Ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e mais sete réus estão sendo julgados por tentativa de golpe de Estado. (Foto: Valter Campanato/Agência Brasil)
Nos últimos dias, começou a ganhar corpo dentro do Centrão a articulação de apoio à campanha do Partido Liberal (PL) pela aprovação de uma proposta de anistia. A medida abrangeria não apenas os envolvidos nos atos de 8 de janeiro, mas também o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL).
Até pouco tempo, as principais lideranças do bloco evitavam se comprometer com o tema. A estratégia dominante era simples: deixar Bolsonaro perder capital político, isolá-lo e, assim, abrir espaço para a construção de uma candidatura de centro-direita competitiva nas eleições de 2026.
Esse cálculo, porém, começa a mudar.
A nova estratégia em gestação
O ponto de inflexão está no governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), que tem defendido publicamente um indulto para Bolsonaro, em 2027. Se a anistia for concedida agora, Tarcísio se livra dessa pauta sensível durante a campanha e deixa de ser alvo potencial de pressões do Judiciário, especialmente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), em meio a uma disputa presidencial.
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Em outras palavras, a anistia abre caminho para que Tarcísio possa se projetar sem o desgaste de carregar Bolsonaro e o tema da anistia nas costas, preservando sua relação com setores do Judiciário que deverão condenar o ex-presidente, nas próximas semanas.
Além disso, a proposta pode ser usada como moeda de troca: Bolsonaro, livre do risco de prisão, retribuiria com apoio político direto à eventual candidatura de Tarcísio.
O papel de Davi Alcolumbre
Um dos atores centrais neste tabuleiro é o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP). Oficialmente, ele tem defendido que Bolsonaro fique de fora da proposta de anistia. Mas, na prática, a dinâmica pode ocorrer de forma diferente.
Uma vez que o projeto chegue ao plenário, ele pode ser desconfigurado por emendas apresentadas justamente pelo Centrão, bloco do qual ele próprio faz parte.
Assim, mesmo partindo de uma proposta mais restrita, o resultado pode ser uma anistia ampla, que inclua o ex-presidente.
O efeito prático da anistia
É válido lembrar que, uma vez anistiado, Bolsonaro seguirá inelegível até 2030 em razão da condenação no TSE, que em julho de 2023 reconheceu abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação, na reunião com embaixadores em 2022.
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A diferença é que, sem a ameaça de prisão, Bolsonaro preservaria relevância política e poderia se colocar como fiador da candidatura de Tarcísio, garantindo a este o apoio de uma base mobilizada e fiel.
Juntando as peças, o Centrão começa a enxergar na anistia não apenas um gesto de conciliação, mas um movimento estratégico de reposicionamento. Ao mesmo tempo em que neutraliza um desgaste para Tarcísio, mantém Jair Bolsonaro como peça política útil, domesticado, inelegível, mas ainda capaz de transferir votos.