

As bolsas de Nova York fecharam o pregão desta quinta-feira (27) em queda, com os investidores avaliando o impacto das novas tarifas de 25% sobre a importação de automóveis, anunciadas pelo presidente Donald Trump. As ações de montadoras, como General Motors e Ford, já refletiram os efeitos dessa medida, apresentando quedas significativas. O dólar também caiu, enquanto o bitcoin e os títulos de renda fixa de dívida pública do governo norte-americano (Treasuries) apresentaram ganhos.
O Dow Jones recuou 0,37%, aos 42.299,70 pontos. O S&P 500 caiu 0,33%, para 5.693,31 pontos, enquanto o Nasdaq teve queda de 0,53%, encerrando a 17.804,03 pontos. Os dados são preliminares.
As bolsas de Nova York iniciaram o pregão em queda, mas chegaram a reverter para positivo mais cedo, com ajuda de ativos ligados a consumo discricionário e consumo básico. No entanto, minutos depois, retomaram uma queda mais branda, sustentadas também pela revisão para cima do PIB americano.
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Os investidores estão preocupados com possíveis retaliações e o impacto dessas tarifas no custo dos veículos para os consumidores americanos, além de potenciais desafios para montadoras estrangeiras. Ao comentar sobre as tarifas, Trump minimizou os impactos no preço dos carros vendidos nos EUA. Segundo ele, as montadoras com fábricas no país ficariam “eletrizadas” e, em muitos casos, as tarifas recíprocas a um conjunto de países seriam menores do que as que parceiros comerciais impõem aos EUA há décadas.
Trump também ameaçou impor tarifas ainda maiores caso a União Europeia e o Canadá coordenem esforços para “prejudicar” a economia americana. “Impor tarifas de 25% sobre carros importados terá um impacto devastador sobre muitos de nossos parceiros comerciais próximos – Japão, Coreia, México, Canadá e Europa”, afirmou Wendy Cutler, ex-negociadora comercial dos EUA e atualmente vice-presidente do Asia Society Policy Institute. Em resposta, o primeiro-ministro do Canadá, Mark Carney, afirmou que os “EUA não são mais um parceiro confiável”.
Várias montadoras registraram quedas, com a General Motors recuando 7,36%, a Stellantis perdendo mais de 1% e a Ford caindo 3,88%. Por outro lado, a Tesla, de Elon Musk, fechou em alta de 0,39%, já que alguns analistas de Wall Street acreditam que a empresa pode se beneficiar dessas tarifas devido à sua produção doméstica.
A varejista de videogames Gamestop derreteu 22%, após ter saltado quase 12% no pregão anterior, em reação ao aval a plano de ampliação de investimentos em bitcoin. Os papéis do banco de investimento Jefferies caíram 9,9%, com resultados aquém do esperado pelo mercado.
Juros de longo prazo dos EUA têm alta
Os rendimentos dos títulos de longo prazo do Tesouro dos Estados Unidos chegaram ao fim da tarde, após a rodada de dados sobre a economia americana. Os mercados também estão digerindo o anúncio do presidente Donald Trump, que impôs tarifas de 25% sobre os veículos importados dos EUA.
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Por volta das 17h (horário de Brasília), juro da T-note de 2 anos caía a 3,994%. O rendimento do título de 10 anos avançava a 4,363%, enquanto a taxa do T-bond de 30 anos subia para 4,719%.
A taxa de 25% sobre veículos importados dos Estados Unidos, anunciada na quarta-feira, deve causar uma interrupção substancial nas cadeias de suprimento globais, somando-se ao impacto das tarifas que deverão ser anunciadas na próxima semana. Enquanto isso, os dados do Produto Interno Bruto (PIB) do quarto trimestre de 2024 e do mercado de trabalho dos EUA indicam que a economia segue resiliente.
Os títulos do Tesouro continuam sob pressão, com os rendimentos de 10 anos sendo negociados logo abaixo do pico local recém-estabelecido de 4,40%, observam os analistas da BMO Capital Markets, Vail Hartman e Ian Lyngen. A fraqueza recente tem sido muito mais pronunciada nas partes mais longas da curva, enquanto os rendimentos de curto prazo permaneceram relativamente contidos.
