“Espero entregar resultado no ano melhor do que o calculado no meio do guidance. Então, estamos bem tracionados. Vemos oportunidade de crescimento em linhas seguras. Já na carteira de crédito, especificamente, a gente deve caminhar para dentro da projeção ao longo do ano, mas vejo que estamos mais para banda cima do efetivamente para o meio do guidance”, afirma o executivo em entrevista coletiva com a imprensa.
Às 14h, as ações do Bradesco disparavam 16,64%, a R$ 15,20. Fecharam em alta de 15,6%, a R$ 15,08. O banco projeta para este ano uma margem financeira líquida de R$ 37 bilhões a R$ 41 bilhões e já entregou uma margem financeira de R$ 9,6 bilhões neste trimestre. A carteira de crédito expandida cresceu 12,9% entre o primeiro trimestre de 2024 e o primeiro trimestre de 2025, uma alta muito superior à carteira de crédito estimada para esse ano, que vai de 4% a 8%.
Os números do Bradesco no 1T25 surpreenderam os analistas do mercado financeiro pelo fato de o primeiro trimestre ser um período sazonalmente mais fraco. O Bradesco reportou uma rentabilidade, medida pelo retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) de 14,3%, crescimento de 3,8 pontos porcentuais na comparação com o mesmo período do ano passado.
O número marca um avanço do banco, que busca elevar a rentabilidade para cima do custo de capital. O custo de capital do banco é equivalente ao Certificado de Depósito Interbancário (CDI), que está em 14,65%, 0,1 ponto porcentual abaixo da atual Selic de 14,75%. Os bancos normalmente captam recursos via Certificados de Depósitos Bancários (CDB), que são atrelados ao CDI. Ou seja, o mercado espera que os bancos tenham rentabilidade acima do CDI, visto que ele é o custo que as empresas do setor financeiro possuem para captar dinheiro.
Questionado pelo E-Investidor sobre quando a companhia irá atingir uma rentabilidade (ROE) acima do custo de capital, o executivo disse que não tem uma previsão específica de data. “A gente tem expectativa, sim, de crescer o lucro líquido e aos poucos ir trazendo mais rentabilidade”, explica Noronha.
A equipe da Genial Investimentos diz que o desempenho acima das expectativas do balanço do Bradesco reforça a tendência de melhora gradual dos resultados. Os analistas comentam que a rentabilidade segue em trajetória ascendente, ainda que gradualmente. Eles lembram que o indicador acima do ponto médio estimado pela Genial, que era de 13,5%, com o novo número do ROE do 1º tri, o resultado do Bradesco ficou compatível com um lucro de R$ 22,2 bilhões em 2025.
“A administração mantém o discurso de melhora progressiva ao longo do ano, o que sugere que o banco pode estar caminhando para a faixa superior do intervalo projetado, cujo teto é de 15,9%, segundo nossas estimativas. Ou seja, acreditamos que a rentabilidade do Bradesco pode estar finalmente se aproximando do seu custo de capital — estimado em torno de 15% a 16% — em pelo menos um trimestre de 2025”, dizem Eduardo Nishio, Nina Mirazon e Luis Degaspari, que assinam o relatório da Genial.
Bradesco prevê cautela com cenário macroeconômico
O executivo comentou ainda que o banco está com um apetite de crédito moderado, respeitando o cenário macroeconômico que tende a ter uma desaceleração, especialmente no segundo semestre, devido aos juros elevados e às tensões globais. De modo geral, o presidente do banco prefere manter o guidance do ano, mesmo após números acima do esperado. Segundo ele, o melhor é manter o discurso de entregas graduais, de “step by step” em vez de elevar as expectativas do mercado. Essa cautela do banco é justamente para manter a inadimplência sob controle em um cenário arriscado.
