

A alta renda – público com investimentos entre R$ 300 mil e R$ 5 milhões – está no centro do debate esta semana: será uma das principais parcelas de contribuintes afetados pelo projeto de lei que isenta quem ganha até R$ 5 mil do Imposto de Renda. A proposta apresentada pelo governo federal na terça-feira (18) quer taxar em 10% quem possui uma renda mensal superior a R$ 50 mil, o equivalente a R$ 600 mil por ano, como forma de “pagar a conta”.
Na prática, a proposta do governo recai sobre o pagamento de dividendos de empresas, com algumas regras para evitar a tributação dupla sobre os rendimentos dos contribuintes. Explicamos melhor nesta outra reportagem. Rendas já isentas de IR previstas em lei, como os rendimentos da poupança e títulos e valores mobiliários, como as Letras de Crédito Imobiliário (LCIs) e do Agronegócio (LCAs), serão desconsideradas da base de cálculo do novo tributo.
A FMB Investimentos, que tem R$ 2,2 bilhões sob custódia, viu a preocupação aumentar entre os 3 mil clientes da alta renda que assessora. Mas destaca que ainda é preciso entender qual o texto final da proposta e se ele será aprovado no Congresso antes de discutir estratégias para minimizar o impacto nas carteiras. Como mostrou o Estadão, o projeto enfrenta resistência entre parlamentares de oposição, que prometem propor alterações na parte que tributa os mais ricos.
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“O receio existe para todo investidor que tem a perspectiva de ter de pagar mais imposto”, diz o CEO Fernando Bento. “Eventualmente, isso vai favorecer produtos isentos que ganham competitividade contra uma ação que paga dividendos. O investidor vê um produto que paga 10% e vai ser tributado contra outro que também paga 10%, mas é isento, e quer migrar.”
Essa não seria a primeira mudança de regras a beneficiar ativos isentos. Em 2024, as alterações na tributação de fundos exclusivos direcionou muito fluxo de capital para ativos de renda fixa que não possuem a cobrança de IR, como LCIs e LCAs, CRIs e CRAs, além de debêntures incentivadas. Por causa disso, o mercado de crédito privado viveu um verdadeiro boom nos primeiros meses do último ano, com recordes de captação.
Mas a proposta do IR não é o único fator que fará o investidor de alta renda aumentar a parcela de renda fixa isenta na carteira. Bento destaca que a janela ruim dos fundos multimercados, com retornos abaixo do CDI e o maior nível de resgates da história, levou a uma mudança nos portfólios. A classe de ativos que há cerca de três anos representava quase 30% da carteira dos clientes da FMB, hoje, “despencou”. “Investidores ainda estão muito avessos aos multimercados, porque entendia-se que o gestor teria habilidade de gerar alfa independentemente da tendência de mercado. E isso aconteceu muito pouco. Uma grande parte do dinheiro foi para crédito privado.”
Ele destaca que a estratégia teve um papel importante para que algumas carteiras, especialmente as conservadoras que não têm exposição à renda variável, conseguissem bater o CDI nos últimos meses. “Foi a classe que mais cresceu, mas não deve ser o dinheiro de liquidez do investidor”, afirma Bento.
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