

O histórico não mente. Quando o assunto são dividendos, duas gigantes da Bolsa de valores brasileira proporcionaram muitas alegrias aos investidores na última década. É o caso do Banco do Brasil (BBAS3) e da mineradora Vale (VALE3).
O banco estatal fechou o ano de 2024 com lucro líquido ajustado de R$ 37,9 bilhões, alta de 6,6% em relação a 2023. Enquanto a mineradora registrou no ano passado lucro líquido de US$ 6,16 bilhões, recuou de 23% ante 2023.
Levantamento exclusivo de Felipe Pontes, diretor de gestão de patrimônio na Avantgarde Asset Management, para o E-investidor revela que nos últimos cinco anos o dividend yield (retorno em dividendos) do Banco do Brasil e da Vale foi de 36,29% e 71,93%, respectivamente. O cálculo considerou os dividendos e juros sobre capital próprio pagos no período, além de eventuais ajustes por grupamentos ou desdobramentos da ação.
Segundo Pontes, ajustes como esses evitam que o investidor tenha a ilusão de ganho ou prejuízo onde não há, preservando-o de decisões erradas na hora de investir. “Sem ajustes para desdobramentos ou grupamentos, pode parecer que o preço da ação caiu ou subiu de forma artificial, quando na verdade o valor total do investimento não mudou”, explica.
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Já no período de 10 anos, o dividend yield por essa metodologia correspondeu a 110,57% para Banco do Brasil e 189,28% para Vale.
Só no quesito dividendos, à primeira vista, quem engordou mais o bolso dos investidores foi a Vale. Mas não se engane: quando é considerado o retorno total, o Banco do Brasil teve o maior ganho com valorização e dividendos na década. Já no período de cinco anos, a Vale ainda lidera em rentabilidade, com a alta das ações e os proventos pagos. Veja abaixo:
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Mas quanto será que renderam em dividendos e no retorno total (valorização mais proventos), R$ 10 mil, R$ 50 mil e R$ 100 mil aplicados nestas ações? Veja simulações para um horizonte de 5 e 10 anos.
O levantamento não considera o reinvestimento dos dividendos. Desta forma, o investidor recebeu o dividendo e gastou em outra coisa.
O capital acumulado leva em conta o aporte inicial feito pelo investidor, mais o ganho com a valorização das ações e os dividendos recebidos no período.
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Olhando para o dividend yield médio dos últimos cinco anos, as companhias também foram competitivas. Segundo dados da plataforma Investidor10, o dividend yield médio da Vale (VALE3) no período foi de 9,55%, enquanto o do Banco do Brasil (BBAS3) alcançou na média 8,50%. Considerando que a média de dividend yield das empresas da bolsa é em torno de 6%, o retorno médio com proventos destas companhias foi interessante.
Qual é a melhor ação para iniciantes?
Embora o retorno com dividendos da Vale tenha sido maior que o Banco do Brasil nos últimos anos, não é apenas isso que conta na hora de escolher uma ação para uma carteira de renda passiva, principalmente se o investidor ainda está dando os primeiros passos nessa jornada.
Entre os analistas consultados pelo E-investidor é consenso que o Banco do Brasil (BBAS3) seja a escolha mais criteriosa para quem é iniciante.
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Bruno Oliveira, analista do Vida de Acionista, explica alguns motivos. O primeiro está relacionado ao pilar da empresa. Um investidor precisa conhecer como uma empresa faz dinheiro, suas vantagens e desvantagens, seu histórico de rentabilidade e quem são seus executivos. E, neste sentido, entender como funciona um banco é muito mais simples do que analisar uma mineradora.
Tem também o fator preço e volatilidade das ações e, neste quesito, os resultados da Vale foram mais cíclicos nos últimos anos, por estar atrelados à demanda do minério de ferro e às incertezas na China, explica Victor Bueno, sócio e analista da Nord Research. Com isso, o preço das ações da Vale e os dividendos da mineradora podem oscilar bastante.
Segundo Bueno, em 2024, as ações VALE3 caíram mais do que 20% e, em 2025, já chegaram a operar no negativo. “A ciclicidade não é tão positiva para o investidor que está começando, porque impacta nos dividendos e gera fortes oscilações no preço da ação”, comenta.
