

A guerra comercial iniciada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, reacendeu nesta segunda-feira (7) temores de uma recessão da economia global, trazendo nervosismo aos mercados. Enquanto as Bolsas na Ásia e na Europa fecharam o dia em queda, em Wall Street os índices de ações enfrentaram instabilidades. Já por aqui, o Ibovespa sentiu o peso das commodities e terminou no campo negativo.
No final da manhã, por volta das 11h20 (de Brasília), houve um certo alívio nas perdas do Dow Jones, S&P 500, Nasdaq e do Ibovespa, que chegaram a subir na esteira de notícias de que Trump estaria avaliando suspender por 90 dias as tarifas aplicadas a todos os países, exceto pela China. As falas foram atribuídas a Kevin Hassett, do Conselho Econômico Nacional dos EUA. Como a Casa Branca negou a informação, rapidamente as Bolsas voltaram a cair.
Nos EUA, os índices de ações oscilaram entre perdas e ganhos durante a tarde. Ao final do pregão, Nasdaq encerrou em alta de 0,10%, enquanto o Dow Jones perdeu 0,91% e o S&P 500 teve ligeira desvalorização de 0,23%.
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Já o Ibovespa fechou em queda de 1,31% aos 125.588,09 pontos. Entre as maiores quedas do índice estiveram as ações do Magazine Luiza (MGLU3) e da Petrobras (PETR3). O dólar à vista subiu 1,30% sobre a moeda brasileira, indo a R$ 5,9106. Vale lembrar que o câmbio já tinha dado um salto de 3,6% ante o real na última sexta (4), a maior alta diária desde novembro de 2022. Além dos temores de recessão, a queda das commodities no exterior também jogou contra moedas emergentes.
Segundo Renato Chanes, analista da Ágora Investimentos, a volatilidade deve continuar ditando o tom dos mercados conforme novos desdobramentos da guerra comercial forem sendo anunciados. Já em live realizada pelo Estadão, Thiago de Aragão, diretor de estratégia da Arko Advice e colunista do E-Investidor, explicou que, caso Trump recue em relação às tarifas propostas, os mercados podem se recuperar, mas o clima de incerteza deve se manter. “Isso mandaria um sinal de maior insegurança em cima do Trump. A capacidade de previsão do investidor na Bolsa se tornaria mínima”, disse.
Até havia certa expectativa de que, com as quedas no mercado americano, Donald Trump recuasse do tarifaço no fim de semana, o que não se confirmou. As ações americanas perderam US$ 5,4 trilhões em valor de mercado na última semana; desde a posse do republicano, em 20 de janeiro, as quedas já ultrapassam US$ 10 trilhões. “Não quebrei o mercado de propósito. Não quero que nada caia, mas, às vezes, é preciso tomar remédios para consertar alguma coisa”, disse Trump a repórteres no domingo (6).
Em publicação na rede Truth Social nesta segunda, o republicano afirmou que irá aplicar uma taxa adicional de 50% às importações chinesas, caso o país asiático não retire até terça-feira (08) as tarifas retaliatórias de 34% sobre produtos americanos. Trump também ressaltou que, caso a China não volte atrás, todas as negociações solicitadas pelo país aos EUA serão encerradas.
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Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, destaca que a deterioração da confiança e os riscos de estagflação, um cenário que combina inflação alta com baixo crescimento econômico, passaram a entrar no radar dos analistas. “Enquanto os protestos contra o governo norte-americano crescem, Trump segue prometendo uma ‘vitória histórica’, mesmo diante do desgaste econômico que a escalada tarifária pode impor ao próprio país”, diz.
“Termômetro do medo” dispara em Wall Street
O índice VIX, que mede a volatilidade do mercado e é conhecido como “termômetro do medo” em Wall Street, chegou a superar os 60 pontos hoje mais cedo, renovando seu maior nível desde agosto de 2024. Segundo dados do Wall Street Journal, o VIX encerrou pregões acima de 50 pontos só em duas ocasiões na história: na crise financeira de 2008 e no início da pandemia de covid-19, em 2020. O indicador fechou em alta de 3,69% aos 46,98 pontos.
As ações das “Sete Magníficas” – nome dado ao grupo formado pelas maiores empresas de tecnologia do mundo – terminaram mistas, após a derrocada iniciada na semana passada. Os papéis da Tesla (TSLA) recuaram 2,56%, enquanto Apple (AAPL) caiu 3,67% e Microsoft (MSFT) cedeu 0,55%. Por outro lado, Amazon (AMZN), Nvidia (NVDA), Meta (META) e Alphabet (GOOGL) registraram alta de 2,49%, 3,61%, 2,28% e 0,79%, respectivamente.