“Enquanto os rendimentos de 2 anos permanecem ancorados em 4,00%, o título de longo prazo sofreu uma queda de até 15 pontos-base, com os rendimentos começando a semana em 4,60% e alcançando até 4,75% nesta quinta-feira”, afirmam. O mercado de títulos da dívida americana já precificou amplamente o resfriamento iminente da economia dos EUA, observam em nota os analistas do Erste Group Research, que não esperam grandes mudanças nos rendimentos dos Treasuries.
Moedas globais: dólar se enfraquece
O dólar se enfraquece levemente ante outras moedas fortes no fim da tarde, revertendo parte dos ganhos de ontem, enquanto os investidores seguem atentos a qualquer informação sobre a política tarifária do governo Donald Trump.
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O índice DXY, que acompanha o desempenho do dólar frente a uma cesta de moedas fortes, recuou 0,20%, para 104,335 pontos. O dólar caía para 151,06 ienes, enquanto o euro subia para US$ 1,0799 e a libra esterlina subia a US$ 1,2955.
As tarifas dos EUA provavelmente fortalecerão o dólar no curto prazo, escrevem economistas do Bank of America. Até agora, o impacto delas tem sido misto, pois as preocupações com o crescimento econômico dos EUA compensam a menor demanda por importações e a maior inflação, avaliam. No entanto, “tarifas recíprocas generalizadas e retaliações podem desencadear um movimento global de aversão ao risco”, apoiando o dólar.
O euro deve se fortalecer em relação ao dólar neste ano e no próximo, devido aos planos do presidente Trump e às reformas históricas da União Europeia, dizem em nota os analistas do BofA. Eles afirmam que a combinação de tarifas e cortes nos gastos do governo promovida por Trump pode levar a um quadro de estagflação. Enquanto isso, a expansão fiscal da Alemanha e os planos de gastos com defesa da União Europeia representam uma mudança significativa para a economia da zona do euro.
Na América Latina, o peso mexicano ampliou queda ante o dólar americano depois que o Banco Central do México (Banxico) cortou a taxa básica de juros em 50 pontos-base, para 9% ao ano.
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Na Argentina, o dólar blue recuava, após o presidente da Argentina, Javier Milei, negar que o novo acordo com o Fundo Monetário Internacional (FMI) contemplaria desvalorização do peso argentino, segundo o jornal Ámbito Financiero. Perto das 17h27, o dólar blue cedia a 1.300 pesos argentinos, de acordo com a mesma publicação.
Bitcoin sobe
O bitcoin sobe enquanto os investidores assimilam comentários de Paul Atkins, indicado pelo presidente Donald Trump para assumir a Comissão de Valores Mobiliários americana (SEC, na sigla em inglês). Atkins sinalizou uma direção diferente para moedas digitais do que a vista nos últimos quatro anos. Mercado assimilava ainda o último anúncio de tarifas do presidente dos Estados Unidos. Donald Trump revelou uma tarifa de 25% sobre as importações de automóveis.
Por volta das 16h30 (horário de Brasília), o bitcoin avançava 1,01%, sendo cotado a US$ 87.294,00, enquanto o Ethereum subia 0,54%, a US$ 2.010,70, segundo dados da Binance. Hardman apontou que, devido ao alto nível de incerteza, os participantes do mercado podem estar aguardando mais evidências sobre o impacto das tarifas na atividade econômica e na inflação.
Atkins disse que sua “prioridade máxima” nessa função seria estabelecer uma nova estrutura para a regulamentação de criptomoedas. “Vi como a regulamentação ambígua e inexistente de ativos digitais cria incerteza no mercado e inibe a inovação”, disse Atkins na quinta-feira em sua declaração de abertura em sua audiência de confirmação perante um comitê do Senado.
Em relação às tarifas, os economistas Vincent Starmer e Bernd Weidensteiner, do Commerzbank Research, afirmaram que a economia global está à beira de uma guerra comercial prejudicial. Essas tarifas afetarão vários exportadores importantes, incluindo a União Europeia e sua maior economia, a Alemanha. A retórica do presidente Trump e de seus altos funcionários aponta para mais tarifas, especialmente se Bruxelas e outras capitais reagirem com tarifas retaliatórias sobre bens dos EUA.
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“Em última instância, as defesas protecionistas se tornarão ainda mais altas, e o risco de uma guerra tarifária aumentará. Se conseguirmos evitar a espiral de escalada descrita, poderemos evitar um golpe severo para a economia mundial”, escreveram Starmer e Weidensteiner.
*Com informações da Dow Jones Newswires