No mês de maio, a desvalorização de BBSA3 foi mais significativa do que a de BBSE3: de 22,95%. Em junho a baixa das ações do BB é de 6,09%, enquanto as do BB Seguridade recuam 5,28%. Os papéis do banco passaram a acumular perdas desde a publicação dos resultados do primeiro trimestre, quando a empresa reportou um lucro líquido ajustado de R$ 7,374 bilhões, uma queda de 20,7% em relação ao mesmo período de 2024. Com o desempenho abaixo do esperado, diferentes bancos e corretoras cortaram a recomendação das ações do BB de compra para neutra.
“A revisão por parte dos analistas e a substituição dos papéis do Banco do Brasil nas carteiras das corretoras reflete a expectativa de uma redução nos lucros da companhia, motivada pelo aumento da provisão para devedores duvidosos (PDD), especialmente na carteira de agronegócio”, explica João Abdouni, analista da Levante Inside Corp.
O chamado PDD representa o dinheiro destinado para cobrir a falta de pagamento dos clientes. O indicador do BB ficou em R$ 10,15 bilhões no primeiro trimestre de 2025, alta de 18,9% na comparação com o mesmo intervalo de 2024.
A companhia gerida por Tarciana Medeiros também viu sua inadimplência acima de 90 dias chegar a 3,9%, alta de 1 ponto porcentual na comparação com os 2,9% de igual período do ano anterior. Outro ponto que levantou preocupações foi o avanço de 1,85 ponto percentual na inadimplência em sua carteira de crédito do setor rural, de 1,19% no primeiro trimestre de 2024 para 3,04% no primeiro trimestre de 2025.
Analistas consultados pelo E-Investidor enxergam que as preocupações com o Banco do Brasil podem, sim, estar mexendo com as ações BBSE3. De acordo com Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos, embora BB Seguridade seja uma holding independente, parte relevante do desempenho da empresa está correlacionada ao banco.
“BB Seguridade depende dos canais de distribuição do Banco do Brasil, agências, correspondentes bancários e relacionamento com clientes pessoa física (PF) e pessoa jurídica (PJ). Se há uma piora nas expectativas para o BB, como o aumento da inadimplência ou menor apetite por crédito, isso pode sinalizar, indiretamente, pressões para BBSE3“, afirma Jeff Patzlaff.
Devido a essa dependência da distribuição via BB, Victor Nishioka, analista de bancos da Ativa Investimentos, entende que a queda das ações do Banco do Brasil gera um efeito em cadeia sobre o BB Seguridade. “A combinação de resultado fraco, pressão no setor agro e incertezas sobre o curto prazo explica bem esse movimento mais negativo da ação”, afirma.
Um fator macroeconômico também ajuda a justificar a queda recente de BBSE3. Em maio, o Comitê de Política Monetária (Copom) elevou a Selic em 0,5 ponto percentual para o patamar de 14,75% ao ano, o maior nível desde agosto de 2006. A taxa básica de juros brasileira em um nível alto encarece o crédito e desestimula o consumo. “Isso impacta negativamente a demanda por seguros, previdência e capitalização, áreas-chave do BB Seguridade, e com a atividade econômica enfraquecida, o volume de prêmios emitidos pode desacelerar”, explica Patzlaff.
Balanço do BB Seguridade desagrada mercado
A companhia registrou lucro líquido de R$ 1,995 bilhão nos três primeiros meses deste ano, uma alta de 8,3% em relação ao mesmo período do ano passado, mas 6,1% abaixo do esperado pela pesquisa Prévias Broadcast. Analistas do mercado financeiro consideraram os resultados negativos e sinalizaram que os números reportados pela concorrente Caixa Seguridade (CXSE3) vieram melhores. Veja os detalhes nesta reportagem.
Uma das principais razões para a frustração no lucro está relacionada ao desempenho mais fraco na Brasilseg, a seguradora do grupo. Os prêmios de seguros emitidos recuaram 6% na comparação anual, pressionados pelos segmentos de seguro prestamista, rural e de vida. Além disso, a sinistralidade atingiu 26,1%, principalmente devido à deterioração no segmento de agronegócio, associada aos efeitos da seca na região Sul.
De acordo com Daniel Nogueira, coordenador de distribuição da InvestSmart XP, a queda dos papéis do BB Seguridade nos últimos 30 dias é reflexo direto do resultado fraco no primeiro trimestre. “Apesar dos dividendos pagos e do dividend yield (rendimento de dividendos) projetado seguirem atrativos, uma análise mais macro e fundamentalista exige cautela com BBSE3. O resultado do primeiro trimestre acendeu diversos alertas, como a queda nos prêmios e a piora na sinistralidade, e será fundamental observar sinais claros de reversão desses pontos”, ressalta.
BBSE3 ainda é atrativo para dividendos?
Mesmo diante das incertezas do mercado em relação à empresa, analistas concordam que os papéis seguem atrativos para uma estratégia de dividendos. Nishioka, da Ativa Investimentos, acredita que a companhia ainda pode oferecer um dividend yield vantajoso, especialmente considerando o preço atual das ações.
“Procuramos consistência nos pagamentos e a BB Seguridade segue entregando. Mesmo diante das incertezas do mercado, as características que sustentam o papel como um bom pagador de proventos continuam válidas: geração de caixa elevada, baixa necessidade de reinvestimento e política de payout (porcentagem do lucro distribuída em dividendos) robusta, historicamente entre 85% e 90%”, ressalta o analista.
Segundo os cálculos de Nicole Malka, especialista em investimentos e sócia da The Hill Capital, a empresa costuma pagar em torno de 10% de dividend yield anual. “Essa é uma taxa bem atrativa para o cliente, que acaba servindo de amortecedor e deve proteger o papel de quedas mais acentuadas, porém o potencial de valorização agora parece mais limitado”, afirma.
Quando se trata de perspectivas para dividendos, na comparação com o Banco do Brasil, BBSE3 é considerada uma escolha apropriada para investidores com perfis mais conservadores, que priorizam regularidade maior. Já aqueles que aceitam mais risco em troca de uma valorização potencialmente maior das ações, BBAS3 oferece um pacote mais completo, embora com maior volatilidade e risco político.
Malka enxerga que BB Seguridade oferece um retorno maior em dividendos do que Banco do Brasil. “Além disso, a empresa é mais defensiva, com resultados mais estáveis, e o setor de seguros é menos afetado do que o bancário em um cenário de taxas de juros elevadas. Por outro lado, BBAS3 está bem mais descontada e tem mais oportunidades de crescimento, o que pode levar a uma valorização das ações em um tempo mais curto”, comenta.