

O Certificado de Operações Estruturadas (COE) voltou ao radar dos investidores depois da briga entre a XP e a casa de análise americana Grizzly Research. Enquanto esse embate segue para a Justiça dos EUA, o brasileiro fica se perguntando sobre os reais riscos do produto financeiro.
Embora o COE seja frequentemente promovido como uma alternativa de investimento que combina características de renda fixa e renda variável, para os especialistas, há muitas desvantagens que podem torná-lo uma opção de investimento pouco atrativa.
Em alguns casos, o COE está levando investidores a procurar seus direitos na Justiça. “As pessoas mais prejudicadas são as que têm mais dinheiro investido. Acreditamos que esse tipo de investidor é mais focado na sua área de atuação e delega toda confiança a um especialista que, muitas vezes, é um mau profissional”, diz o advogado Rafael Mortari.
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Ele diz que os principais casos que chegaram à sua banca remetem à pandemia, quando os juros estavam baixos, e muitos desses produtos foram oferecidos com alavancagem, ou empréstimo colateral para fazer comprar o produto, o que teria gerado prejuízos que vão além do patrimônio investido.
Casos como estes, no entanto, são raros e extremos. Mas isso não quer dizer que as armadilhas não existam. Os COEs são complexos, têm baixa liquidez, ausência de garantia do FGC, oferecem potenciais conflitos de interesse e rentabilidade incerta. Veja a seguir como esses cinco problemas podem afetar o patrimônio do investidor:
O COE é um produto complexo
O COE é considerado complexo, principalmente para o pequeno investidor, porque é um produto estruturado, que combina ativos de renda fixa com derivativos de diferentes mercados como ações, moedas, índices ou commodities. “Isso exige conhecimento mais aprofundado para entender como funciona”, diz Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos.
Ele comenta que o retorno depende de cenários específicos previstos na estrutura da operação estruturada, o que pode confundir investidores sem experiência. “Em análise de mercado, a própria Comissão de Valores Mobiliários (CVM), em seu Guia de Orientação sobre COEs, classifica esse produto como investimento de complexidade elevada”, observa Patzlaff.
Para Jonas Carvalho, CEO da Hike capital, a complexidade leva à falta de transparência, tornando desafiador entender exatamente onde e como os recursos estão alocados. “Essa opacidade aumenta o risco de o investidor não estar plenamente ciente dos ativos subjacentes e dos riscos associados”, observa.
Baixa liquidez e resgate limitado
Carvalho observa que uma das principais críticas ao COE é sua baixa liquidez. Geralmente, o capital investido fica preso até a data de vencimento, que pode variar de dois a seis anos. Embora exista a possibilidade de venda no mercado secundário, essa opção é limitada e, frequentemente, implica em perdas significativas.
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“Quem quer sair do COE vai ao mercado secundário, mas o único comprador é o próprio banco que te vendeu o produto”, comenta Rafael Mortari, questionando se este tipo de situação poderia ser enquadrada, realmente, como mercado secundário, já que os critérios são definidos de forma “bastante singular” pelo próprio emissor. “Se o investidor quiser sair antes do vencimento, às vezes sai com 50% de deságio do valor investido.”
Risco de crédito sem proteção do FGC
Diferentemente de outros investimentos de renda fixa, os COEs não são cobertos pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC). Isso significa que, em caso de insolvência da instituição emissora, o investidor pode perder todo o capital investido. “Portanto, a segurança do investimento está diretamente ligada à solidez financeira do emissor, aumentando o risco de crédito”, diz Carvalho.
Remuneração elevada para instituições financeiras
O alto incentivo comercial associado aos COEs pode levar a conflito de interesses, em que o lucro da instituição é priorizado em detrimento dos objetivos financeiros do investidor. A situação pode levar a recomendações que não são a melhor opção para o cliente. “Alguns deles acabam comprando COEs sem entender os riscos reais, apenas pela confiança no gerente e pela promessa de ‘proteção de capital com ganho extra'”, observa Patzlaff.
Rentabilidade incerta e possíveis perdas reais
Embora a maioria dos COEs ofereçam proteção de capital, a garantia não leva em conta a inflação. “Estudos indicam que 9 em 10 COEs apresenta rentabilidade inferior ao a de títulos públicos, que representam um menor risco ao investidor”, diz Carvalho da Hike Capital.
Em outra palavras, se o cenário for desfavorável, o investidor de COE recebe apenas o valor principal de volta, sem rentabilidade e sem correção pela inflação. “O retorno potencial é condicionado a certos eventos ou indicadores de mercado, quando as condições não se concretizam, o investidor não tem a rentabilidade e, na prática, pode sair no prejuízo quando se considera a inflação ou o CDI”, comenta Patzlaff.