Diversificação internacional é um pilar da gestão de fortunas na XP há tempos. (Foto: Adobe Stock)
Há cerca de um mês, a XP Investimentos passou a recomendar que todos os clientes, inclusive os menores, tenham ao menos 15% dos portfólios investidos em ativos no exterior. A estratégia de diversificação internacional busca proteger o patrimônio contra os riscos da economia brasileira e ampliar o acesso a oportunidades globais. Essa foi a primeira vez que a corretora assumiu esse call publicamente, mas, na gestão de fortunas da casa, isso já vem sendo regra há tempos.
Com R$ 55 bilhões em ativos sob gestão, a XP Advisory é o braço da corretora voltado à gestão de fundos exclusivos e administração de carteiras dos segmentos private, alta renda e unique. Por lá, cerca de 50% dos recursos do familly office ficam investidos em ativos fora do País.
Com esse perfil de cliente, a prioridade não é em escalar o patrimônio, como no varejo, mas protegê-lo. E se o objetivo é fazer com que os recursos sobrevivam por muitas gerações, a exposição ao dólar – ou a outras moedas fortes – é vista como uma das principais armaduras.
“Falamos muito de crise, mas o que destrói o valor das famílias é inflação“, diz Rogério Freitas, head de gestão da XP Advisory. “Ao longo do tempo, o real vai perdendo valor em relação ao dólar para compensar a ineficiência de produtividade com a economia americana, por exemplo. Então é bom economizar numa moeda forte.”
Ele explica que, para além da tradicional relação de risco e retorno, uma gestão eficiente de portfólio precisa incluir também a diversificação, que não é só setorial, mas inclui moedas, geografias e durations diferentes. A diferença da recomendação para alta renda e private em relação ao varejo, no entanto, é que esses segmentos possuem características específicas que exigem uma gestão mais personalizada das carteiras. Se uma família tem filhos estudando no exterior, por exemplo, ou se há empresas e negócios para a sucessão.
Por causa dessas particularidades, não há uma indicação única para o tamanho da alocação no exterior – como os 15% que a XP agora recomenda ao cliente de varejo. Mas ela precisa existir, sem distinções, em todos os portfólios.
Alocação estrutural, apesar do momento (e Trump)
A diversificação internacional é uma estratégia estrutural da construção da carteira. Isso significa que ela deve existir para além do cenário, momento macroeconômico ou patamar do dólar. “A gestão de patrimônio, que é multigeracional, não faz market timing. Se o mercado está animado ou desanimado, não interessa, porque estou olhando para o retorno de 10, 20 anos”, diz Freitas.
Em 2025, essa equação ganhou um novo fator. Desde que voltou à presidência dos Estados Unidos, em janeiro deste ano, Donald Trump jogou ainda mais volatilidade nos mercados de investimento globais. Os 100 primeiros dias de governo, completos no fim de abril, foram marcados por queda das bolsas americanas, enfraquecimento do dólar e até questionamentos sobre o fim do excepcionalismo americano. Estratégias de investimento que foram quase um consenso no mercado e que, por anos, entregaram retornos expressivos aos investidores.
Agora, muita gente passou a se perguntar se ainda faz sentido investir por lá; ao menos, por ora. “Temos discutido muito se o que está acontecendo é uma mudança estrutural ou apenas conjuntural. Mas uma companhia tem que ser boa e resiliente o suficiente para sobreviver até a uma gestão ruim. Não sabemos se toda a vantagem competitiva dos EUA ficou realmente para trás”, diz o head da XP Advisory.
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Na dúvida, a alocação mudou marginalmente, apenas ajustes pontuais na estratégia pensando em reduzir a “volatilidade Trump”. O time da XP acreditava que a nova gestão nos EUA implementaria primeiro a agenda de desregulamentação prometida em campanha. Depois, a fiscal e só por último a parte de tarifas. Quando viram que não era esse o plano do republicano, reduziram a exposição às Bolsas de NY, aumentando taticamente a posição em ações da Europa. O ouro também compôs a estratégia, como uma alternativa “sub ótima” para o momento de instabilidade do dólar.
O peso da renda fixa, especialmente ativos de duration mais curtos, também cresceu. Hoje, o portfólio offshore está 60% na classe e apenas 40% em renda variável. “A gente gosta de outras classes, alternativos, mas não é o momento de assumir riscos agora. No limite, simplifica. É a melhor coisa a se fazer”.
O que não pode entrar no portfólio de jeito nenhum? Ativos que exponham o investidor ao risco ruína – operações em que é possível perder todo o capital investido. A compra de um título de crédito privado emitido por uma empresa arriscada que pode não honrar os pagamentos, por exemplo.
“Volatilidade, dentro do mandato da política de investimento, não tem problema. Mas crédito muito apimentado, propostas muito rápidas, modismos de dinheiro fácil; tudo isso é preciso evitar”, diz Freitas.