Bruno Simão, vice-presidente de Clientes, Crescimento e Marketing do Banco Mercantil. (Foto: Bruno Gonzaga/Capture)
Antes mesmo das ações de bancos menores chamarem a atenção de investidores, há pouco mais de uma década, o sistema financeiro brasileiro era fechado e composto por meia dúzia de grandes conglomerados. Esse ambiente impedia o surgimento de novos nomes e engessava a expansão fora da categoria “S1”, onde estão os gigantes como Itaú (ITUB3; ITUB4), Santander (SANB11), Bradesco (BBDC3; BBDC4), Banco do Brasil (BBAS3).
A tecnologia mudou o cenário e permitiu que instituições financeiras menores conseguissem brigar por um espaço no bolso dos consumidores. É o caso dos bancos listados BMG (BMGB4), Pine (PINE4) e Mercantil (BMEB4). Classificados como “S3”, em uma escala de “S1 a S5”, são grandes o suficiente para fazerem barulho no varejo, ainda que distantes da abrangência dos incumbentes (os “bancões”).
Ainda assim, para Clive Botelho, diretor executivo do Banco Pine, mesmo com toda a envergadura, os grandes bancos não conseguem cobrir as necessidades de toda a população brasileira. Há, portanto, espaço para todos – ou pelo menos para quem tem tecnologia para fornecer atendimento eficiente e auxiliar nas análises de crédito e tomadas de decisão com uma estrutura enxuta.
“Os S3 estão com uma oportunidade histórica porque entendem o Brasil e estão conseguindo ter escalabilidade com inovação”, afirma Botelho.
De acordo com o executivo, a tecnologia permite a direção receber informações mais simétricas, o que torna mais eficiente a atuação dos gestores do ponto de vista de planos de negócios.
O Pine, diferentemente de outros bancos menores, não quer focar em um nicho da população. Hoje, atua na diversificação e oferece produtos financeiros para empresas com faturamento acima de R$ 300 milhões e para o varejo.
Em relação ao mercado de pessoas jurídicas (CNPJ), o foco fica com operações estruturadas. No varejo, o principal alvo são transações colateralizadas, como empréstimo consignadopúblico e antecipação do saque-aniversário do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS). A partir de abril, uma nova porta se abriu para o Pine no consignado privado, o chamado “consignado CLT”.
“É um mercado endereçável grande mas que, com tecnologia, é possível atender com multicanalidade. Coisa que no passado era bem mais restritivo”, diz Botelho, cujo sonho não é de que o Pine se torne um S1. “A ambição é ser um S3 super diversificado.”
No segundo trimestre de 2025 (2T25), o Pine teve um lucro recorde de R$ 83 milhões, alta de 30% em relação ao mesmo período do ano passado e com retorno sobre patrimônio líquido médio (ROAE) de 26,2%, acima de players como Itaú.
Mais agências físicas, sim
Já o Banco Mercantil e o BMG estão no páreo pelo mercado 50+. Ambos adotaram uma estratégia na contramão da tendência observada nos últimos anos. Enquanto os gigantes financeiros fecharam agências e atualizam seus modelos para cativar os mais jovens, eles crescem com o atendimento físico, de olho nas necessidades dos clientes da geração “baby-boomer” – os nascidos no pós Segunda Guerra Mundial. Na visão deles, o grupo foi deixado de lado em meio à transformação digital do sistema brasileiro.
Banco Pine parece ter deixado período de resultados instáveis para trás; ação, no entanto, tem baixa liquidez. (Foto: Divulgação/Pine)
“Há um crescimento grande da população com mais de 50 anos. É um público cada vez mais relevante para o mercado de trabalho e para a economia e que possui uma lacuna de atendimento”, diz Bruno Simão, vice-presidente de clientes e crescimento do Banco Mercantil.
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Com 80 anos de história, a instituição nasceu focada em pessoas jurídicas, mas nos últimos anos se voltou aos 50+, concentrando as operações em consignados. Hoje, além dos canais tradicionais digitais, como aplicativo do banco, o Mercantil oferece atendimento via WhatsApp e planeja abrir pelo menos 60 lojas físicas em 2025.
“Enquanto vários bancos retraem os canais físicos, nós entendemos que ele é importante”, afirma Simão, do Mercantil.
