Ninguém trabalha com cenário de Brasil ser cortado do sistema Swift. Foto: AdobeStock
Não é de hoje que o brasileiro busca proteger seu patrimônio da inflação provocada pelas incertezas fiscais e políticas do País, mas o perfil vem mudando. Esse público hoje não se restringe à alta renda e aos investidores mais arrojados em busca de dinamismo financeiro. O mercado internacional passou a atrair também aqueles com perfil mais conservador.
“Os investidores que mantinham seus recursos em poupança e CDBs agora estão migrando para aplicações em dólar, demonstrando uma mudança importante na mentalidade”, afirma Mauricio Garret, chefe da mesa de operações internacionais do Inter.
Paula Zogbi, estrategista-chefe da Nomad, afirma que o acesso facilitado por plataformas digitais é um fator-chave para o crescimento do público que busca não apenas diversidade de produtos, mas proteção. “Os ativos mais buscados são os que funcionam como reservas dolarizadas, a exemplo de ETFs de títulos de curtíssimo prazo do Tesouro americano”, diz.
Segundo o diretor de negócios da Avenue, André Algranti, a distribuição média das carteiras dos clientes internacionais segue o mesmo padrão do Brasil, com cerca de 70% a 80% dos recursos em renda fixa e o restante em ativos de maior risco. “O brasileiro, por natureza, é um investidor de renda fixa”, afirma.
Garret, do Inter, diz que é possível identificar uma evolução gradual por ativos mais arrojados. “Investindo nos EUA, o brasileiro, ao contrário do americano, ainda se destaca pelo perfil mais próximo da renda fixa, mas estamos, aos poucos, vendo uma evolução cada vez maior para a renda variável”, diz.
Proteção real ou ilusão?
Para quem busca proteção contra as turbulências do cenário doméstico — intensificadas pela possibilidade de novas sanções do governo Donald Trump —, plataformas com CNPJ brasileiro podem gerar desconfiança e levantar dúvidas sobre a real blindagem contra riscos político-diplomáticos. Embora ninguém considere plausível que a crise da Lei Magnitsky escale a ponto de o Brasil ser excluído do sistema Swift — que permite transferências financeiras entre bancos no mundo todo —, o temor está presente.
“Se o Brasil for sancionado de maneira mais abrangente, bancos correspondentes podem ser atingidos. É fundamental ter conta em instituições que tenham licença própria no exterior”, diz Xavier, da OZ Corretora. Ele diz que a grande maioria das casas que viabilizam investimentos de brasileiros fora atuam como bancos correspondentes.
Algumas delas ressaltam, no entanto, que mantêm estruturas próprias no mercado internacional para garantir a segurança e a segregação dos recursos de seus clientes. A Nomad, segundo Zogbi, opera com sedes no Brasil e nos EUA, seguindo regulações de ambos os países. “Os valores dos clientes contam com proteção do SIPC e FDIC”, diz a executiva. O SIPC protege ativos de investimento nos EUA em caso de falência da corretora e o FDIC assegura depósitos bancários, como contas em dólar.
Na Avenue, Algranti reforça que os investimentos ficam totalmente segregados. “O patrimônio está fora do Brasil e não se comunica com o sistema financeiro nacional”, afirma.
Serviços e cuidados ao investir
Entre os diferenciais das plataformas, Zogbi destaca conteúdo educacional e consultoria sem comissão na Nomad. Garret ressalta que o Inter não cobra tarifas para operar ações e ETFs, enquanto Algranti aposta em produtos inovadores, como ETFs irlandeses, que oferecem eficiência tributária.
Riscos ocultos: câmbio, tributos e lastro
Além da volatilidade política, o investidor precisa ficar atento aos custos de enviar dinheiro para o exterior. Operações envolvem spread cambial, corretagem e tributação no Brasil, explica Xavier. Mas mesmo com o IOF mais alto, ele afirma que “a estratégia continua valendo a pena”, pois a proteção cambial compensa custos adicionais.
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Por fim, o advogado Emanuel Pessoa alerta para a importância de o investidor manter o lastro dos investimentos em dólar. “Se não houver comprovação de origem dos recursos, a operação pode gerar multas ou até investigação pela Receita Federal e Polícia Federal”, afirma.