Bueno destaca que o Banco do Brasil, além de ter entregado resultados sólidos e previsíveis nos últimos anos, é um dos maiores bancos do mercado e tem forte presença no agronegócio, segmento que representa um terço da sua carteira de crédito, e que apesar de também ter uma certa ciclicidade, traz um impulso para os resultados e dividendos do banco estatal.
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Oliveira cita também o custo psicológico para o investidor. Na última década, a Vale enfrentou eventos adversos, como os desastres ambientais com barragens em Mariana e Brumadinho. Enquanto o Banco do Brasil, apesar do receio constante do mercado com interferência política por parte do governo, não teve nenhum impacto real negativo desde a criação da Lei das Estatais em 2016.
“Investir na Vale, avaliar as situações adversas, confiar nos executivos, historicamente custou mais psicologicamente aos investidores do que o Banco do Brasil”, defende Oliveira.
Qual é a melhor ação para investidores experientes?
Para quem já possui uma carteira mais consolidada de ações que pagam dividendos, vive de renda passiva ou tem um perfil mais arrojado pode fazer sentido dar uma oportunidade para Vale (VALE3), segundo os analistas.
Embora ambas as companhias paguem dividendos robustos, no Banco do Brasil o investidor encontrará um mix de estabilidade e rentabilidade, com proventos crescentes, explica Regis Chinchila, head de research da Terra Investimentos. Mas na Vale, Chinchila enxerga também um forte potencial de valorização. “É uma escolha atraente pela sua posição estratégica no mercado de mineração e o preço atual descontado das suas ações”, avalia.
Com as ações ainda baratas, o dividend yield pode ser impulsionado neste ano.
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Bueno lembra ainda que mesmo passando por ciclos desafiadores, a Vale conseguiu pagar bons dividendos nos últimos anos.
“Para aquele investidor que se sente confortável com ter commodities na carteira, Vale pode integrar um portfólio de renda passiva. Mas é importante lembrar que a mineradora tem apenas 80 anos de história, enquanto o Banco do Brasil já se provou no tempo com 200 anos de atuação”, pontua Oliveira.
Como Vale e Banco do Brasil remuneram seus acionistas?
Atualmente, o Banco do Brasil remunera os seus investidores com uma frequência de 8 vezes por exercício – sendo 7 pagamentos no ano vigente e 1 pagamento no ano subsequente – na modalidade de dividendos e juros sobre capital próprio. Desde 2023, o banco divulga no começo do ano um calendário de pagamentos com datas de corte (para garantir os proventos), data-ex (sem direito ao provento) e datas de pagamento, facilitando assim a organização do investidor. Apenas o valor dos proventos são divulgados no decorrer do ano.
Para 2025, o banco definiu uma faixa de payout (parcela do lucro destinada a proventos) entre 40% e 45% e já manifestou que o intuito é tentar distribuir os 45% do lucro. Historicamente, segundo os analistas, o payout geralmente foi de 40% nos últimos anos.
Oliveira destaca que a disposição do Banco do Brasil de aumentar o payout está muito relacionada às projeções da Selic. “Caso o banco enxergue uma taxa de juros mais elevada, é comum que eles tomem uma postura mais conservadora e vice-versa”, comenta.
Na Vale, a política de dividendos estabelece remunerar os acionistas com 30% do Ebitda ajustado (lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização) menos o investimento corrente. A mineradora paga proventos semestrais, em março e setembro.
Mas, quando o endividamento é confortável, existe espaço para dividendos extraordinários e recompras de ações.
Segundo Renato Reis, analista da Blue3Research, nos últimos anos a empresa distribuiu em média 50% do seu lucro (payout). “A Vale depende muito do preço do minério de ferro. Se estiver próximo dos US$ 200 a tonelada, vai pagar muito provento. Mas se estiver abaixo de US$ 100 vai pagar menos”, aponta.
Para Reis, a Vale é uma empresa muito consolidada, que não tem muito espaço para crescer mais, e por esse motivo remunera bem os seus acionistas.