O Pix está entre os principais meios de pagamento dos brasileiros. (Foto: Adobe Stock)
O presidente americano Donald Trump surpreendeu o mercado brasileiro com a abertura de uma investigação, por meio do Escritório do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês), contra o Brasil, nos termos da Seção 301 da Lei do Comércio de 1974. O objetivo é averiguar se “atos, políticas e práticas do governo brasileiro” prejudicam as atividades das companhias americanas. A medida ampliou a crise diplomática entre os dois países que, atualmente, buscam negociar as tarifas de 50% sobre os produtos brasileiros, impostas pelo republicano há menos de uma semana.
Uma das preocupações da Casa Branca é o sistema de pagamentos eletrônicos do Brasil. No documento, o USTR afirma que o País “parece se envolver em uma série de práticas desleais no que diz respeito aos serviços de pagamentos eletrônicos, incluindo, mas não se limitando, as vantagens para os serviços de pagamento eletrônico desenvolvidos pelo governo”. O trecho, embora não cite expressamente o Pix, é interpretado como uma referência direta ao meio de pagamento desenvolvido pelo Banco Central (BC), lançada em 2020. Veja os detalhes nesta reportagem do Estadão.
A ferramenta ganhou popularidade entre os brasileiros devido a sua facilidade e rapidez para realizar transações financeiras. O sucesso, porém, é visto por Trump como uma ameaça para a economia americana. Carlos Henrique, diretor de Compliance da Frente Corretora de câmbio, explica que essa análise acontece porque o Pix se tornou uma referência global de pagamentos instantâneos e, por esse motivo, pressiona grandes players de pagamento, como Visa, MasterCard, que possuem modelos de negócios baseados em transações financeiras e cartões de crédito.
“Um sistema como o Pix, se adotado ou replicado em larga escala por outros países, tende a acabar com essas estruturas tradicionais, o que representa risco de perda de receita e relevância”, diz Henrique.
Outro ponto relevante é que a ferramenta brasileira reduz o domínio dos EUA no setor financeiro. Segundo ele, se o Pix inspirar novos modelos alternativos de pagamentos, a dependência dos sistemas americanos e do próprio dólar pode reduzir no comércio internacional. “O sucesso de um modelo aberto, gratuito e interoperável como o Pix ameaça a lógica de jardins murados e fomenta a demanda global por sistemas menos dependentes de intermediários proprietários”, ressalta o especialista.