O mercado acionário brasileiro indica que terá nova sessão de fôlego reduzido nesta quinta-feira, com o investidor buscando posições cautelosas enquanto assimila os dados econômicos da manhã. Além disso, o cenário fiscal doméstico volta a ser fator de cautela, por conta do desconforto com a contabilização dos valores do plano de contingência anunciado ontem pelo governo para mitigar os efeitos do tarifaço americano.
O dia começou com a alta de 0,3% do volume de serviços em junho, dado que ficou próximo do teto das estimativas colhidas pelo Projeções Broadcast (0,4%, com mediana zero). O dado mostra que o setor de serviços continua forte, ao contrário do que mostrou o varejo ontem, com queda de 2,5%, muito maior que o esperado pelo mercado.
Mas a grande surpresa da manhã veio do índice de preços ao produtor (PPI) dos Estados Unidos, que mede a inflação no atacado. Praticamente todas as medições do indicador vieram acima do esperado pelos analistas, indicando que a inflação naquele país pode mostrar resistência. De acordo com a ferramenta do CME Group, o mercado americano continua a mostrar consenso quanto ao início de um ciclo de afrouxamento monetário em setembro, mas as apostas em três cortes este ano perderam espaço.
“Quando a gente pensa em corte de taxa de juros nos EUA, as bolsas podem se beneficiar mais ainda porque vai sair dinheiro de renda fixa e entrar dinheiro em renda variável. Essa é a premissa mais básica”, diz Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos.
No câmbio, o dólar hoje renovou a máxima intradia, a R$ 5,4120 (+0,19%) no mercado à vista, reagindo ao fortalecimento da divisa americana.
Ibovespa hoje: o que você não pode deixar de saber nesta quinta-feira (14)
Ainda na agenda econômica hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) cumpre agenda em Pernambuco, com três compromissos oficiais e o diretor de Regulação do Banco Central (BC), Gilneu Vivan, participa do Abecip Summit 2025.
O Tesouro faz leilão de Letras do Tesouro Nacional (LTN, títulos prefixados) e de Nota do Tesouro Nacional série F (NTN-F, título de renda fixa).
Nos Estados Unidos, os holofotes se voltam para o índice de preços ao produtor (PPI) de julho e para declarações do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) de Richmond, Tom Barkin, nesta quinta-feira (14).
Na China, saem os resultados da produção industrial, vendas no varejo e investimento em ativos fixos em julho.
Bolsas globais operam sem direção à espera de inflação americana
Os índices futuros em Nova York passaram a cair após a divulgação do PPI americano, enquanto os juros dos Treasuries (títulos da dívida estadunidense) seguem em baixa e o dólar hoje ganhou força, com a expectativa de que o Fed corte juros em setembro.
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A expectativa de corte de juros nos EUA vem após dados modestos da inflação ao consumidor (CPI) e pressão do governo Trump sobre o BC americano e o Departamento de Estatísticas do Trabalho (BLS). O PPI dos EUA e sinais da política monetária serão monitorados, mas dificilmente mudarão o quadro já praticamente consolidado de redução das taxas.
O índice de preços ao produtor (PPI, na sigla em inglês) dos Estados Unidos subiu 0,9% em julho ante junho, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento do Trabalho do país nesta quinta-feira. Na comparação anual, o PPI avançou 3,3% em julho. Analistas consultados pela FactSet projetavam alta mensal de 0,2% e acréscimo anual de 2,4% em julho.
O presidente do Fed de Chicago, Austan Goolsbee, afirmou ser possível cortar juros de forma preventiva, se houver confiança de que a inflação está sob controle.
Na Europa, as bolsas sobem com dados positivos de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) e produção industrial no Reino Unido, mas Londres é pressionada pelo setor de mineração.
BB divulga balanço hoje: o que esperar dos números do 2º tri?
Analistas estão pessimistas com balanço do Banco do Brasil (BBAS3) no segundo trimestre de 2025. Foto: Adobe Stock
O Banco do Brasil (BBAS3) divulgará na noite da quinta-feira (14) seus números referentes ao segundo trimestre de 2025. E as expectativas de analistas de bancos e corretoras não poderiam ser piores.
