- Na última semana, Jair Bolsonaro questionou o aumento de preços dos combustíveis realizado pela Petrobras
- Bolsonaro ainda teceu críticas sobre a gestão do CEO da companhia, Roberto Castello Branco, e anunciou Joaquim Silva e Luna como o novo presidente da estatal
- Desde 2016, os preços praticados pela petroleira seguem a cotação internacional do petróleo e a variação do dólar
“Alguma coisa vai acontecer na Petrobras nos próximos dias. Tem que mudar alguma coisa, vai acontecer”. A frase dita pelo presidente Jair Bolsonaro em live realizada na última quinta-feira (18), reacendeu os temores do mercado financeiro em relação a uma possível nova interferência política na estatal e ditou o ritmo do pregão de sexta-feira (19). No fechamento do mercado, as ações PETR4 registraram queda de 7,92%, aos R$ 27,10.
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No mesmo dia, Bolsonaro teceu críticas sobre a gestão do CEO da companhia, Roberto Castello Branco, e anunciou a indicação do general Joaquim Silva e Luna, atual diretor da Itaipu Binacional, como novo presidente da empresa. O Conselho de Administração da Petrobras ainda precisa aprovar a troca.
Durante a sua transmissão semanal ao vivo pelo Facebook, o presidente questionou os aumentos recentes nos preços do diesel, considerados por ele como ‘excessivos’. Na sexta 19, a Petrobras subiu pela terceira vez o combustível, para R$ 2,58 por litro – no início do ano, a cotação média era de R$ 2,02. A gasolina também foi reajustada pela quarta vez, para R$ 2,48 por litro.
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Em um evento em Sertânia (PE), Bolsonaro voltou a falar sobre mudanças na companhia. “Anuncio que teremos mudança, sim, na Petrobrás. Jamais vamos interferir nessa grande empresa na sua política de preço, mas o povo não pode ser surpreendido com certos reajustes.”
Desde 2016, os preços praticados pela petroleira seguem a cotação internacional do petróleo e a variação do dólar. Portanto, não são determinados por Castello Branco. “Mais uma vez, o presidente Jair Bolsonaro perdeu uma boa oportunidade de ficar calado. Não vemos nenhum tipo de fundamento na fala dele”, explica Ilan Arbetman, analista da Ativa Investimentos.
Como medida para fazer baixar os preços, mas sem interferir diretamente na empresa, Bolsonaro anunciou também o fim do imposto federal no diesel e o gás de cozinha por dois meses, contados a partir de 1º de março. “Nesses dois meses, vamos estudar uma maneira definitiva de zerar esse imposto até para ajudar a contrabalancear esse aumento excessivo da Petrobras”, afirmou o presidente.
Tal insatisfação do presidente com o rumo dos preços de combustíveis tem um pano de fundo claro: os caminhoneiros. Mais sensíveis ao aumento do diesel, esses profissionais pressionam Bolsonaro a se posicionar quanto às altas recentes. No início de fevereiro, já ocorreram rumores de uma nova greve promovida pela categoria, que forma uma base eleitoral importante para o governo.
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“Intervir na política de preços da Petrobras é extremamente negativo, mas ameaçar o presidente de estatal é mais negativo ainda”, explica Juan Espínel, especialista em investimentos da Ivest Consultoria. “Outro ponto é que zerar impostos em um momento em que a arrecadação do Governo está sendo posta à prova, é também uma atitude preocupante. Pode ter um impacto bilionário nas contas públicas e afetar todo o ambiente de negócios do País.”
Arbetman também acha inefetivo o corte nos impostos. “É até difícil a cadeia fazer essa troca de preços, se o Presidente queria atacar a inflação, não é esse o caminho certo”, afirma o especialista. “E renunciar a R$ 3 bilhões, média apontada por estudos preliminares, justamente quando o mercado está pedindo medidas de maior austeridade, é uma mensagem extremamente ruim.”
O fantasma da ingerência política
A preocupação com uma nova interferência política na Petrobras vem de um trauma recente. O Governo Dilma Rousseff (1 de janeiro de 2011/31 de agosto de 2016) era acusado de segurar os preços praticados pela estatal, para evitar altas dos combustíveis. Só no final de 2016, já durante o Governo Michel Temer, que a companhia anunciou que os reajustes seguiriam de fato o mercado internacional.
De acordo com a Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a Petrobras teria perdido R$ 71,2 bilhões entre 2011 e 2014, com a defasagem de repasse dos preços praticados internacionalmente – e os investidores da estatal, consequentemente, também pagaram essa conta.
No início de fevereiro deste ano, inclusive, o mercado recebeu com certo receio a notícia de que a empresa havia alterado em junho do ano passado, de três meses para doze meses, a janela para reajuste dos preços em função dos valores praticados internacionalmente. Em tese, quanto maior o período para o cálculo, menor a transparência para os investidores.
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Naquele momento, a mudança levou algumas casas de investimentos, como a XP, a mudarem as recomendações para os papéis da estatal, de compra para neutro.
Momento é de cautela
Para os especialistas consultados pelo E-Investidor, os investidores devem aguardar o desenrolar das próximas ações do presidente Jair Bolsonaro antes de tomar alguma atitude. “Piorou mais o fato de tudo isso acontecer em uma sexta-feira, com dois dias de Bolsa fechada pela frente, sem saber o que vai acontecer. A reação dos investidores é vender para se proteger”, diz João Beck, economista e sócio da BRA.
No domingo (21), a XP Investimentos cortou a recomendação para os papéis de “neutro” para “venda”, em relatório sob o título “Não há mais como defender”. E não parou por aí. O BTG Pactual também rebaixou a recomendação para “neutra”, enquanto o Bradesco reduziu para “underperform”. O Credit Suisse baixou a recomendação para “underperform” e reduziu pela metade o preço-alvo para os papéis, de 16 para 8 reais, citando “muitas incertezas”.
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