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Depois de subir mais de 27% em relação ao real em 2024, o dólar já acumula perdas de 7,53% frente à moeda brasileira em 2025. O movimento, no entanto, ainda é visto com cautela por bancos e corretoras, que optaram por não fazer grandes alterações em suas projeções para o câmbio.
Em dezembro do ano passado, mostramos nesta reportagem que diferentes casas haviam ajustado suas perspectivas para o dólar depois do aumento de preocupações em relação ao cenário fiscal. Na época, o pacote de corte de gastos anunciado pelo governo foi considerado insuficiente pelo mercado, fator que contribuiu para uma valorização da moeda americana acima do patamar de R$ 6.
No começo de 2025, porém, a divisa seguiu um caminho contrário: caiu para os atuais R$ 5,71 – o menor nível desde novembro –, com a percepção de que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, iniciou o seu mandato com políticas tarifárias mais brandas do que as prometidas em campanha. Para se ter uma ideia, entre o final de janeiro e o início de fevereiro, o dólar completou doze sessões seguidas de perdas.
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Apesar do desempenho negativo recente da moeda americana, bancos e corretoras não estão convictos de que essa tendência de queda deve continuar. Dentre as onze casas consultadas pelo E-Investidor, seis acreditam que o dólar vai terminar o ano cotado a R$ 6 ou acima disso.
Uma das poucas instituições que reduziu a sua estimativa para o dólar ao final de 2025 foi o banco Inter, que diminuiu sua projeção de R$ 6 para R$ 5,9. “Após o pico de R$ 6,3 em dezembro, o real voltou a apreciar no começo de 2025 e ajustamos nossa expectativa para R$ 5,9. Apesar do maior diferencial de juros e da recente alta das commodities, o risco de nova expansão fiscal deve continuar no radar impedindo uma valorização mais significativa do real”, explica em relatório divulgado nesta sexta-feira (14).
A menor estimativa é a do Banco BMG, que enxerga a divisa a R$ 5,7 ao final de 2025. A instituição, no entanto, preferiu não fazer nenhuma alteração recente em sua projeção. “Apesar da oscilação cambial, incluindo a queda abaixo de R$ 6 em janeiro, seguimos com a mesma estimativa para o período, de R$ 5,7 por dólar”, diz Flávio Serrano, economista-chefe da casa.
Por outro lado, a projeção mais elevada vem do C6 Bank, que estima a cotação do dólar em R$ 6,3 até o fim do ano. Segundo o banco, as incertezas sobre os próximos passos da política monetária do Federal Reserve (Fed), especialmente diante da possibilidade de demora na retomada dos cortes de juros, favorecem o fortalecimento da moeda americana.
O que ainda causa preocupações em relação ao dólar?
Bancos e corretoras apontam que incertezas externas e domésticas devem seguir pressionando o dólar. Um ponto de atenção é a política tarifária de Trump, que tem viés inflacionário e pode dificultar ainda mais a redução das taxas de juros nos Estados Unidos.
Na quinta-feira (13), o governo americano anunciou tarifas recíprocas para os países que aplicam impostos contra as importações dos EUA. “Decidi, para fins de justiça, que cobrarei uma tarifa recíproca, o que significa que tudo o que os países cobrarem dos Estados Unidos, nós cobraremos deles – nem mais, nem menos!”, destacou o republicano na rede social Truth Social.
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Em seu relatório de perspectivas econômicas para fevereiro, a Ágora Investimentos ressaltou que, embora tenha expectativas favoráveis para o exterior no curto prazo, está mais negativa pensando no segundo semestre do ano. O principal tema de atenção é a inflação americana se distanciando da meta e como o Fed vai se comportar diante disso.
“Tanto os aspectos locais como os aspectos no cenário internacional não nos fazem crer em um dólar em R$ 5,6, por exemplo. Por outro lado, entendemos que o dólar possa voltar para R$ 6,20 a depender dos próximos anúncios de Trump. Seja como for, projetamos um dólar em R$ 6 em dezembro de 2025”, afirma o time da corretora.
O cenário doméstico também causa preocupações para o câmbio. Na visão do Itaú, que subiu, ao final de janeiro, a sua projeção para o dólar em 2025 de R$ 5,7 a R$ 5,9, o prêmio de risco brasileiro deve seguir elevado diante das incertezas fiscais.
O banco acredita que nem mesmo as decisões de juros do Comitê de Política Monetária (Copom) podem ser capazes de reduzir a pressão sobre a moeda brasileira. “Diferencial de juros ajuda na medida em que a taxa Selic continuar subindo, mas não o suficiente para promover apreciação significativa da moeda”, afirma.
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O BTG Pactual, por sua vez, enxerga que a valorização do dólar em dezembro de 2024 foi motivada principalmente pelas preocupações do mercado com a sustentabilidade da dívida pública de longo prazo e a condução da política econômica nos próximos meses.
Na avaliação do banco, em um cenário pessimista, medidas que contornam o orçamento, ampliam gastos fiscais e enfraquecem a política monetária podem levar a taxa de câmbio a ultrapassar o patamar de R$ 7 ainda este ano.
Por outro lado, num contexto mais otimista, o sinal claro de um ajuste fiscal crível poderia realinhar as expectativas e fortalecer o real para níveis próximos de um dólar a R$ 5,2, embora o BTG considere esse cenário muito improvável no momento.
Quem também acredita ser difícil apostar em uma recuperação significativa do real é a XP Investimentos, que recentemente manteve a sua projeção de R$ 6,2 para a moeda americana ao final de 2025.
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De acordo com a corretora, um fator importante que ainda pode mexer com o câmbio é a corrida eleitoral para a disputa à presidência em 2026. “As incertezas em torno da política fiscal persistem e tendem a se intensificar à medida que o ano eleitoral se aproxima”, observa.
Efeito manada sobre o dólar?
Uma instituição, no entanto, tem uma visão um pouco diferente da maioria do mercado. Para o Banco Pine, parte da forte depreciação do real em 2024 ocorreu devido ao chamado “efeito manada”, um fenômeno em que investidores replicam as decisões de outros agentes sem uma análise própria e racional.
A instituição acredita que um dos motivos que explicam a queda do dólar no começo de 2025 vem da percepção de que houve exagero na desvalorização dos ativos brasileiros no final do ano passado. “Vale destacar que essa recuperação ocorreu sem melhorias nas contas públicas e nem sinalização com relação ao futuro da política fiscal.”
“É importante destacar que parcela da recente depreciação do real é permanente, pois é baseada na piora dos fundamentos fiscais que vem ocorrendo desde o início da década anterior e que ganhou contornos mais drásticos desde 2022″, completa o banco, que projeta a moeda americana a R$ 5,75 ao final de 2025.
O Pine também acredita que as políticas tarifárias de Trump seguem como um fator de preocupação para o dólar. “Essas ações têm gerado aumento das incertezas globais, afetando taxas de juros, prêmios de inflação e o valor das moedas. A percepção de que a relação comercial com o Brasil não é prioridade para o governo Trump permite alguma acomodação da moeda, ao menos por enquanto.”
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