Diferentes variáveis afetam a cotação do dólar em relação ao real. Analistas revisam as projeções para 2025. Foto: Adobe Stock
Se em janeiro a expectativa era que o dólar terminasse 2025 acima de R$ 6, agora bancos e corretoras têm outras previsões para a moeda americana em 2025. No ano, a divisa acumula perdas de 12,2% em relação ao real, tendo atingido em meados de agosto o menor nível em 14 meses.
Dentre as casas consultadas pelo E-Investidor, a Ágora Investimentos espera que o dólar encerre 2025 a R$ 5,8. A estimativa leva em conta as incertezas em torno do tarifaço do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra produtos do Brasil exportados para lá. Cerca de 700 itens escaparam da taxa, mas possíveis impactos na economia brasileira ainda são calculados.
Já o Itaú, que tem projeção de R$ 5,5 para o dólar ao fim de 2025, tem uma visão um pouco diferente. Embora acredite que o fluxo de moeda americana para o Brasil por via comercial deva diminuir com o tarifaço dos EUA, o banco enxerga que o impacto pode ser menor do que o esperado anteriormente.
Dois fatores contribuem para essa análise. Um deles é o dólar mais fraco ao redor do mundo. O índice DXY, que compara a moeda americana com outros seis pares fortes, já recua 9,46% em 2025. Somado a isso, existe um diferencial de juros elevado entre Brasil e EUA, que estimula a entrada de dinheiro estrangeiro para cá.
Quem está mais otimista com o câmbio é o Banco Pine, que tem uma estimativa de R$ 5,3 para o final do ano. “Mas temos uma projeção de viés para baixo, ou seja, acreditamos que o dólar pode cair ainda mais frente ao real”, explica o diretor de pesquisa macroeconômica da instituição, Cristiano Oliveira.
O consenso no mercado, porém, é de que as previsões para o dólar são sempre desafiadoras – afinal, um grande número de variáveis influencia a cotação da moeda americana. Pensando nisso, analistas reuniram os principais pontos que estão em jogo quando se trata do mercado de câmbio.
O que pode fazer o dólar cair?
Diferencial de juros ajuda na queda do dólar. Foto: Adobe Stock
Diferencial de juros entre EUA e Brasil
Atualmente, a Selicestá em 15% ao ano, enquanto as taxas de juros americanas se encontram na faixa entre 4,25% a 4,50% ao ano. Essa diferença favorece as operações de carry trade – estratégia que consiste em tomar dinheiro emprestado em um país com juros mais baixos e investir em outro que ofereça taxas mais altas.
Nickolas Lobo, especialista em investimentos da Nomad, pontua que o alto diferencial de juros entre Brasil e EUA desestimula investidores institucionais a manterem posições compradas em dólar. “Ao mesmo tempo, viabiliza a entrada de capital externo para o mercado brasileiro”, afirma.
Publicidade
Essa tendência tende a aumentar se o Federal Reserve (Fed, o banco central americano) cortar, de fato, os juros na sua próxima reunião em setembro. As apostas para esse cenário cresceram após a última decisão não ter sido unânime, com o diretor Christopher Waller e a vice-presidente de supervisão do banco central americano, Michelle Bowman, votando por um corte de 0,25 ponto porcentual.
Desaceleração da economia dos EUA
Indicadores que demonstram um certo enfraquecimento da economia americana também podem mexer com o câmbio. Segundo Lobo, dados de inflação e emprego abaixo das expectativas aumentam as apostas de corte de juros pelo Fed e reduzem a atratividade dos Treasuries – títulos de dívida pública dos EUA –, o que pressiona o dólar.
Um exemplo disso veio do último payroll (relatório oficial de emprego dos EUA), que mostrou a criação de 73 mil postos de trabalho em julho, resultado aquém da projeção do mercado, que era de 104 mil. Já o dado de junho foi revisado para baixo, de 147 mil para 14 mil. No dia da divulgação do indicador, o dólar recuou 0,99% para R$ 5,55.
