Setor de papel e celulose do Brasil é competitivo, com custos baixos e empresas bem geridas. Foto: AdobeStock
Apesar de serem sólidas, bem geridas e operarem com custos baixos, que permitem praticar preços competitivos, as empresas do setor de papel e celulose vêm sendo punidas pelo mercado. As ações da Klabin (KLBN11), por exemplo, registram uma desvalorização de 18% no ano, enquanto a companhia apresenta aumento de vendas e Ebitda (indicador de desempenho operacional) estável ano contra ano no 2T25, com alta de 10% no comparativo trimestral.
Ainda assim, a Genial Investimentos mantém recomendação de compra, com preço-alvo de R$ 23,50 para a Klabin e de R$ 63,50 para a Suzano (SUZB3), que também registra uma queda superior a 12% na Bolsa este ano. Já a Irani (RANI3) anda na contramão dos pares e acumula alta de 23% em 2025.”
Na visão dos analistas, os três papéis oferecem oportunidades, mas a operação da Suzano é mais complexa pela dependência do mercado internacional. Segundo Igor Guedes, analista da Genial Investimentos, o setor de papel e celulose é competitivo no Brasil, com custos baixos e empresas bem geridas.
O Santander observa em relatório que o governo Donald Trump manteve tarifas de 50% sobre exportações brasileiras de produtos como tissue, papel gráfico e kraftliner. A celulose branqueada de eucalipto (BEK), principal produto de exportação de Suzano e Klabin, ficou isenta da taxação, o que, na visão do banco, abre espaço para potenciais reajustes de preços no mercado asiático, especialmente na China, diante da possibilidade de redirecionamento de volumes.
A China responde por quase metade das vendas da Suzano. O país enfrenta desaceleração econômica, deflação e queda de consumo. “O chinês tem medo de perder o emprego e consome menos, o que segura a indústria papeleira”, explica Guedes.
Para se proteger, a Suzano busca diversificação, como no caso da entrada no mercado de tissue com a Kimberly-Clark. Em junho as duas companhias anunciaram uma aliança de US$ 3,4 bilhões focada na produção e comercialização de produtos como papel higiênico, lenços e guardanapos para mais de 70 países. A joint venture, embora abra um enorme novo mercado, também traz desafios inéditos para a Suzano.
Desaceleração da China já está no preço?
Quanto à China, João Daronco, analista da Suno, traz uma visão mais otimista. “Essa desaceleração chinesa já está no preço dos ativos”, diz. Em sua avaliação, a probabilidade de surpresa é mais para o lado positivo, com possibilidade de crescimento maior que o esperado. E lembra que, nos níveis atuais, as empresas seguem muito rentáveis – a Suzano, por exemplo, tem margem Ebitda ajustada de 46% – e não há sinal de queda abrupta pela frente.
O impacto cambial também entra na conta. O analista da Suno lembra que o preço médio da celulose combinada com a valorização do real diminuiu a conversão para reais. Mesmo com aumento de 23% no volume vendido, a receita da Suzano cresceu 19%. “O câmbio é uma faca de dois gumes”, resume.
Esse mesmo efeito cambial faz algumas casas preverem aumentos de mais de 400% no lucro por ação das empresas do setor, como avaliou o time de research da XP em relatório divulgado no início do mês. Mas essa variação deve ser entendida como distorção do efeito cambial, já que não reflete a performance operacional do setor, principalmente da Suzano, a empresa com maior exposição ao mercado externo, explica o time da instituição financeira.
Publicidade
Por esse motivo, diz Guedes da Genial, o mercado institucional olha mais para o Ebitda, indicador que reflete a operação, do que para o lucro líquido, já que o lucro líquido é fortemente afetado por ajustes contábeis da variação cambial, e não pela geração efetiva de caixa.