Para os analistas do Safra, os resultados da Petrobras no primeiro trimestre de 2025 ficaram em linha com estimativas. A petroleira reportou lucros antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda) ajustado recorrente de US$ 10,7 bilhões no primeiro trimestre de 2025, um aumento de 8% em relação ao trimestre anterior, impulsionado principalmente pelo segmento de Exploração e Produção, que reportou um crescimento de 11% no Ebitda ajustado recorrente.
Segundo eles, o crescimento no lucro da Petrobras (PETR3; PETR4)pode ser atribuído ao desempenho operacional mais forte e aos resultados financeiros líquidos positivos. “A maioria das diferenças em relação às nossas estimativas foi explicada pelos resultados financeiros melhores do que o esperado, parcialmente compensados por despesas tributárias acima do previsto”, dizem os analistas do Safra.
Na visão da Genial Investimentos, a empresa reportou números sólidos e razoavelmente em linha com as estimativas em Ebitda e lucro líquido acima das estimativas e do consenso do mercado financeiro devido ao impacto de variações cambiais nas despesas financeiras. A empresa apresentou geração de caixa livre recorrente (fluxo de caixa operacional menos investimentos) de R$ 26 bilhões.
Cenário do petróleo e investimentos preocupam analistas
Os analistas da Genial dizem que o rendimento do fluxo de caixa livre anualizado é de 24%, o que, segundo a Genial, é interessante, mas insustentável se considerado o petróleo do tipo Brent na casa dos US$ 65 a US$ 60 por barril até o final do ano. Os investimentos foram de US$ 4,0 bilhões ante US$ 3,0 bilhões no primeiro trimestre de 2024 e US$ 5,7 bilhões no quarto trimestre de 2024.
Ao anualizar o fluxo de investimentos apresentado no primeiro trimestre de 2025, os analistas calculam que eles alcancem US$ 16 bilhões no ano, ante guidance (projeção) de investimentos de US$ 18 bilhões para 2025 na totalidade. “É importante mencionar que esse foi um dos pontos de atenção em relação ao resultado passado, tendo em vista a pressão dos investimentos na geração de caixa da empresa e, consequentemente, no fluxo de dividendos daqui por diante”, dizem Vitor Sousa e Ricardo Bello, que assinam o relatório da Genial.
Os analistas do Citi dizem que o balanço da Petrobras no 1T25 foi positivo, apesar de ter vindo ligeiramente abaixo do esperado e sem surpresas. O banco espera reação positiva do mercado aos resultados dado o aumento trimestral nos dividendos ordinários.
A equipe do Citi explica que o avanço no resultado refletiu, principalmente, a maior produção de óleo e gás e preços estáveis do petróleo no período, com receitas líquidas totalizando R$ 123,1 bilhões, alta de 4,6% ante um ano. A dívida bruta atingiu US$ 64,5 bilhões, montante 7% maior em relação ao trimestre anterior, impulsionada pelo início da operação do FPSO Almirante Tamandaré, mas permanecendo abaixo do limite estabelecido na política de remuneração aos acionistas da estatal, observa o Citi.
Qual será o rendimento dos dividendos da Petrobras?
João Abdouni, analista da Levante Inside Corp, diz que a Petrobras encerrou mais um trimestre com forte rentabilidade, apoiada pelo preço médio do barril de petróleo Brent, que ficou em torno de US$ 75 no período. No entanto, ele relata que o cenário para o segundo trimestre tende a ser mais desafiador, com o Brent sendo atualmente negociado na faixa de US$ 65 por barril — o que pode pressionar margens e resultados futuros.
“Apesar disso, a companhia deve continuar figurando entre as principais pagadoras de dividendos da Bolsa brasileira, com estimativas de retorno via proventos entre 10% e 15% nos próximos 12 meses. De forma geral, mantemos uma visão positiva para as ações da Petrobras, especialmente diante de seus fundamentos sólidos, geração robusta de caixa e valuation (valor do ativo) atrativo”, diz Abdouni.
Luciana Maia Campos Machado, professora de Finanças da Fundação Instituto de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi), também estima que os dividendos da Petrobras devem alcançar rendimento (dividend yield) entre 10% e 15%, mesmo em um ambiente de petróleo mais barato. “A empresa já aprovou R$ 11,7 bilhões em dividendos referentes ao trimestre, o que mostra que a política de remuneração permanece ativa. Se o fluxo de caixa livre continuar acima de R$ 20 bilhões por trimestre, como foi agora, esse patamar de yield tende a se manter, atraindo principalmente investidores em busca de renda”, afirma Machado.
A Genial Investimentos não está tão otimista. Eles apontam que rendimento em dividendos do trimestre foi de 2,9%, representando um rendimento de 11,4% em termos anualizados. “Isso naturalmente não deve acontecer caso os preços do Brent permaneçam no patamar atual (US$ 60 entre 65 por barril). Sendo assim, apesar dos resultados sólidos, somos céticos quanto a uma resposta positiva do mercado à tese da empresa como um todo, tendo em vista o cenário de preços do Brent pressionando e maiores investimentos”, dizem Vitor Sousa e Ricardo Bello, que assinam o relatório da Genial.
Vale a pena comprar ações da Petrobras agora? Veja os preços-alvo e as recomendações
Embora os dividendos chamem a atenção dos analistas, nem todos recomendam comprar a ação PETR4 agora. A Genial Investimentos tem recomendação de manter, que é equivalente à neutra. O preço-alvo fica em R$ 48,00, uma alta de 50,71% na comparação com o fechamento de segunda-feira (12), quando a ação encerrou o pregão a R$ 31,85.
Os analistas do Citi dizem que a tendência de aumento do investimento em capital (em linha com o plano estratégico da empresa) combinada com a queda dos preços do petróleo à frente pode levar a uma revisão da projeção de dividendos para baixo, corroborando para a recomendação neutra do banco para a estatal. O Citi tem preço-alvo de US$ 12,50 para as American Depositary Receipts (ADRs, recibos que permitem comprar nos EUA ações de empresas não americanas) da Petrobras, representando um potencial de alta de 3,6% ante o fechamento dos papéis no pregão de ontem.
A Ativa Investimentos também tem recomendação neutra, com preço-alvo de R$ 44,00, alta de 39,0% em relação ao último fechamento. Eles dizem que apesar da resiliência operacional demonstrada, a recomendação se justifica diante de um panorama setorial mais desafiador para o petróleo e uma relação risco-retorno do papel que consideramos menos atrativa frente a outras oportunidades no setor.
A única a recomendar compra para a Petrobras é a professora da Fipecafi. Segundo Machado, o papel segue negociando com múltiplos atraentes, e os fundamentos operacionais sustentam uma visão positiva. Considerando os dados mais recentes, um preço-alvo de R$ 46 para os próximos 12 meses parece justo, ficando alinhado ao intervalo das projeções de mercado, que hoje variam entre R$ 35,60 e R$ 48,50. “O potencial de valorização, somado ao robusto pagamento de dividendos, coloca a Petrobras como uma das blue chips (empresas consolidadas com grande liquidez) interessantes para investimento na Bolsa de Valores agora”, diz.