O ministro Flávio Dino durante sessão do STF. Foto: Bruno Peres/Agência Brasil
O Ibovespa hoje fechou em queda expressiva, depois de renovar sucessivas mínimas durante a tarde, puxado principalmente pelas ações de bancos, que derreteram no pregão. Nesta terça-feira (19), o índice da B3 teve forte baixa de 2,1%, aos 134.432,26 pontos. Foi a maior maior perda em porcentual para o Ibovespa desde o mergulho de quase 3% em 4 de abril, há mais de quatro meses. Mais cedo, chegou a atingir mínima a 133.996,87 pontos.
O Índice Financeiro da B3 (IFNC) recuou quase 4%. O Bradesco perdeu 3,29% (BBDC3) e 3,43% (BBDC4), assim como Banco do Brasil (BBAS3/6,03%) e Itaú (ITUB4/3,04%). As units (ativo que concentra duas ou mais ações de uma empresa negociadas em conjunto) de Santander (SANB11) recuaram 4,88% e as do BTG Pactual (BPAC11), 3,48%.
“É difícil precificar as consequências se os bancos brasileiros forem cortados do sistema financeiro internacional. São bancos que operam internacionalmente e qualquer problema nessa linha seria muito ruim pro Brasil”, afirma Bruno Takeo, estrategista da Potenza Capital.
Na avaliação de Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos, a complexidade da situação, a partir dos desdobramentos mais recentes do episódio, levam o mercado a adotar uma postura cautelosa, até que se compreenda melhor o alcance das últimas medidas.
“Hoje o mercado promoveu uma correção nos preços das ações, levando em conta que ainda há gordura para queimar. O investidor optou por buscar proteção para tentar entender realmente até que ponto a disputa entre os dois países pode impactar o mercado. Como tudo é muito novo, é muito difícil estimar os desdobramentos. Na dúvida, o investidor comprou dólar e vendeu Bolsa”, afirma.
Em nota, Étore Sanchez, economista-chefe da Ativa Investimentos, avalia que o conflito entre o Judiciário brasileiro e os EUA é negativo para o mercado. “Economicamente, esse jogo de retórica é extremamente prejudicial, à medida que traz implicitamente uma elevação do risco-país, mitigando investimentos instantaneamente e com efeito prolongado”, destaca.
Além da influência dos bancos, o mercado de ações também reagiu ao desempenho dos preços do petróleo, que fecharam em queda e derrubam as ações da Petrobras (PETR3/1,37%; PETR4/1,05%). O minério de ferro também recuou, afetando ações de siderúrgicas. A Vale (VALE3), por sua vez, fechou em alta de 0,08%.
O dólar hoje avançou no mercado doméstico de câmbio, evidenciando a busca do investidor por ativos defensivos. A moeda americana fechou em alta de 1,22% a R$ 5,5009.
Como o mercado reagiu ao impasse na Lei Magnitsky?
Para Danilo Coelho, economista e especialista em investimentos, o impasse pode estimular uma saída de capital relevante do Brasil, principalmente de investidores estrangeiros que têm alocações aqui. “Podemos ver o cenário piorar caso os Estados Unidos comecem a apertar ainda mais o cerco em cima dessa questão que foi aplicada ao Moraes e que pode ser aplicada também a outros ministros do STF”, avalia. “Esperamos que seja algo pontual, mas existe o risco disso se tornar algo duradouro e um problema muito grande para o Brasil, a ponto de talvez isolar o país do sistema financeiro global.”
Já Ian Lopes, especialista da Valor Investimentos, acredita ser possível que as ações de bancos continuem caindo nos próximos dias. “Apesar de termos bancos entregando resultados positivos, o medo de que essas instituições sofram algum tipo de sanção dos EUA pode pressionar os papéis”, avalia.
Quem também vê com preocupações a decisão de Dino é Rodrigo Moliterno, head de renda fixa da Veedha Investimentos. Segundo ele, as disputas de narrativas entre Brasil e EUA geram uma espécie de “crise de declarações”. “À medida que o tom for subindo, podemos ver reflexos mais negativoS para o mercado, a depender de como a Magnitsky for tratada. “Com relação aos bancos, seria ruim se houvesse algum tipo de punição que os proibisse de operar internacionalmente”, diz.
Ibovespa hoje: o que movimentou esta terça-feira (19)
Bolsas globais fecham sem direção única
Sem detalhar plano, Trump fala em ajuda à Ucrânia e possível reunião com líderes russo e ucraniano. (Foto: Adobe Stock)
Os índices de Nova York mostraram sinais difusos. Nasdaq caiu 1,46% e S&P 500 cedeu 0,59%, enquanto Nasdaq subiu 0,02%.
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A ação da Intel (ITLC34) subiu quase 7%, um dia após o japonês SoftBank anunciar investimento de US$ 2 bilhões na fabricante de chips americana. Já a bolsa de Tóquio fechou em leve baixa, puxada pela queda de 4,01% na ação da SoftBank.