O BMG reforça essa visão sobre a volta às agências. “O nosso principal canal de atendimento é o físico, são mais de 850 lojas help! espalhadas por todo o Brasil, além de diversos correspondentes bancários”, afirma.
O BMG e Mercantil, assim como o Pine, avaliam oportunidades de diversificação no consignado privado, modalidade de empréstimo a trabalhadores com carteira de trabalho assinada com desconto em contracheque.
O Mercantil apresentou lucro líquido de R$ 243 milhões no segundo trimestre de 2025, alta de 34% em 12 meses, e rentabilidade (ROAE) de 46% – resultado também recorde, assim como o Pine. O BMG, por sua vez, registrou uma alta de 21,7% no lucro do primeiro trimestre do ano, para R$ 115 milhões, e rentabilidade (ROAE) de 12,1%.
Baixa liquidez ainda dificulta acesso a papéis
No mercado acionário, os papéis desses bancos menores ainda não estão nos holofotes. A liquidez baixa em relação aos grandes bancos afasta, por exemplo, os investidores institucionais e fundos estrangeiros. Também faz com que o desempenho dos ativos não necessariamente reflitam adequadamente os resultados.
“O grande ponto a ser desenvolvido é a proximidade com omercado de capitais, melhoria do free float (ações livres em circulação) e liquidez dos papéis e adesão ao mais alto nível da B3 em termos de governança”, diz Mônica Araújo, economista-chefe da InvestSmart XP. “Aumento do free float é alcançado com a oferta de ações sem o acompanhamento do grupo controlador, o que consequentemente também melhoraria a liquidez.”
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Contudo, isto não significa que os cases não podem ser interessantes para certos perfis de investidores. Especialmente, para aqueles cuja estratégia está focada em small caps, empresas de baixa capitalização e que geralmente combinam um risco maior com retornos atraentes.
As recomendações dos analistas para investidores
Cartão do Banco BMG; investidor precisa ficar atento ao custo de capital da empresa financeira. (Foto: Adobe Stock)
Paulo Silva, co-fundador da Consultoria Advisory 360, avalia que entre os três, o Mercantil tende a ser o mais defensivo e com resultados mais robustos. A estratégia de foco em clientes aposentados e pensionistas propicia estabilidade, enquanto a carteira de crédito focada em consignado evita grandes surpresas de inadimplência.
“É um nicho defensivo, especialmente em momentos de incerteza econômica, mas que também enfrenta pressão regulatória. Os resultados recentes mostram evolução na margem financeira e qualidade dos ativos. Apesar da baixa liquidez das ações, o valuation (valor do ativo) ainda atrativo pode chamar atenção de investidores com apetite para small caps com viés mais defensivo”, diz Silva.
Por outro lado, o BMG e o Pine são indicados para investidores com uma tolerância a risco maior. Apesar dos resultados estarem evoluindo gradualmente, o BMG ainda possui, por exemplo, o custo de capital visto como elevado e uma rentabilidade mais baixa. “Pode ser interessante para o investidor que aposta em reprecificação com base em turnaround (recuperação) operacional”, afirma o executivo da Consultoria Advisory 360.
A Genial Investimentos recomenda a manutenção de quem já tem as ações do BMG na carteira, com preço-alvo de R$ 4,40. “A necessidade de fortalecer o capital por meio da venda de carteiras pode restringir a expansão do crédito, enquanto os juros elevados seguem comprimindo os spreads (diferença do custo de aquisição e de empréstimo de dinheiro) e aumentando o custo de captação de recursos”, disse a Genial, em relatório referente ao primeiro trimestre de 2025.
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Por fim, o Pine tem reportado bons números após um período, pré-pandemia, de resultados instáveis. Para Silva, ainda inspira cautela.
“A ação PINE4 é de baixa liquidez e está mais voltada a investidores que buscam reestruturações com possível assimetria de valorização, mas com maior risco”, afirma.
Entre as ações de bancos menores na Bolsa de Valores, as do Mercantil (BMEB4) acumulam uma valorização de 10% em 2025. Os papéis do Pine (PINE4) sobem45% no ano, enquanto os ativos do BMG (BMGB4) estão mais lateralizados, com uma alta de apenas 1%.