Tesouro Direto mudou site e gerou críticas entre investidores. Foto: Brenda Blossom - stock.adobe.com
Desde agosto, quem entra no site do Tesouro Direto encontra um visual renovado. A página ganhou nova tipografia, ferramentas atualizadas e uma interface repaginada para a consulta de informações. A reformulação, antecipada pelo E-Investidor em abril, integra a estratégia do programa para atrair mais investidores.
Disponibilizada em 15 de agosto e lançada oficialmente em 1º de setembro, a nova página foi desenhada especialmente para iniciantes — aqueles com pouca familiaridade com o Tesouro Direto ou que ainda desconhecem as diferentes opções de títulos públicos.
O projeto contou com o apoio de uma consultoria estrangeira, a Irrational Labs, do professor Dan Ariely, considerad uma referência mundial em ciência comportamental.
Em 2013, Ariely foi eleito pela Bloomberg um dos 50 pensadores mais influentes do mundo.
Com a ajuda de uma referência na área, a equipe do Tesouro Nacional, em parceria com a B3, percebeu que precisava tornar o valor do programa mais visível aos investidores, destacando a segurança, transparência e rentabilidade dos títulos do Tesouro em várias áreas da plataforma.
Outra recomendação foi permitir que o investidor tomasse uma ação prática com poucos cliques. Hoje, logo na página inicial, já é possível buscar o título ideal com um toque em um botão.
Ferramenta permite que investidor encontre título ideal para o seu objetivo. Foto: Reprodução/Tesouro Direto
Mudanças dividem opiniões
Se, de um lado, a meta era tornar a plataforma mais amigável para o investidor iniciante, de outro, os usuários mais experientes sentiram o impacto das mudanças. Nos perfis do Tesouro Direto no Instagram e no YouTube, espalham-se comentários de investidores que reclamam das alterações e pedem a volta da versão anterior do site.
Paulo Marques, coordenador-geral do programa, afirma estar de ouvidos abertos às críticas, discutindo internamente o que faz ou não sentido alterar. “O nosso foco são os brasileiros que não conhecem o Tesouro Direto”, diz. “Quem conhece, por mais que tenha algum atrito inicial com o novo site, já é um investidor.”
Os usuários têm sentido falta do preço unitário (PU) dos títulos, retirado da tabela da plataforma. Segundo Marques, a informação gerava confusão entre os investidores, que acreditavam ser necessário desembolsar todo aquele valor para aplicar no Tesouro. Na prática, o investimento mínimo é de apenas 1% do PU. Antes, existia um limite de R$ 30, que foi eliminado em 2024, como mostramos aqui.
Tabela de preços e rentabilidade dos títulos públicos. Foto: Reprodução/Tesouro Direto
Os investidores mais experientes, que utilizavam o dado como referência para acompanhar os títulos, têm cobrado o retorno do preço unitário. Mas não há garantia de que isso vai acontecer. “Vamos voltar com o PU? Ainda não sabemos. A única coisa que eu posso dizer neste momento é que esse dado para o investidor novo não é interessante e traz complicações”, afirma Marques.
Outra ferramenta que deixou saudades entre os usuários foi o simulador. Antes disponível na página inicial, ele permitia comparar títulos públicos com outros investimentos de renda fixa, como os Certificados de Depósito Bancário (CDBs). Hoje, só pode ser acessado na área logada da plataforma.
A boa notícia, adiantada por Marques: a ferramenta será repaginada e lançada na primeira quinzena de outubro para todos os usuários, com design atualizado. Vale lembrar que ela é diferente da calculadora avançada, usada para projetar variações de preço dos títulos.
Campanha da “Nazaré confusa”
Junto com a B3, o Tesouro lançou em setembro a campanha “O investimento que todo brasileiro entende”, com a participação da atriz Renata Sorrah recriando o meme da “Nazaré confusa”, internacionalmente conhecido como “The Math Lady”. A peça publicitária busca mostrar que, apesar de parecer complicado, o Tesouro Direto é mais fácil do que parece e rende mais que a poupança, além de ser seguro.
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De acordo com Bruna De Caro, superintendente de Marketing da B3, a ideia foi aproximar o Tesouro do público de forma simples e acessível. “O Brasil é o país dos memes e o nosso insight criativo foi usar um dos mais icônicos e multigeracionais, conhecido aqui e no exterior”, afirma.
Tesouro 24/7 e mais novidades
A Bolsa brasileira aponta que um dos principais obstáculos para atrair investidores ao Tesouro é a questão de segurança – em especial a dúvida sobre a facilidade de resgatar o dinheiro quando necessário. O funcionamento do produto nem sempre está claro: muitos não sabem exatamente em quais horários podem investir ou fazer o resgate.
Entra, então, uma outra dificuldade: as operações só são feitas nos dias úteis, em horário comercial, das 9h30 às 18h. Essa realidade, no entanto, deve mudar no próximo ano, com a previsão de que o Tesouro comece a funcionar 24 horas por dia, sete dias por semana.
Segundo Christianne Bariquelli, superintendente de Educação na B3, a proposta busca aumentar a disponibilidade do produto. “Tanto para a pessoa investir na hora em que ela quiser, quanto para resgatar. Vamos destravar uma avenida de crescimento importante para o Tesouro Direto”, diz.
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Bariquelli também ressalta a importância das parcerias com bancos e corretoras, que ajudam a ampliar o interesse das instituições pelas funcionalidades do programa e a atrair mais investidores.
No rol de novidades, além do Tesouro 24/7, está prevista a criação de um título voltado para a formação de reservas de emergência, com remuneração atrelada à Selic e sem risco de perdas com a marcação a mercado. Veja os detalhes aqui.
Ao E-Investidor, Marques, coordenador-geral do programa, adiantou mais novidades: o lançamento de um aplicativo atualizado do Tesouro em 2026 e a entrada de cursos de educação financeira reformulados na plataforma.
Para profissionais da área, o site cumpre a missão de ser acessível para o investidor iniciante. “A navegação guiada ajuda a não se perder entre tantas siglas e opções. Para quem já tem experiência pode parecer simples demais, mas para o público que precisa de apoio a evolução foi clara e assertiva”, avalia Henrique Soares, planejador financeiro CFP pela Planejar.
Segundo ele, a ferramenta que indica o título mais adequado ao perfil do investidor a partir de seus objetivos — como comprar uma casa ou formar uma reserva de emergência — também torna o processo mais intuitivo, sobretudo para quem ainda não domina os conceitos técnicos.
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Mas há limitações. A ferramenta pode não considerar combinações estratégicas, como usar o Tesouro Selic para reservas e o Tesouro IPCA+ para metas de longo prazo. “Se o investidor seguir uma orientação muito rígida, algumas soluções podem ser ignoradas”, explica Jorge Ferreira dos Santos Filho, professor de Administração da ESPM.
Sobre o preço unitário, os profissionais concordam que a informação confunde o iniciante, mas faz falta para investidores avançados na hora de acompanhar a marcação a mercado e planejar alocações mais detalhadas. Santos Filho acredita que o equilíbrio seria exibir o “PU” em um módulo avançado de navegação, reunindo outras informações voltadas a profissionais.
Para quem está começando no Tesouro Direto, especialistas recomendam iniciar pelo Tesouro Selic e, antes de tudo, formar uma reserva de emergência. Também é importante entender a diferença entre manter o título até o vencimento ou resgatar antes, para evitar surpresas com a marcação a mercado e possíveis perdas. “Nunca se esqueça de alinhar cada título a um objetivo específico — como viagem, aposentadoria ou estudos — em vez de investir sem um propósito definido”, destaca Soares.