Avião da Embraer em destaque; ações da companhia (EMBR3) recuam na B3 em meio a tensões comerciais com os Estados Unidos. (Foto: Adobe Stock)
As ações da Embraer(EMBR3) figuraram entre as que mais caíram no Ibovespa hoje, com fechamento em baixa de 1,17%. Depois de abrir com queda de 3%, a fabricante de aeronaves reduziu perdas ao longo desta quarta-feira (20) parte das perdas, até chegar à cotação de R$ 76,10.
O ambiente externo pressiona a companhia. A Embraer enviou, na terça-feira (19), uma resposta ao Escritório do Representante Comercial dos EUA (USTR) contra a possibilidade de restrições às importações de suas aeronaves.
Segundo a empresa, impor barreiras seria “diretamente contrário aos interesses” americanos, já que a companhia mantém grande operação no país por meio da subsidiária EAH, em Fort Lauderdale, na Flórida, e é responsável por 12,5 mil empregos – sendo 2,5 mil diretos e 10 mil indiretos. A expectativa é de geração de mais 5 mil postos em 5 anos.
A investigação conduzida pelo USTR, no entanto, insere a Embraer no escopo da chamada Seção 301 da Lei de Comércio de 1974, que apura supostas práticas comerciais desleais. A Embraer e nega ter se beneficiado de vantagens tarifárias: “Nenhuma dessas práticas tem relação com a empresa”, afirmou em comunicado.
Apesar de ter ficado fora do tarifaço de 50% imposto pelo governo de Donald Trump, a fabricante foi atingida por uma alíquota de 10%.
Mayday! Embraer lida com impacto conjuntural
O governo dos EUA alega problemas como dificuldade de acesso ao mercado de etanol, desmatamentoilegal, falhas na fiscalização anticorrupção e barreiras ao comércio digital – pontos que, segundo a Embraer, não guardam relação com suas operações.
Na visão de Alexandre Pletes, head de Renda Variável da Faz Capital, essa tensão é um dos fatores centrais por trás da queda das ações:
A gente tem o principal fator aí: a questão do governo dos Estados Unidos, que está investigando a Embraer por supostas práticas comerciais ilegais. A companhia já se defendeu, mas esse é o principal motivo da pressão de hoje.
Ele pondera, no entanto, que o impacto é mais conjuntural do que estrutural. “A queda de hoje não altera a perspectiva de médio e longo prazo. O valuation (valor de mercado) ainda está atrativo e a empresa tem entregado recordes. Quem já tem posição deve manter. Quem não tem, talvez seja melhor esperar o desfecho da acusação”, disse.
Além disso, o analista lembra que outros elementos geopolíticos podem pesar sobre a demanda da fabricante aeroespacial.
“Caso haja um acordo de paz entre Ucrânia e Rússia, pode haver diminuição nas encomendas de aviões militares e softwares de defesa. Mas, no macro, vemos estímulos no radar, como possíveis cortes de juros nos EUA e no Brasil até o fim do ano, o que tende a favorecer empresas exportadoras”, acrescentou Pletes.
Já para Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, a penalização do papel tem forte componente ligado ao fluxo estrangeiro:
O tema Brasil parece mais negativo com as sanções ao ministro Alexandre de Moraes, e a Embraer acabou sendo penalizada por ter muitos investidores estrangeiros na base. Mas é algo pontual, porque a companhia segue entregando resultados fortes.
Carro voador e preço do petróleo em vista
Cruz lembra ainda que a Embraer tem projetos relevantes no radar, como a Eve, empresa de mobilidade aérea urbana apoiada pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), considerada essencial para a transição energética.
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“Ela vai ter lançamentos no ano que vem, além de se beneficiar do petróleo mais barato, que amplia a capacidade de compra das companhias aéreas, e do aumento de orçamentos militares na Europa. Então, o cenário de médio e longo prazo segue positivo”, afirmou o estrategista-chefe.
Para Gustavo Cruz, portanto, a recomendação hoje aos investidores em ações é de cautela, mas sem perder a perspectiva de crescimento. “A Embraer (EMBR3) é uma das grandes empresas em termos de desempenho nos últimos anos e ainda tem muito a entregar para frente”, concluiu.