimista, o preço do título poderá estar abaixo de 7,15% ao ano, o que traria um impacto positivo para quem estiver vendendo.
No caso dos ativos atrelados à Selic, se o governo reduzir os juros, os títulos que foram adquiridos quando a Selic estava alta se tornam ainda mais vantajosos, pois a taxa de juros maior foi garantida para todo o período da aplicação. Neste caso, você pode lucrar na venda, já que o seu título estará oferecendo uma rentabilidade superior à dos novos lançamentos.
A ‘marcação a mercado’ não é vilã, mas um reflexo da dinâmica do mercado financeiro. A pergunta que fica é: você está preparado para lidar com as oscilações e tomar decisões mais racionais do que emocionais? O segredo está em saber como o jogo funciona e jogar a seu favor.