Circuit breaker nas bolsas asiáticas
Liderando as perdas na Ásia, o índice Hang Seng despencou 13,22% em Hong Kong, a 19.828,30 pontos, no maior tombo diário desde a crise financeira asiática de 1997, enquanto o Taiex caiu 9,70% em Taiwan, a 19.232,35 pontos. Na China continental, o Xangai Composto fechou em baixa de 7,34% hoje, a 3.096,58 pontos, amargando a maior queda em um único pregão desde fevereiro de 2020, enquanto o menos abrangente Shenzhen Composto recuou 10,79%, a 1.777,37 pontos.
Na sexta-feira (04), quando os mercados da China, de Hong Kong e de Taiwan não operaram devido a um feriado, Pequim anunciou tarifas de 34% a importações dos EUA, respondendo na mesma proporção ao tarifaço revelado pelo governo Trump dois dias antes.
O governo chinês está preparando “esforços extraordinários” para compensar os efeitos das tarifas de Washington, e o PBoC – banco central do país – poderá cortar taxas de juros a qualquer momento, se necessário, segundo o Diário do Povo, principal jornal do Partido Comunista da China. O Ministério do Comércio chinês, por sua vez, disse que conduziu uma reunião com executivos de empresas dos EUA, incluindo Tesla, GE Healthcare e Medtronic, neste domingo (06), e que seguirá dando apoio para companhias estrangeiras, mesmo as americanas.
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Em outras partes da Ásia, as perdas nesta segunda-feira (7) foram igualmente drásticas. O japonês Nikkei recuou 7,83% em Tóquio, a 31.136,58 pontos, acionando um circuit breaker; e o sul-coreano Kospi teve queda de 5,57% em Seul, a 2.328,20 pontos, com ambos os índices atingindo os menores níveis desde outubro de 2023. Na Oceania, a Bolsa australiana teve seu pior dia desde março de 2020, com queda de 4,23% do S&P/ASX 200 em Sydney, a 7.343,00 pontos.
Bolsas da Europa fecham em ‘modo pânico’
O temor do mercado também afetou as Bolsas na Europa, que encerraram em forte queda. O índice pan-europeu Stoxx 600 recuou 4,54%, a 473,82 pontos. Na semana passada, o índice sofreu perdas de 8,4%, a maior queda semanal em cinco anos. Na última década, o Stoxx 600 só apresentou desempenho pior no começo da pandemia de covid-19 em 2020.
A Bolsa de Londres (FTSE 100) caiu 4,38%, a de Paris (CAC 40) cedeu 4,78% e a de Frankfurt (DAX 30) desvalorizou 4,26%, após sofrer um tombo de mais de 10% na abertura do pregão. Já os índices de Milão (FTSE MIB), Madri (IBEX 35) e Lisboa (PSI) amargaram perdas de 5,18%, 5,12% e 5,63%, respectivamente.
Diante do foco na guerra comercial, os dados econômicos europeus positivos ficaram em segundo plano. Na zona do euro, as vendas no varejo subiram bem menos do que o esperado em fevereiro. Apenas na Alemanha, a produção industrial caiu mais do que o previsto no mesmo período.
Ouro encerra em queda em dia de forte volatilidade
Os preços do ouro também fecharam o dia em queda. O recuo do metal dourado, tradicionalmente visto como um ativo de proteção, reflete a recente onda de vendas, com investidores liquidando posições para cobrir prejuízos em outros mercados.
O contrato do ouro para junho cedeu 2,03%, fechando a US$ 2.973,6 por onça-troy na Comex, divisão de metais da New York Mercantile Exchange (Nymex). Apesar da queda, o metal ainda acumula alta de quase 11% no ano. Na última semana, porém, perdeu mais de 2% em meio ao caos gerado pelas tarifas de Trump.
Petróleo fecha em queda de 2% com guerra comercial
Os contratos futuros de petróleo fecharam o pregão desta segunda-feira em baixa, ampliando perdas de quase 10% acumuladas na última semana, em meio a temores de que a guerra comercial enfraqueça a demanda pela commodity.
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Na New York Mercantile Exchange (Nymex), o contrato de petróleo WTI para maio caiu 2,08%, fechando a US$ 60,70 o barril. O Brent para junho, negociado na Intercontinental Exchange (ICE), cedeu 2,08%, alcançando US$ 64,21 o barril. Em um pregão volátil, os contratos de petróleo bruto chegaram a subir mais de US$ 1,00 com rumores de que o governo Trump poderia suspender as tarifas recíprocas, mas voltaram a cair após a Casa Branca negar a informação.
*Com informações do Broadcast