Os analistas dizem que o banco fez um bom trabalho nesse sentido após as Provisões para Devedores Duvidosos (PDD), dinheiro separado para cobrir os calotes dos clientes, recuarem 2,2% em 12 meses e irem para R$ 7,6 bilhões no primeiro trimestre de 2025. A inadimplência acima de 90 dias recuou de 5% entre janeiro e março de 2024 para 4,1% entre janeiro e março de 2025.
A XP Investimentos salienta que, embora o banco transmita uma mensagem de cautela, priorizando o crescimento lucrativo em um ritmo mais lento, o Bradesco destacou neste trimestre que as receitas estão crescendo mais rápido do que as despesas. A corretora observa ainda que a carteira de crédito está se expandindo com segurança, resultando em taxas de inadimplência e custos de crédito controlados.
“O plano de transformação está sendo executado em um ritmo acelerado. Ficamos positivamente surpresos com a melhora significativa apresentada no primeiro trimestre do Bradesco. No entanto, por enquanto, mantemos nossa visão cautelosa, reiterando que o plano de reestruturação em andamento é bastante profundo e o ritmo de evolução dos resultados do banco provavelmente não seguirá uma trajetória linear”, explicam Bernardo Guttmann e Matheus Guimarães, que assinam o relatório da XP.
Já o Safra considera que o balanço do Bradesco do primeiro trimestre é positivo para as ações do banco, ao mostrar tendências positivas para a qualidade dos ativos e também para as receitas. O lucro da instituição ficou 8% acima do esperado pela casa, principalmente por uma margem financeira melhor que nas projeções.
“O Bradesco bateu nossas expectativas e as do mercado por uma margem ampla de 8%, principalmente devido aos desempenhos melhores que o esperado em seguros e na margem financeira”, afirma a equipe liderada pelo analista Daniel Vaz em relatório enviado a clientes.
Ainda de acordo com o banco, a qualidade de ativos do Bradesco veio “limpa”, mesmo quando descontados os impactos da adoção de novas regras contábeis. Com a resolução 4.966 do Conselho Monetário Nacional (CMN), os bancos tiveram de adotar o conceito de perda esperada, que torna as provisões mais difíceis de prever.
“Os resultados de hoje podem trazer uma confiança adicional no cumprimento dos guidances e levar a revisões positivas para os lucros por parte do mercado”, escrevem os profissionais do Safra.
O que fazer com as ações do Bradesco agora?
A equipe da Genial Investimentos estima que o Bradesco está atrativo para o investidor. Eles calculam que os dividendos do Bradesco devem entregar um retorno de 6,4% em 2025. A equipe afirma que, apesar do macroeconômico ainda desafiador, o valuation do Bradesco permanece atrativo. O banco negocia a 6,2 vezes o preço sobre o lucro.
Desse modo, a Genial tem recomendação de compra para a ação BBDC4 com preço-alvo de R$ 16,70 para o fim de 2025, alta de 28,07% na comparação com o fechamento de quarta-feira (7), quando a ação encerrou o pregão a R$ 13,04. A XP tem recomendação neutra para o Bradesco com preço-alvo de R$ 17,00 para o fim de 2025, alta de 30,36% em relação ao fechamento anterior.
A corretora segue a linha do executivo do banco e prefere ser mais conservadora ao esperar uma recuperação mais lenta do banco. Os especialistas calculam que os dividendos do Bradesco devem ficar em 7,5% do valor de mercado da empresa em 2025. Essa é a mesma estimativa de provento do banco calculada pelo BTG Pactual, de 7,5%.
Os analistas do BTG também possuem recomendação neutra para o Bradesco (BBDC4) com preço-alvo de R$ 14, avanço de 7,4% em relação ao último fechamento. “Apesar dos números do 1º trimestre mais fortes do que o esperado, o Bradesco decidiu manter sua projeção para 2025. Dessa forma, tirar conclusões precipitadas com base em um único trimestre pode ser equivocado — algo que vimos acontecer mais de uma vez nos últimos anos”, esclarecem Eduardo Rosman, Ricardo Buchpiguel e Thiago Paura, que assinam o relatório do BTG.