O direito de subscrição existe quando uma companhia decide colocar mais ações à venda na Bolsa de Valores. Nesse caso, ela é obrigada a dar preferência de compra dessas novas ações aos seus atuais investidores. A ideia é garantir que os acionistas tenham a opção de manter o mesmo nível de participação na companhia.
A Gol precisou realizar esse processo como parte do seu plano de reestruturação. A empresa recebeu um aumento de capital de R$ 12 bilhões, que envolveu a emissão de 8,1 trilhões de ações ordinárias (a R$ 0,00029 por ação) e 968 bilhões de ações preferenciais (a R$ 0,01 por ação).
Toda vez que uma empresa faz um aumento de capital, automaticamente os investidores perdem participação na companhia – por isso a importância do direito de subscrição. No caso da Gol, a diluição acionária deve ser de 99,8%. Ou seja, caso um investidor detivesse 100% da companhia aérea, passaria a ter apenas 0,2%.
Para cada ação GOLL4 antiga, o acionista da empresa aérea tem o direito de comprar 2.861 ações novas por R$ 0,01. Após a reestruturação, um investidor com 1 mil ações, por exemplo, recebeu 2.861.000 direitos de subscrição, que estão representados pelo ticker GOLL2.
Esses acionistas contam com três possibilidades até julho. Uma delas seria exercer os direitos de subscrição, isto é, comprar as ações por R$ 0,01. “Essa opção faz sentido se o investidor acredita que a Gol vai se recuperar no longo prazo e que os papéis a R$ 0,01 estão baratos em relação ao valor projetado para o futuro”, diz Daniel Nogueira, coordenador de distribuição da InvestSmart XP.
Outra alternativa é vender os direitos, opção recomendada para quem não quer se expor ao risco elevado da empresa. Vale destacar que os papéis GOLL2 são negociados na Bolsa, então podem gerar um retorno imediato, ainda que pequeno, ao investidor.
Agora se o acionista não fizer nada, os direitos de subscrição expiram após 14 de julho. “Nesse caso, a participação do investidor será diluída, ficando praticamente sem relevância na estrutura societária da Gol”, ressalta Nogueira.
Vale exercer os direitos ou vender?
Welliam Wang, gestor de fundos de ações da AZ Quest, vê uma oportunidade de “almoço grátis” por meio da arbitragem, estratégia que consiste em comprar uma mesma ação quando está mais barata e vendê-la simultaneamente quando ficar mais cara, aproveitando a diferença de preços para conseguir lucro. “Você compra a GOLL2 por alguns centavos e depois pode vender a GOLL54 a mercado por R$ 200 no preço de tela”, diz. “O investidor precisa saber que tem esse direito de subscrição.”
Para Jeff Patzlaff, planejador financeiro CFP e especialista em investimentos, a decisão entre exercer ou não esse direito precisa considerar o perfil do investidor, a análise da situação financeira da Gol e a expectativa futura de valorização das ações. “É necessário ponderar que a Gol ainda enfrenta um elevado nível de endividamento, custos em dólar e margens pressionadas por conta do cenário macroeconômico e cambial, mesmo com alguma melhora recente no preço do petróleo e no câmbio”, destaca.
Na avaliação do planejador, a subscrição pode representar uma oportunidade para quem acredita na recuperação da companhia, mas envolve risco elevado, especialmente no curto e médio prazo.
Danielle Lopes, sócia e analista da Nord Investimentos, concorda que, do ponto de vista dos fundamentos, o setor aéreo é cíclico e altamente sensível ao câmbio e à atividade econômica. “Além disso, enfrenta custos fixos cada vez mais elevados e uma concorrência intensa. Não é um segmento que, olhando no longo prazo, mostre sustentabilidade”, diz.
A recomendação da Nord é ficar de fora das ações da Gol. Para quem tem direito de subscrição, a orientação é vender esses direitos no mercado. “Eu venderia. Nesse caso, o investidor não consegue um super ganho de capital, mas é melhor do que se arriscar ou deixar os direitos irem a zero”, explica.
Entre as grandes casas do mercado, o BTG Pactual também recomenda venda para Gol. O banco destaca que, mesmo após a reestruturação, a alavancagem da empresa permanecerá elevada, em 5,4 vezes, considerando a medição realizada pela relação do valor da companhia (EV) sobre o lucro antes dos juros, tributos, depreciação e amortização (Ebitda).
A Ágora Investimentos e o Bradesco BBI são outros que mantêm recomendação de venda, levando em conta a diluição acionária significativa na companhia. Já XP Investimentos, Genial Investimentos, Santander e BB Investimentos não têm mais cobertura para Gol. O Itaú BBA, por sua vez, está com análise restrita para a empresa, sem produção de relatórios.
As ações da Gol podem cair mais?
Como parte do processo de aumento de capital, a Gol estreou um ticker na Bolsa em 12 de junho – GOLL54 para as ações preferenciais –, além de ter passado a operar em lotes padrão de 1 mil ações. No pregão de início do novo modelo, os papéis dispararam 1886%, mas a alta é “artificial”.
A explicação está no novo lote de negociação. Para calcular o valor unitário da ação, o investidor agora deve dividir o preço de tela por 1 mil. Ou seja, se GOLL54 aparecer cotada a R$ 230, como acontece atualmente, o valor real por ação é de R$ 0,23.
Ao realizar esse cálculo, o investidor consegue perceber que, na verdade, o papel caiu desde 11 de junho, quando ainda era negociado como GOLL4. Na data, ele fechou o dia a R$ 0,79. De lá para cá, o tombo foi de 70,89%.
O BTG acredita que a cotação dos papéis deve cair mais, convergindo para o valor justo dos ativos, com base nos fundamentos da empresa. Para o banco, existe uma distorção no momento, com a Gol sendo avaliada num patamar mais alto do que deveria. “Algo claramente está fora do lugar. Acreditamos que isso se deve, principalmente, ao volume muito baixo de negociação das ações da Gol, o que tem impedido o mercado de fazer uma avaliação adequada da companhia”, destaca o banco em relatório.
Wang, da AZ Quest, compartilha a mesma visão. Segundo o especialista, as ações da Gol têm apresentado um comportamento atípico, desvinculado dos fundamentos da empresa. “Acredito que isso acontece por causa da baixa liquidez e também porque muitos investidores pessoa física não entendem exatamente o que é o direito de subscrição”, afirma.