- Parece obvio afirmar que para ter sucesso na Bolsa basta que o investidor compre na baixa
- O que muitos deixam de contar é que dificilmente você conseguirá enxergar essas oportunidades quando elas passarem por você
O que você faria se 50% do seu patrimônio simplesmente desaparecesse? Investidores de longo prazo se depararão com esse dilema por algumas vezes durante sua trajetória na Bolsa de Valores. Uma das mais emblemáticas que tive a chance de acompanhar e que vale a pena ser contada ocorreu entre os anos de 2012 e 2013, um passado não muito distante.
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Distante suficiente, no entanto, para afirmarmos que o mercado tem sim memória curta. Como uma vez disse Warren Buffet, “o que aprendemos com a história é que as pessoas não aprendem com a história”. Parece obvio afirmar que para ter sucesso na Bolsa basta que o investidor compre na baixa. O que muitos deixam de contar é que dificilmente você conseguirá enxergar essas oportunidades quando elas passarem por você.
Provavelmente você se recorda da tempestade perfeita que começou a se formar sobre o país em meados de setembro de 2012. Na época Luiz Barsi tinha cerca de R$ 130 milhões de reais alocados em algumas poucas e boas ações do setor de energia. O ponta pé inicial da crise no segmento foi dado pela aprovação da MP 579, que em resumo obrigou as companhias elétricas a renovarem antecipadamente suas concessões por taxas 20% menores, em troca de uma indenização.
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O objetivo era obviamente fazer um agrado ao eleitor com uma conta de luz mais barata no fim do mês à base da canetada. Os custos dos insumos, por outro lado, estavam em franca trajetória de alta e não demorou para que o governo percebesse que não teria capacidade de subsidiar por muito mais tempo a tarifa e ressarcir as empresas.
Na época me recordo do pânico que tomava conta dos noticiários, as principais elétricas da carteira chegaram a cair mais de 60% em pouco menos de um ano. Meu pai não se desesperou com o tombo, ao contrário, voltou a comprar e em uma entrevista icônica ainda prometeu um beijo na boca da Dilma como forma de retribuição.
Um dos trechos menos polêmicos, mas não menos importantes dizia: “Realmente, o cenário piorou muito, e o maior problema é que ainda não dá para calcular o impacto que essa mudança de regras terá no caixa das companhias. Mas nenhum país vive sem energia elétrica e, depois da queda dos últimos meses, as ações ficaram cotadas à um preço muito interessante. É assim que se ganha dinheiro no mercado. ”
Importante notar que todas as recomendações de instituições relevantes do mercado naquele período optaram pela veemente venda dos ativos. Barsi assistiu seus R$ 130 milhões se transformarem em pouco mais de R$ 59 milhões ao final de 2013, mas também assistiu esse montante atingir R$ 427 milhões em 2021, além de responsável por aproximadamente 25% de todo seu fluxo recorrente em dividendos.
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Conseguem perceber semelhança com os acontecimentos dessa semana? (fazer o link sobre MP da CSLL dos bancos)
Onde quero chegar: talvez hoje estejamos vivendo exatamente um desses momentos de oportunidade que geralmente não conseguimos enxergar no curto prazo. A diferença é que no setor bancário a banda toca completamente diferente, há uma certa facilidade no repasse desse percalço “extra” que o aumento da CSLL (o segundo em dois anos) representará na lucratividade das instituições financeiras.
Portanto, se você é daqueles investidores que torcem para que o preço de uma boa ação pagadora de dividendos caia, prepare-se para dar um beijo em Bolsonaro. As oportunidades que o jacaré abocanhou nos últimos pregões foram comentadas com exclusividade aos nossos assinantes do AGF Prime. Bons aportes!