Fundos de crédito estruturado são voltados para investidores qualificados. Foto: AdobeStock
Os fundos de investimento que aplicam em títulos de crédito privado, como debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários e do Agronegócio (CRIs e CRAs), contas a receber e outras estruturas financeiras estão entre os campeões de rentabilidade em 2025, batendo de longe o CDI e o Ibovespa acumulados no ano, na casa dos 5,2% e 13,5% respectivamente.
Um levantamento da Economatica, feito a pedido do E-Investidor, aponta o ranking de fundos alocados em crédito privado. Entre aqueles que investem em debêntures e CRI-CRA, o Polo Endurance FI Mult, da gestora Polo Capital, registra uma alta de 110% no ano, por exemplo. Esses são veículos de investimentos alocados em operações de crédito estruturado, com alta exposição a risco de inadimplência e, por isso, detêm títulos que superam com folga o retorno do CDI.
Por essa razão, geralmente são voltados para investidores qualificados, aqueles com maior patrimônio e acesso a orientação especializada, que estão dispostos a correr um risco superior. “Esse tipo de fundo exige um olhar mais atento. Eles têm riscos maiores e liquidez mais baixa, por isso não funcionam para qualquer tipo de investidor”, alerta Pedro Vendramini, CEO da One Wealth.
Dos 769 fundos listados pela Economatica, 317 renderam menos que o CDI em 2025 (5,55%) e, desses, 89 estão com performance negativa (veja lista abaixo).
É válido salientar que não existe uma marcação para fundo de investimento em crédito estruturado na base de dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima).
Mudanças fiscais a caminho
O desempenho deste tipo de estrutura de investimento, no entanto, está prestes a passar por um novo teste de estresse. Como alternativa ao decreto do IOF editado no final de maio, o governo federal editou uma medida provisória que propõe a cobrança de 5% de Imposto de Renda sobre os rendimentos de produtos hoje isentos, como FIIs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas.
Todos fazem parte do universo de interesse desses fundos. Caso aprovada, a MP deve passar a valer a partir de 2026 e pode reduzir parte da atratividade desses fundos, sobretudo para pessoas físicas.
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Segundo o executivo da One Wealth, os fundos de crédito estruturado têm espaço nas carteiras de alta renda, dentro da parcela destinada a investimentos alternativos. Mas a variedade de estratégias exige diligência. Esses veículos abrangem desde operações com crédito consignado até recebíveis pulverizados adquiridos de fintechs.
Por isso, é essencial entender quais ativos estão na carteira, como ocorre com o pagamento das dívidas, e se há proteção adicional, a exemplo de cotas subordinadas. “É sempre importante entender no detalhe como o dinheiro retorna para o fundo e quais são as variáveis de risco daquelas operações”, diz Vendramini.
Baixa liquidez
Outro ponto importante é que esses produtos costumam ter liquidez restrita e prazos longos. “Não são fundos indicados a quem precisa do dinheiro em curto prazo. Em muitos casos, a liquidez é D+180 ou D+360, e o resgate depende do vencimento dos recebíveis”, diz Vendramini. Além disso, os riscos são mais complexos do que nos fundos DI ou CDBs. Em troca, a rentabilidade é potencialmente maior, podendo passar de CDI+5%.
Um exemplo dessa sofisticada engenharia financeira é o fundo Pátria Crédito Estruturado 365 FIC FIM, que completou dois anos com retorno anualizado de CDI+4,8% bruto (ou CDI+3,7% líquido).
Apesar do alto retorno, a estratégia do fundo passa por investir em ativos de maior qualidade. Segundo Alexandre Coutinho, sócio responsável pela área de crédito do Pátria Investimentos, mais de 80% da carteira tem classificação de risco por agências internacionais, muitas vezes com rating AA ou AAA, o que reduz o risco de crédito. “Nosso foco são empresas com histórico sólido e baixa alavancagem. Preferimos setores essenciais como logística, saúde e educação, e evitamos consumo discricionário”, afirma o executivo.
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Voltado exclusivamente para investidores qualificados, o fundo tem aplicação mínima de R$ 500 e liquidez de um ano. “Criamos esse fundo para levar ao investidor pessoa física a mesma qualidade que já oferecíamos aos institucionais. Porém, fizemos vários stress tests de risco de cauda e optamos por um prazo maior para garantir a liquidez da carteira, que tem ativos menos líquidos”, explica Coutinho.
Para ele, o cenário atual de CDI elevado torna ainda mais interessante a seleção de bons emissores. “Com juros a 15%, empresas alavancadas sofrem. Muitos fundos estão migrando para ativos mais líquidos, o que abre espaço para especialistas em crédito estruturado como nós. Ainda assim, mantemos disciplina. De cada 100 operações analisadas, só cinco são aprovadas.”
Na avaliação dos especialistas, portanto, investir nesse tipo de fundo exige plena compreensão dos riscos envolvidos, dos cenários em que a rentabilidade pode não se concretizar e dos eventos que podem resultar em perdas. Sempre que a operação parecer excessivamente complexa ou gerar dúvidas quanto à segurança, o mais prudente é não seguir com a aplicação e buscar ajuda profissional. Afinal, a busca por retornos mais altos só se justifica quando o investidor está ciente, de forma clara, do nível de risco que está disposto a assumir.