Fluxo de capital para a Bolsa
Marcos Piellusch, professor da FIA Business School, explica que a entrada de dinheiro estrangeiro na Bolsa de Valores brasileira também influencia a cotação do dólar.
“As ações locais têm atraído investidores externos pela oportunidade de valorização. Isso gera um ingresso de capital, que pressiona a moeda americana”, diz.
No acumulado do ano, o fluxo de dinheiro gringo para a B3 soma R$ 20,289 bilhões, segundo os dados mais recentes da Bolsa brasileira. O movimento contrasta com o cenário observado em 2024, quando investidores estrangeiros retiraram R$ 24,2 bilhões – a maior saída líquida de recursos desde 2016.
Do outro lado: o que pode fazer a moeda subir?
Incertezas fiscais podem fazer o dólar avançar contra o real. Foto: Adobe Stock
Incertezas fiscais
O risco de deterioração fiscal estimula a fuga de capital estrangeiro e o aumento da busca por proteção no dólar, o que favorece a alta da moeda. “Essa insegurança amplia o risco-Brasil e reduz a confiança de investidores em manter capital no País”, avalia Marcos Weigt, diretor de tesouraria do Travelex Bank.
Em agosto, o anúncio do pacote para socorrer empresas atingidas pelo tarifaço elevou esse temor. Isso porque o governo falou em pedir ao Congresso que R$ 9,5 bilhões fiquem fora do cálculo da meta fiscal em 2025 e 2026. Na prática, na hora de verificar o cumprimento da meta, seria como se esse gasto não tivesse existido.
Lei Magnitsky
Os desdobramentos envolvendo a Lei Magnitsky têm mexido com o mercado, após o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Flávio Dino, determinar que decisões judiciais estrangeiras só podem ser executadas no Brasil mediante homologação ou por meio de mecanismos de cooperação internacional.
Com a repercussão da medida, os cinco maiores bancos brasileiros chegaram a perder R$ 41,98 bilhões em valor de mercado num único pregão, como mostramos aqui.
“O risco de eventuais restrições ou monitoramentos adicionais a bancos e instituições nacionais aumenta a percepção de incerteza e pode pressionar fluxos de saída de capital, fortalecendo o dólar no curto prazo”, destaca Weigt.
Tarifas dos EUA
O tarifaço preocupa por seus efeitos na balança comercial brasileira. Quando as importações são maiores do que as exportações, o País compra mais itens lá fora e paga com dólar. Com isso, mais dinheiro sai do Brasil e o preço da moeda americana sobe.
No saldo do ano, no entanto, a balança comercial brasileira é positiva e registra superávit comercial de US$ 40,030 bilhões. “Embora as consequências do tarifaço só passem a afetar diretamente os resultados no terceiro trimestre, elas já geram incerteza no radar dos investidores”, alerta Piellusch, da FIA.
A estratégia do dólar médio
Para quem deseja comprar dólar, especialistas recomendam seguir a estratégia do preço médio – isto é, realizar aportes graduais ao longo do tempo, para se proteger das variações cambiais, em vez de tentar prever o movimento da moeda americana.
“Quando falamos em proteção patrimonial, o horizonte deve ser muito mais amplo e de longo prazo. A cotação do dólar atual não pode influenciar a decisão de quem deseja preservar parte do patrimônio em moeda americana”, destaca Bruno Yamashita, analista de alocação e inteligência da Avenue.
O que monitorar nos próximos meses?
As decisões de política monetária tanto no Brasil quanto nos Estados Unidos ganham destaque no mercado de câmbio. As próximas reuniões dos bancos centrais devem ocorrer nos dias 16 e 17 de setembro.
Publicidade
Além de ficar de olho nelas, também vale monitorar indicadores macroeconômicos relevantes, como dados de inflação, Produto Interno Bruto (PIB) e nível de emprego nos EUA, que podem alterar expectativas sobre os juros americanos e, consequentemente, impactar os fluxos de capital estrangeiro ao Brasil.
Por aqui, os dados das contas públicas merecem atenção, já que mexem diretamente com o apetite de risco do investidor estrangeiro. A balança comercial também tem peso relevante, pois influencia na entrada de dólar no País.