A informação foi confirmada por João Vitor Menin, CEO global do Inter, em coletiva concedida pelo executivo na última terça-feira (2). “Comprar em dólar tem de ser fácil para o brasileiro e para o argentino, amanhã para o colombiano, para o mexicano”, apontou o executivo.
A chegada na Argentina, impulsionada pela virada política e econômica promovida por Javier Milei, acontece depois de um primeiro pouso nos Estados Unidos. O banco entrou oficialmente no mercado de capitais americano em 2022, quando realizou a migração das ações listadas na B3 para a Nasdaq, e agora mira os brasileiros que moram nos EUA. O objetivo é suprir as necessidades desse público, que geralmente chega ao país sem histórico de crédito e com acesso limitado a serviços.
Somente no estado da Flórida, o Inter possui presença em duas regiões: um lounge para clientes em Orlando – a poucos metros de uma agência do Banco do Brasil – e um escritório na área de Brickell Key, centro financeiro da cidade de Miami. Foi em uma sala de conferência deste centro que Menin detalhou os planos de expansão do banco, para além dos EUA e, agora, Argentina.
A ambição de longo prazo é posicionar o Inter como uma referência de conta global, com possibilidade de ser utilizada por residentes de diferentes geografias. Sem revelar nomes, Menin estuda outros dois países da América Latina como possíveis novas regiões de interesse para transladar a conta global do Inter.
Depois das Américas, o próximo alvo é o continente europeu. A Ásia, por sua vez, é um território mais distante na rota do Inter. “Quando a gente fala de estarmos no mundo todo, pensamos muito no ocidente, e por vários motivos, como questões culturais e de horário. Podemos um dia estar na China ou no continente africano? Sim. Mas começamos pelas Américas e pela Europa”, afirma Menin.
Até o 2º trimestre deste ano, o banco Inter tinha 40 milhões de clientes. Desse universo, 4,8 milhões possuíam a “Global Account”, conta em dólar da instituição financeira. Esse número representa um crescimento de 166% em relação ao 2º tri de 2023, segundo dados fornecidos pelo Inter.
Apesar do plano ousado de se tornar um player financeiro global, Menin diz não ter no radar aquisições para dar suporte a essa expansão geográfica. “Achamos que o que temos construído hoje já nos possibilita trazer mais clientes e mais negócios”, diz o CEO global do Inter.
Pix? Crédito? O que tem nas malas do Inter
Aterrissar em um país novo não é apenas uma questão de copiar tudo que o Inter já dispõe de tecnologia e serviços em outras geografias. Nem todas as ferramentas disponíveis no mercado financeiro brasileiro estão, atualmente, nas malas do Inter para a Argentina. A área de crédito, por exemplo, não deve ser disponibilizada imediatamente.
“Talvez chegue até lá daqui a cinco anos – vai depender de como estará o contexto do mercado”, afirma Menin. “O importante é que aquilo que se pode replicar em vários países precisa ser feito de maneira rápida e barata. E o que precisamos customizar também é possível, porque temos uma plataforma flexível. Isso nos dá velocidade para chegarmos a um país. Às vezes, apenas com um produto. Depois adicionamos outros.”
O CEO global também não vê espaço para uma internacionalização acelerada do Pix, principal modalidade de transação no Brasil, ainda que novos sistemas de pagamento instantâneo possam surgir ou serem aprimorados. “Nós tínhamos uma ideia de que o Pix serviria de exemplo para outros países, mas não vimos isso acontecendo ainda”, diz o executivo.
Inter: conexão com a alta renda nos EUA
Quem anda pelas ruas de Miami pode encontrar robôs entregadores autônomos paramentados com logos do Inter. Os torcedores do Orlando City, de futebol, e Orlando Pride, do futebol americano, também estão acostumados a verem referências ao banco nos jogos, já que a instituição financeira adquiriu os naming rights do estádio Orlando City Stadium – rebatizado de Inter&Co Stadium.
Em agosto, o lançamento do Inter Passport Credit Card, cartão de crédito sem anuidade para imigrantes brasileiros nos EUA, teve ares de show. O anúncio foi feito no Inter&Co Stadium, após paraquedistas descerem ao campo carregando os cartões.
Há quatro meses, o banco também apresentou ao público o “Inter Prime”, novo segmento do banco para quem tem R$ 150 mil investidos ou gasta no mínimo R$ 7 mil por mês no cartão de crédito. Existe ainda uma terceira via para ser elegível, como assinar o Duo Gourmet, plataforma de descontos em restaurantes. Quem é Prime tem acesso a uma cesta de benefícios e experiências, como chip internacional para viagens, cinco entradas gratuitas no Inter&Co Stadium e descontos no Brightline, trem de alta velocidade que liga Miami a Orlando.
Tudo isso faz parte da estratégia do Inter para conectar a marca à fatia da população, no Brasil ou exterior, que está no meio do caminho entre a altíssima renda e a classe média – e que pode não estar muito bem servida de benefícios, mesmo nos EUA.
“Aqui nos Estados Unidos, o cliente ainda paga, por exemplo, US$ 15 para fazer transferência e receber dinheiro na conta. Para fazer remessa para outro país é complicado, comprar uma ação em uma corretora também não é trivial. Isso, do mercado de forma geral,. Quando você pensa no latino, no imigrante, fica mais difícil ainda”, aponta Menin.