Na Europa, as Bolsas fecharam em alta, repercutindo o encontro entre o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, o homólogo ucraniano, Volodymyr Zelensky, e uma série de líderes europeus, em Washington. O índice pan-europeu Stoxx 600 encerrou em alta de 0,69%, a 557,81 pontos. Em Londres, o FTSE 100 subiu 0,34%, a 9.189,22 pontos. Em Frankfurt, o DAX avançou 0,50%, a 24.435,55 pontos. Em Paris, o CAC 40 ganhou 1,21%, a 7.979,08 pontos.
Donald Trump ofereceu ajuda e garantias de segurança à Ucrânia para evitar que a Rússia retome a guerra no futuro, mas não disse quais seriam. Ele afirmou também esperar realizar uma reunião trilateral entre ele e os líderes russo (Vladimir Putin) e ucraniano.
Zelensky afirmou que ainda não há data marcada para um possível encontro com Putin, mas o chanceler da Alemanha, Friedrich Merz, disse que isso pode ocorrer em duas semanas.
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Nesta manhã, Trump afirmou que a Ucrânia não será parte da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), mas que haverá alguma forma de segurança para o país. Ao ser questionado sobre possíveis garantias de segurança dos EUA, Trump disse que elas possivelmente serão por via aérea.
O presidente americano ainda ressaltou a possibilidade de seu homólogo russo, Vladimir Putin, não querer fazer um acordo para encerrar o conflito com a Ucrânia e mencionou que “parte do problema” é a falta de comunicação do Kremlin com a Europa.
S&P reafirma ratings dos EUA, com perspectiva estável
A S&P Global reafirmou os ratings(avaliação que mostra o risco de crédito) soberanos AA+ de longo prazo e A-1+ de curto prazo dos EUA, mantendo perspectiva estável, na última segunda-feira (18).
Em comunicado, a agência de classificação de risco aponta que o governo Trump conseguiu aprovar seu projeto de lei fiscal, sete meses depois de assumir o poder, e continua reformulando o regime de comércio internacional dos EUA.
A S&P também prevê que, com o aumento efetivo de tarifas, a “significativa” receita com tarifas compensará de modo geral os resultados fiscais mais fracos ligados à nova legislação, que estabelece tanto cortes quanto aumentos de impostos e gastos.
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A perspectiva estável, por sua vez, reflete a expectativa da S&P de resiliência da economia dos EUA, assim como “execução plausível e eficaz da política monetária” e “déficits fiscais altos, mas não crescentes”.
O que mais mexeu no Ibovespa hoje?
No campo comercial, que sofre com as tarifas dos EUA contra produtos brasileiros, o Ministério das Relações Exteriores enviou resposta aos EUA rejeitando acusações de práticas desleais na relação entre os dois países, afirmando que apenas a Organização Mundial do Comércio (OMC) tem foro legítimo para solução de disputas. O Itamaraty ressaltou que o País mantém um regime “aberto e baseado em regras”.
No âmbito jurídico, a decisão do ministro Flávio Dino, do Supremo Tribunal Federal (STF), de invalidar efeitos automáticos de leis estrangeiras no Brasil geroy repercussões. A medida foi vista como uma tentativa de blindar o colega Alexandre de Moraes das sanções da Lei Magnitsky, o que criou, segundo fontes da Coluna do Estadão, um quadro “inédito, complexo e sensível”, além de deixar bancos em incerteza sobre como lidar com relações comerciais envolvendo o magistrado punido pelos americanos.
Agenda econômica do dia
No Brasil, o vice-presidente Geraldo Alckmin participou da Conferência Anual do Santander (SANB11). Ele reforçou que ainda acredita em uma relação “ganha-ganha” entre Estados Unidos e Brasil. Para além de contornar a questão do tarifaço, Alckmin disse que os dois países possuem “complementaridade” econômica em diversas pautas e, entre as questões que precisam avançar, citou as negociações sobre os minerais críticos e estratégicos que podem ser encontrados nas terras brasileiras.
Mais cedo, o Tesouro fez leilões de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B, títulos públicos com rendimento atrelado à inflação) e Letra Financeira do Tesouro (LFT, título pós-fixado com rentabilidade atrelada à taxa de juros).
Nos Estados Unidos, as construções de moradias iniciadas subiram 5,2% em julho ante junho, ao ritmo anualizado de 1,428 milhão, segundo pesquisa divulgada pelo Departamento do Comércio nesta terça-feira. O resultado veio bem acima da expectativa de analistas consultados pela FactSet, que previam avanço de 0,3% no período.
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À tarde, a vice-presidente de Supervisão do Federal Reserve (Fed), Michelle Bowman, afirmou que membros do Banco Central devem ter permissão para deter pequenas quantidades de produtos criptográficos. Segundo ela, a imposição de limites à atividade de investimentos para integrantes do BC americano pode dificultar a contratação e retenção de experts financeiros.
A dirigente enalteceu a adoção de novas tecnologias, enquanto evidenciou os desafios dos reguladores para equacionar a busca do equilíbrio entre a inovação e a gestão de riscos. “É essencial que bancos e reguladores se engajem em novas tecnologias”, disse.
Ainda na agenda internacional, à noite, o Banco do Povo da China (PBoC) anuncia decisão sobre taxas de jurosde referência para empréstimos (LPR) de 1 ano e de 5 anos.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações no Ibovespa hoje.
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*Com informações de Paula Dias, Luciana Xavier e Silvana Rocha, do Broadcast