Donald Trump, presidente dos Estados Unidos, enviou carta ao governo brasileiro anunciando as tarifas com justificativas que extrapolam a esfera comercial. (Foto: Adobe Stock)
A XP Investimentos divulgou o relatório “Onde Investir no 2º semestre” em coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira (10) – um dia depois do anúncio feito pelo presidente dos EUA, Donald Trump, de imposição de tarifas de 50% às importações de produtos brasileiros. Apesar do esperado impacto microeconômico em algumas empresas exportadoras, sendo Embraer (EMBR3) a principal afetada, a casa não acredita em uma mudança brusca de cenário. Para a XP, o Brasil deve continuar surfando um ambiente favorável no 2º semestre, com o Ibovespa, principal índice de ações, chegando a 150 mil pontos até o final do ano.
“Mesmo com esse tarifaço, as nossas exportações podem ser redirecionadas. Esses produtos (commodities) têm muita demanda no mundo inteiro”, afirma Caio Megale, economista-chefe da XP.
A expectativa de um impacto menor vem do fato de que o Brasil é uma economia relativamente fechada, com menos de 20% do Produto Interno Bruto (PIB) exportado, nos cálculos de Megale. Dessa fatia, cerca de 12% são para os EUA. Ou seja, uma fatia pequena dentro de uma fatia pequena.
Nesse cenário, se não houver retaliação por parte do governo brasileiro, Megale não vê impacto inflacionário no Brasil. Por outro lado, se houver reciprocidade, alguns produtos podem ficar mais caros, como remédios, químicos e embalagens. Mas nada que não possa ser suprido pela doméstica.
O principal efeito desse avanço tarifário de Trump contra o Brasil está em jogar, definitivamente, o corte da taxa básica de juros Selic para o ano que vem. A XP espera a primeira redução em janeiro e projeta que o juro chegue em 12,5% ao longo de 2026. Para cair abaixo disso serão necessários ajustes fiscais.
“Tem que ficar mais claro o cenário de reformas para frente”, diz Megale. Contudo, o ambiente global continua favorável ao Brasil e demais países emergentes, com os investidores reavaliando a exposição aos EUA em função das incertezas trazidas pelas políticas de Trump e redirecionando esse capital pelo mundo. No 1º semestre, a alta do Ibovespa aconteceu, em parte, na esteira desse movimento. É isso que aponta Fernando Ferreira, estrategista-chefe e head de research da XP.
“Vimos a América Latina com um protagonismo grande nesse 1º semestre, se recuperando de um 2024 muito ruim”, afirma Ferreira, que vê a região voltando ao radar dos investidores globais não só em função da dispersão de capital impulsionada pelas incertezas sobre Trump, mas pelos prêmios de risco elevados e proximidade com eleições.
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“Continuamos em um ambiente que é bom para a Bolsa, mas o próximo regime será o melhor de todos: de inflação que começa a ceder e juros caindo”, diz Ferreira. E o upside e 150 mil pontos, projetado pela XP, pode ser revisto para cima a depender de queda na percepção de risco no ano que vem. “Se os prêmios dos títulos de inflação caírem para IPCA+5%, o valor justo do Ibovespa seria de 175 mil pontos”, afirma o estrategista.
Em resumo, a XP afasta a narrativa de “fim de mundo” com a imposição das tarifas de Trump e mantém o direcionamento sobre a alocação em papéis de maior qualidade. “Mesmo que a gente entre em um cenário de juros cadentes, ainda esperamos uma Selic de 12,5%. Não achamos que empresas alavancadas sejam a melhor escolha para o investidor nesse momento”, conclui Ferreira.