Empresa mais valiosa da América Latina vê “espaço gigante” para crescer no Brasil
Em entrevista exclusiva ao Balanço em Foco, Richard Cathcart, diretor de RI do Mercado Livre, afirmou que a companhia quer conceder mais crédito aos brasileiros via Mercado Pago
A empresa mais valiosa da América Latina nasceu na vizinha Argentina, mas há mais de 20 anos tem o Brasil como carro-chefe de suas operações. O Mercado Livre (MELI34) conta com ações listadas na Bolsa de Nova York, mas também possui BDRs (recibos de ações brasileiras) na B3 — e atualmente seu valor de mercado (US$ 90 bi) é maior que o da Petrobras (PETR3; PETR4), Itaú Unibanco (ITUB4) e o Nubank (ROXO34).
Em entrevista exclusiva ao Balanço em Foco, Richard Cathcart, diretor de Relações com Investidores do Mercado Livre, afirmou que o potencial do Brasil é “gigante”, não apenas para crescer no e-commerce, já que a penetração atual é de apenas 15% no País, mas também na concessão de crédito aos brasileiros, através da fintech Mercado Pago, que faz parte do grupo. “Temos a ambição de ser o maior banco digital da América Latina”, disse.
Richard Cathcart, Diretor de Relações com Investidores do Mercado Livre
“Nosso cartão de crédito no Brasil está performando muito bem. Há dois motivos para isso. Primeiro, partimos de uma base relativamente baixa. Nossa carteira de crédito atual, de US$ 9,3 bilhões, ainda é pequena quando se olha o tamanho da oportunidade na região. Nos países em que operamos, o PIB é de US$ 5 trilhões. Então, o tamanho da nossa carteira perto disso é pequeno. O segundo ponto é a maneira que a gente faz a concessão de crédito, com modelos complexos que a gente consegue recalibrar a cada seis meses”, completou o executivo.
Sim, temos uma oportunidade de crescimento gigante em crédito. Acredito que estamos só no início desta jornada. Mas a nossa prioridade é a gestão de risco. Vamos aproveitar a oportunidade de crescimento que temos agora, porque todas as métricas de risco e de inadimplência estão melhorando.
No segundo trimestre de 2025, o Mercado Pago ampliou em 91% sua carteira de crédito, na comparação com igual período do ano passado, para US$ 9,3 bilhões. O bom desempenho da fintech ajudou o Mercado Livre a ter um lucro operacional recorde de US$ 825 milhões no período, com receita líquida de US$ 6,8 bilhões. Foram avanços de 13,6% e 34%, respectivamente, na base anual.
O lucro líquido do MELI recuou ligeiramente (-1,5%) sobre o 2T24, afetado por efeitos de câmbio do peso argentino e menores impostos, totalizando US$ 523 milhões. As margens também apresentaram recuo, justificado, segundo Cathcart, pelo aumento dos investimentos realizados no período. O diretor enfatizou que a empresa gera caixa e tem recursos suficientes para fazer os investimentos pesados que estão previstos em todas as frentes de negócios, incluindo a inauguração de novos Centros de Distribuição no Brasil.
“Frete grátis é uma maneira maravilhosa de trazer mais do varejo físico para o mundo online. Depois de uma década de experiência com isso, sabemos que impulsiona conversão, retenção e satisfação do consumidor”, afirmou o diretor, comentando sobre a redução da faixa de isenção da tarifa de frete para compras, que passou de R$ 79 para R$ 19. Ele enfatizou ainda que o foco na logística própria também ajuda a empresa a controlar custos, além de ganhar eficiência com mais tecnologia.
Sites chineses, regulação e dividendos
Sobre concorrência do Mercado Livre, o diretor de RI disse que a companhia já está acostumada ao cenário acirrado, especialmente no Brasil, uma vez que se trata de uma das maiores economias do mundo, com milhões de potenciais clientes. “O Brasil é um mercado com competição intensa. Sempre foi assim (…) Sobre regulação, especialmente em relação aos concorrentes que são de outra região e vendem produtos que são despachados ao Brasil, acho que o ponto mais importante para o MELI em relação a isso é a isonomia tributária“, afirmou o executivo.
Cathcart citou o rebalanceamento da política tarifária no Brasil, que começou em 2023, com o estabelecimento da cobrança de ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) e imposto de importação para plataformas estrangeiras de e-commerce no País. “Isso é fundamental para garantir um ambiente de concorrência leal”, destacou.
Perguntado sobre a possibilidade de o Mercado Livre voltar a distribuir lucro aos acionistas em forma de proventos, algo que a empresa deixou de fazer em 2018, o diretor de RI afirmou que não há essa perspectiva no curto prazo, uma vez que o grupo continua investindo pesadamente no crescimento da operação, agregando valor ao acionista dessa forma, e não diretamente através de dividendos. Confira a entrevista na íntegra com o DRI Richard Cathcart acima, ou clique aqui.