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Uma das últimas a revisar seus projeções, a Genial Investimentos reduziu sua estimativa de lucro líquido do BB para R$ 5,1 bilhões no segundo trimestre, representando uma queda anual de 46,6%. A projeção, no entanto, ainda é otimista quando comparada com a de outras casas do mercado – confira as expectativas para o balanço do Banco do Brasil.
O principal ponto de atenção do mercado tem sido a deterioração da carteira do agro, um setor que até pouco tempo atrás era um dos trunfos do BB, mas agora enfrenta alta na inadimplência e nos pedidos de recuperação judicial. Explicamos no detalhe de onde vem esse movimento e por que ele afeta mais a estatal do que os pares privados nesta outra reportagem.
Volume de serviços cresce em junho dentro do esperado
O volume de serviços prestados subiu 0,3% em junho ante maio, na série com ajuste sazonal, segundo dados da Pesquisa Mensal de Serviços divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). As estimativas variavam de recuo de 0,6% a expansão de 0,4%, segundo o Projeções Broadcast.
Na comparação com junho de 2024, houve avanço de 2,8%, já descontado o efeito da inflação. A taxa acumulada no ano, que tem como base de comparação o mesmo período do ano anterior, foi positiva em 2,5%. No acumulado em 12 meses, houve alta de 3,0%, mesma variação registrada até maio.
A receita bruta nominal do setor de serviços subiu 0,4% em junho ante maio. Na comparação com junho de 2024, houve avanço de 7,5% na receita nominal.
Commodities hoje: minério tomba quase 3% na China
O petróleo avança após perdas recentes, com atenção voltada para uma possível trégua na guerra da Ucrânia, a ser discutida por EUA e Rússia na sexta-feira. Nesta manhã, o WTI para setembro subia 0,69% na Nymex, a US$ 62,21, e o Brent para outubro avançava 0,66% na ICE, a US$ 65,91.
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Entre as commodities hoje, o minério de ferro recuou 2,94% em Dalian, no contrato futuro para janeiro de 2026, cotado a 775 yuans, equivalente a US$ 108 por tonelada.
O que mais esperar do Ibovespa hoje?
Os ativos locais podem ter oscilações contidas, como no exterior, e os dados de serviços podem indicar uma relativa acomodação, pela perda de dinamismo da economia doméstica. Se confirmado, isso reforçaria a leitura no mercado de possível antecipação do ciclo de corte da Selic para dezembro na curva de juros.
Também devem repercutir balanços de empresas de vários setores, como JBS e Ultrapar, e os detalhes do plano “Brasil Soberano”, em meio à repercussão do plano de contingência do governo brasileiro.
Pacote contra tarifaço dos EUA depende de aval do CMN
As atenções do mercado estão no plano de contingência brasileiro contra o tarifaço americano, anunciado na quarta (13). (Foto: Adobe Stock)
O mercado acompanha expectativas sobre quando a linha de crédito de R$ 30 bilhões para socorrer empresas afetadas pelo tarifaço dos EUA contra o Brasil estará disponível e em quais condições. As definições devem ocorrer em reunião extraordinária do Conselho Monetário Nacional (CMN) na próxima semana.
“Quanto mais rápido votarem, mais rápido afetados serão beneficiados”, cobrou o presidente Lula durante a a apresentação do plano na última quarta-feira.
O líder do governo no Senado, Jaques Wagner (PT-BA), apresentou o PLP 168/2025 para viabilizar a medida provisória do pacote contra o tarifaço. Na Câmara, deputados reconhecem os efeitos imediatos da MP, mas defendem ajustes no texto. Já o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, afirmou não ter sido consultado e disse desconhecer o conteúdo da proposta.
Esses e outros dados do dia ficam no radar de investidores e podem impactar as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
*Com informações de Paula Dias, Silvana Rocha e Luciana Xavier, do Broadcast