Os investidores começam a reavaliar suas estratégias de investimentos diante da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, nesta quarta-feira (29), de subir a Selic em 1 ponto percentual, de 12,25% para 13,25% ao ano.
A decisão do Copom veio em linha com as expectativas do mercado, que já precificava um cenário de aperto monetário mais intenso para conter a inflação persistente. Agora, investidores analisam os impactos dessa elevação sobre diferentes classes de ativos, incluindo renda fixa, bolsa de valores e câmbio.
Desde o reinício do ciclo de aperto monetário, em setembro do ano passado, o Copom elevou a Selic em quatro ocasiões: de 10,5% para 10,75% ao ano; em novembro, para 11,25%, em dezembro, 12,25%, até alcançar o nível atual. O ritmo das elevações da Selic foi se intensificando gradativamente e, diante do agravamento do cenário de inflação e alta do câmbio desde a última reunião em novembro, o mercado passou a pressionar juros ainda mais altos.
Rubens Cittadin, operador de renda variável da Manchester Investimentos, aponta que, ao tomar decisões sobre a taxa de juros, o economista Gabriel Galípolo, que fez sua estreia como presidente na reunião do comitê, precisou considerar a inflação como um dos principais pontos de atenção.
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Cittadin diz que Galípolo precisou colocar no radar a alta de 0,11% no Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo 15 (IPCA-15) em janeiro, considerar o mercado de trabalho aquecido e como as políticas do governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm interagido com as ações do Banco Central. Entraram nessa conta também as condições econômicas externas, como a recorrente alta do dólar frente ao real decorrente do risco fiscal no Brasil e da alta da moeda no mundo todo em dezembro, o novo mandato de Donald Trump e as políticas monetárias de outros países.
Investimentos atraentes com a nova alta da Selic
Com os juros mais elevados, os títulos pós-fixados, que acompanham diretamente a Selic e o Certificado de Depósito Interbancário (CDI), se tornam opções preferidas dos investidores. O Tesouro Selic, Certificados de Depósitos Bancários (CDBs) indexados ao CDI e até mesmo a poupança se beneficiam desse movimento, já que sua rentabilidade acompanha de perto as variações da taxa básica de juros, segundo Larissa Frias, planejadora financeira do C6 Bank.
No entanto, as incertezas econômicas e fiscais no Brasil geram uma postura mais cautelosa entre investidores que consideram alternativas como os títulos prefixados. Embora esses ativos já tenham embutido parte dos aumentos esperados, Frias aponta que o cenário instável mantém o receio de que mudanças na política monetária possam ocorrer ao longo do ano. Por esse motivo, investidores tendem a manter maior exposição a ativos pós-fixados, mais alinhados aos movimentos da Selic.
Investimentos híbridos, que oferecem uma rentabilidade prefixada mais a correção pela inflação medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), também estão sendo vistos com bons olhos. Esses ativos têm uma relação indireta com a Selic, já que uma das funções dos juros elevados é controlar a inflação, o que torna essa opção interessante no atual contexto de taxas mais altas.
Além de papéis em CDI, os títulos de IPCA tornam-se opções interessantes para quem busca investimentos de longo prazo, acima de três a cinco anos, conforme Marcelo Bolzan, estrategista de investimentos da The Hill Capital. Esses ativos, diz ele, oferecem boa proteção contra a inflação e podem ser mais seguros se o emissor for o governo ou bancos de primeira linha. Para os investidores em bancos menores, é importante garantir que o valor não ultrapasse o limite do Fundo Garantidor de Crédito (FGC), que assegura até R$ 250 mil por CPF e por instituição.
Alerta: crédito privado
Embora os bancos, especialmente os maiores, tendem a se beneficiar da elevação dos juros, o investidor precisa ter cautela ao avaliar papéis de crédito privado, recomenda o estrategista de investimentos. Empresas endividadas tendem a enfrentar custos financeiros mais altos, o que pode comprometer a rentabilidade e a solvência no futuro. “É importante fugir dessas empresas e buscar aquelas de setores mais estáveis, como energia elétrica, que possuem fluxos de receita bastante estáveis, e empresas de saneamento. O foco deve ser em companhias com alta geração de caixa e que não sejam cíclicas. Esses papéis estão remunerando o investidor com taxas excepcionais, mas é fundamental garantir que a empresa permaneça ativa e saudável nos próximos 5 ou 10 anos, quando o investidor for receber esse valor no futuro”, explica Bolzan.
Por outro lado, Frias alerta que, no período em que a taxa básica de juros sobe, o poder de compra dos investidores pode ser impactado negativamente. “É importante que o investidor fique atento ao retorno. Se o retorno nominal daquele investimento garante pelo menos a inflação e mais um ganho real, ele estará protegendo seu poder de compra. Caso contrário, ele acaba tendo o seu valor corroído pela inflação”, diz. A saída para o investidor, de acordo com a planejadora financeira, é acompanhar de perto os índices inflacionários para garantir que os investimentos estejam sendo corrigidos de acordo com as flutuações da economia.
Simulações
Fabio Gallo, colunista do Estadão e professor de Finanças da Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV-SP), elaborou a pedido do E-Investidor uma simulação para avaliar o rendimento de investimentos em renda fixa com a nova taxa Selic. O estudo considera a previsão de 5,50% para o IPCA, conforme o Boletim Focus, e utiliza uma rentabilidade da poupança de 7,1% ao ano. A simulação calcula a rentabilidade bruta, líquida (descontando impostos e taxas) e real (descontando a inflação) para investimentos de R$ 1 mil em diferentes tipos de títulos. Confira os resultados:
Quanto rende investir R$ 1 mil
Quanto rende investir R$ 5 mil com a Selic em 13,25% ao ano
Quanto rende investir R$ 10 mil com a Selic em 13,25% ao ano
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