O Oriente Médio voltou ao centro das preocupações econômicas globais com força total. O ataque cirúrgico conduzido pelos Estados Unidos contra instalações nucleares iranianas reacendeu temores não apenas militares, mas profundamente financeiros. A resposta imediata do Parlamento iraniano, autorizando o possível fechamento do Estreito de Ormuz, acendeu um sinal de alerta em todas as bolsas de commodities do planeta. Ainda que a decisão final dependa do Conselho Supremo de Segurança Nacional do Irã, os impactos econômicos já começaram a se materializar: o preço do barril de Brent ultrapassou os 103 dólares, os prêmios de seguro marítimo triplicaram em questão de horas, e os contratos futuros de energia explodiram em volume de negociação.
O Estreito de Ormuz é, mais do que nunca, um ponto nevrálgico da segurança energética global. Cerca de 20% de todo o petróleo mundial passa por esse corredor de apenas 33 quilômetros de largura, entre as costas do Irã e de Omã. Um bloqueio, ainda que parcial ou simbólico, representa um choque direto nas cadeias logísticas que abastecem as maiores economias do mundo. Países como Índia, Japão e Coreia do Sul dependem pesadamente desse fluxo para manter suas refinarias ativas. Do outro lado, produtores como Kuwait, Iraque e Catar não possuem alternativas logísticas significativas fora de Ormuz, o que os deixa completamente vulneráveis a uma decisão iraniana.
Mas os desdobramentos econômicos vão muito além da bomba no barril de petróleo. A movimentação iraniana gerou uma oportunidade geoeconômica clara para dois atores globais: Rússia e China. Moscou, com suas receitas fortemente ancoradas na exportação de energia, lucra diretamente com qualquer aumento expressivo no preço do petróleo. Para o Kremlin, o conflito no Golfo representa um vento de cauda para sua economia combalida pelas sanções ocidentais. Publicamente, o governo russo condenou a ação americana e sugeriu ampliar a cooperação militar com Teerã, inclusive oferecendo mais sistemas antiaéreos. Mas, nos bastidores, observa com cautela e interesse a elevação dos preços internacionais da energia.
Já a China se encontra numa posição delicada e estratégica. De um lado, é a maior compradora de petróleo iraniano — boa parte transportado clandestinamente, com desconto, como forma de driblar as sanções. De outro, Pequim precisa garantir estabilidade no Golfo Pérsico para manter o abastecimento de energia da sua gigantesca estrutura industrial. Diante disso, a diplomacia chinesa provavelmente atuará de forma silenciosa, mas intensa, buscando conter os impulsos mais agressivos do regime iraniano. Xi Jinping pode oferecer incentivos econômicos de curto prazo, como linhas de crédito emergenciais, ou reforçar acordos energéticos bilaterais em troca de moderação no Estreito de Ormuz.
Além disso, há um movimento mais sutil e revelador: a China deve reforçar a presença de suas patrulhas navais no Golfo e ao longo das rotas críticas que abastecem seus portos. Não se trata de declarar apoio militar ao Irã, mas sim de proteger seus próprios interesses comerciais — algo cada vez mais presente na doutrina marítima da República Popular. Pequim quer evitar que uma escalada descontrolada comprometa seus estoques de petróleo ou pressione os custos logísticos de sua cadeia industrial global.
As consequências econômicas de um fechamento efetivo do Estreito seriam severas. Um bloqueio de sete a dez dias seria suficiente para fazer o barril ultrapassar os 130 dólares, pressionando os bancos centrais do Ocidente justamente em um momento em que muitos países ensaiavam uma flexibilização monetária. Um choque de energia repentino pode reacender a inflação global, desacelerar a recuperação econômica europeia e aprofundar as tensões comerciais entre blocos. Além disso, a própria China — embora protegida por contratos diretos com o Irã e com reservas robustas — veria sua estabilidade energética colocada em risco, motivo pelo qual seu envolvimento diplomático será constante, ainda que discreto.
O conflito entre Estados Unidos e Irã colocou novamente o petróleo no centro da disputa de poder global. Para a Rússia, trata-se de uma janela de oportunidade econômica. Para a China, de um risco logístico e uma missão diplomática. E, para o restante do mundo, um lembrete cruel de que, num sistema energético ainda altamente dependente de poucos gargalos logísticos, qualquer faísca geopolítica pode virar incêndio financeiro.
O que acontece em Ormuz nas próximas semanas não será apenas uma questão de segurança nacional para o Irã — será um termômetro da saúde e da resiliência da economia global.