

A Vale (VALE3) reportou resultados fracos, em linha com o esperado e nada cativantes para os analistas ouvidos pela reportagem nesta sexta-feira (25). Ontem, a empresa apresentou lucro líquido de US$ 1,394 bilhão no primeiro trimestre deste ano, queda de 17% ante igual período de 2024. Nesta sexta (25), as ações da Vale estão em queda de 2,39%, a R$ 53,99, às 14h40.
Para a Genial Investimentos, o lucro da Vale não foi cativante, mesmo que a empresa tenha apresentado ganhos de eficiência. Segundo os especialistas, a mineradora teve uma boa performance no custo caixa (C1), que ficou em US$ 21 por tonelada, queda de 10,4%. O número veio 6,2% abaixo do que era esperado pela Genial e atingiu o menor nível de custo para um primeiro trimestre desde 2022.
“Acreditamos que isso ajudou a sustentar a margem operacional, ainda que não tenha sido suficiente para evitar uma retração no lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) pró-forma, que somou US$ 3,2 bilhões, com queda de 22,0% na base trimestral e 6,8%na base anual”, dizem Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza, que assinam o relatório da Genial.
Bruno Benassi, analista de Ativos na Monte Bravo, diz que o ponto positivo do balanço da Vale fica com a boa performance operacional nos segmentos de Ferro e de Cobre. Ele estima que a mineradora brasileira deve seguir com a redução de custos nos próximos trimestres. Na operação do cobre, o especialista aponta que a companhia se beneficiou de aumento no volume produzido, reduzindo os custos fixos, e de maiores volumes e preços de subprodutos para apresentar melhores resultados.
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“Continuamos achando a performance da operação de níquel fraca, que continua entregando custos unitários acima de nossas projeções com um turnaround (reversão da tendência) mais demorado do que projetávamos. Achamos a geração de caixa livre fraca, com yield (retorno) abaixo dos 3%, impactada por maiores investimentos no trimestre e um aumento no capital de giro, esperávamos uma redução mais significativa nas contas a receber”, diz Benassi.
Humberto Aillon, especialista na Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), afirma que os números ficaram em linha com o esperado, com a empresa apresentando alguns pontos positivos, como as vendas com uma evolução modesta, o capex (investimentos) com uma leve redução e a empresa reiterando o guidance (projeções) de 2025. “Ainda assim, o resultado no geral foi o ponto negativo, com pressão sobre o crescimento da receita líquida, preço do minério do ferro e queda no lucro líquido” explica.
João Daronco, analista da Suno Research, aponta que o destaque do trimestre ficou com a parte de metais para transição energética, que apresentou um crescimento robusto no Ebitda ajustado, impulsionado principalmente pelo cobre, que praticamente dobrou seu resultado no trimestre quando comparado com o primeiro trimestre de 2024.
“A estrutura de capital segue saudável, gerando caixa no trimestre e mantendo seus investimentos. Em linhas gerais, entendo serem resultados bons, dado o cenário desafiador do minério de ferro. Cabe entender qual será o preço do minério de ferro para o restante do ano, principalmente caso ocorra uma desaceleração chinesa”, salienta Daronco.
Como a guerra comercial pode impactar a Vale em 2025?
A maioria das exportações da Vale são para a China. O gigante asiático enfrenta uma guerra tarifária com os Estados Unidos. Nos últimos dias, o governo americano tem mostrado interesse em reduzir as tarifas de 145% sobre os produtos chineses. O presidente do país, Donald Trump, disse que está disposto a fazer um “corte substancial” nas tarifas, embora tenha deixado claro que não tomará medidas unilaterais.
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Na quinta-feira (24), após o encerramento dos negócios nos mercados chineses, porta-vozes ministeriais negaram que a China esteja envolvida em discussões sobre tarifas com Washington.
João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, lembra que apesar desse contexto desafiador, o minério de ferro mantém-se negociado entre US$ 90 e US$ 100 por tonelada, um patamar de preços que ainda permite a rentabilidade das operações da Vale. “A China segue sendo o principal destino das exportações de minério de ferro da Vale, representando 48% das suas vendas neste trimestre, mesmo diante de um quadro de desaceleração econômica no país em meio à guerra comercial”, diz.
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Para a Genial Investimentos, caso de fato o acordo entre EUA-China se materialize, a queda das tarifas bilaterais tende a reaquecer a demanda chinesa por minério de ferro, pressionando estoques para baixo e elevando o preço da commodity, que fechou a US$ 99,40 por tonelada.
“A retomada das relações comerciais entre as duas maiores economias globais não apenas melhoraria o sentimento de mercado, mas também pode incentivar novos pacotes de estímulo na China, especialmente voltados à infraestrutura, construção residencial e indústria manufatureira — setores intensivos no consumo de aço e, consequentemente, minério de ferro”, explicam Igor Guedes, Luca Vello e Iago Souza.
Ainda assim, as taxas continuam valendo, o que pode desacelerar a economia chinesa. Bruno Benassi, da Monte Bravo, diz que a guerra comercial pode impactar a indústria chinesa, reduzindo a produção de aço e consequentemente a demanda por minério. “Dependendo do nível do impacto, podemos ver uma correção nos preços do minério de ferro, o que diminuiria a rentabilidade das operações da companhia e poderia atrasar o aumento de produção programado (estimativa de produzir entre 340–360 milhões de toneladas em 2026)”, argumenta.
Como ficam os dividendos da Vale?
Os analistas explicam que os dividendos da Vale devem seguir atrativos para o investidor. Abdouni, da Levante, estima que a companhia deve entregar cerca de US$ 4 bilhões em proventos nos próximos 12 meses, implicando em uma rentabilidade de 9% em dividendos. “Com uma previsão de preço do minério de ferro de US$ 90 por tonelada no longo prazo, mantemos uma visão positiva sobre o investimento nas ações da Vale, que continua a oferecer uma perspectiva de retorno interessante”, argumenta.
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A Genial Investimentos calcula que o dividend yield (rendimento em dividendos) deve ser de 8% nos próximos 12 meses. Eles comentam que a companhia está com um preço atrativo e está confiante na tese. A Genial tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 61,50 para o fim de 2025, uma possível alta de 11,19% na comparação com o fechamento de quinta-feira (24), quando a ação encerrou o pregão a R$ 55,31.
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A Monte Bravo estima que a companhia deve entregar entre R$ 4,40 e R$ 5 por ação VALE3 nos próximos 12 meses, implicando em um retorno entre 7,95% e 9,03% em relação ao preço do papel no fechamento de quinta-feira. A corretora tem recomendação de compra com preço-alvo de R$ 67,50, alta de 22% em relação ao último fechamento. “Nos níveis de preços atuais, imaginamos que carregar as ações da Vale deve ser um bom investimento, principalmente para quem tem um horizonte de longo prazo”, explica Bruno Benassi.
Já Humberto Aillon, da Fipecafi, diz que as incertezas sobre a companhia são grandes. Segundo ele, com base no contexto de continuidade da guerra comercial e pelo contexto de redução do crescimento já contratado na China, o melhor é o investidor ficar distante do papel, mesmo com a empresa podendo pagar entre 7,8% a 9,5% do seu valor de mercado em dividendos nos próximos 12 meses. A recomendação para a Vale (VALE3) é neutra, com preço-alvo de R$ 66,00, alta de 19,32% na comparação com o fechamento de quinta-feira (24).