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- Setores de commodities, tecnologia e saúde estão entre os mais suscetíveis a volatilidades imediatas
- Medidas protecionistas, como tarifas sobre importações chinesas, podem fortalecer o dólar como ativo refúgio
- Corte de impostos corporativos para as empresas americanas tende a deixar o ambiente mais inflacionário
Os mercados reagiram com otimismo à eleição de Donald Trump, embalados por promessas de desregulamentação e cortes de impostos, que alimentam expectativas de estímulos ao crescimento econômico. Entretanto, a perspectiva de tarifas sobre importações e restrições à imigração levanta preocupações sobre possíveis aumentos de custos e pressões inflacionárias, com reflexos significativos para economias como a brasileira.
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Analistas consultados pela reportagem projetam para o novo mandato de Trump, que assume a presidência dos Estados Unidos nesta segunda-feira (20). Segundo eles, os setores de commodities, tecnologia e saúde estão entre os mais suscetíveis a volatilidades imediatas diante das políticas comerciais e fiscais propostas pelo novo mandatário da maior economia do mundo.
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Os impactos mais significativos incluem a elevação dos custos de produção na manufatura devido à imposição de tarifas sobre importações, a redução da disponibilidade de mão de obra qualificada no setor de tecnologia por causa de mudanças nas políticas de imigração e a criação de incertezas. “No setor de saúde, propostas de desregulamentação e alterações em políticas de preços de medicamentos podem gerar incertezas adicionais”, diz Gianluca di Matina especialista em investimentos da Hike Capital.
Medidas protecionistas refletem no câmbio
O dólar deve enfrentar volatilidade significativa no cenário global. Medidas protecionistas, como tarifas sobre importações chinesas, podem fortalecer a moeda como ativo refúgio.
Guerras comerciais prolongadas, por outro lado, poderiam abalar a confiança no dólar como a principal moeda de reserva do mundo, opina Sidney Lima, analista da Ouro Preto Investimento. “Este cenário pode levar a uma valorização inicial seguida por um possível declínio sustentado se as tensões comerciais escalam.”
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O Brasil, no entanto, pode se beneficiar da disputa comercial, com China e outros mercados podendo aumentar a demanda por commodities nacionais como uma alternativa ao mercado americano.
Por outro lado, a meta de Trump de produzir mais petróleo e, consequentemente, reduzir preços de combustíveis poderá reverter num prazo mais alongado a pressão cambial. “A dinâmica de um dólar mais forte pode também ser impactada pela eventual redução de riscos geopolíticos, no caso do avanço de algum acordo na guerra Ucrânia e Rússia”, observa João Picioni, CIO da Empiricus Gestão.
Na bolsa, cenário desfavorável a emergentes
Enquanto as políticas econômicas de desregulamentação esperadas devem gerar impacto imediato nos mercados de ações globais, especialmente nas bolsas americanas, no caso do Brasil, e dos emergentes, o cenário pode ser menos favorável.
Entre os setores mais suscetíveis a essas políticas estão varejo e consumo interno. A elevação do dólar frente às moedas emergentes tende a pressionar a inflação, resultando em juros mais altos, o que afeta diretamente o custo do crédito e o endividamento dos consumidores. Além disso, estoques mais caros devido a tarifas sobre importados podem reduzir a demanda e comprimir ainda mais as margens das empresas do setor, criando desafios adicionais em um cenário já volátil.
“O corte de impostos corporativos para as empresas americanas tende a deixar o ambiente mais inflacionário e os juros maiores do ponto de vista do Fed, o que tende a impulsionar o dólar para cima”, avalia Mauricio Valadares, diretor de investimentos da Nau Capital.
No Brasil, exportadoras de commodities, como Petrobras (PETR4), SLC Agrícola (SLCE3) e Suzano (SUZB3), que possuem receitas predominantemente em dólar, e empresas de tecnologia e serviços globais, como Weg (WEGE3) e Embraer (EMBR3), que atuam em mercados externos, podem se beneficiar em cenários de dólar alto.
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Por outro lado, empresas do setor de consumo interno, como Lojas Renner (LREN3) e Magazine Luiza (MGLU3), enfrentam riscos devido ao aumento nos custos de importação, dívidas atreladas ao dólar e pressão de concorrentes mais capitalizadas. “O setor industrial que depende de insumos importados, mas tem o mercado nacional como foco, como a Intelbras (INTB3), também pode ser impactado negativamente”, avalia Picioni da Empiricus.
Trump pode trazer confiança aos criptoativos
A promessa de desburocratizar e criar um ambiente regulatório favorável para o setor de criptomoedas gerou entusiasmo entre investidores, com o Bitcoin ultrapassando a marca de US$ 100 mil. A expectativa é de que Trump, em seus primeiros dias de mandato, possa emitir ordens executivas ou nomear figuras pró-cripto para posições estratégicas, o que reforçaria a confiança no setor. Além disso, medidas como a criação de um “estoque estratégico de bitcoin” são mencionadas em análises de mercado como potenciais catalisadoras de mais valorização, ampliando o otimismo com o futuro das criptomoedas nos Estados Unidos.
No entanto, dúvidas persistem sobre a concretização dessas promessas de Trump. O mercado de criptomoedas, conhecido por sua volatilidade, pode enfrentar correções caso as expectativas não sejam atendidas rapidamente. “Políticas abaixo das expectativas ou atrasos em promessas de campanha podem desencadear correções no mercado”, diz João Kury, Hub Manager do ICP Hub Brasil.