Única tela: abrir contas em várias instituições ajuda a buscar melhores taxas, mas complica a gestão do patrimônio. Foto: AdobeStock
O Tesouro Selic é o investimento mais seguro, mas sua liquidez tem limitações. Fora do horário comercial, fins de semana e feriados, o resgate não é imediato. O Tesouro Direto anunciou seu funcionamento 24×7, mas isso ainda não é realidade. Já os CDBs de bancos e fintechs oferecem liquidez 24h, tornando-se aliados estratégicos na reserva de emergência.
Esse é apenas um dos motivos que fazem ser cada vez mais comum os investidores manterem contas em diferentes bancos e corretoras. Só que essa diversificação traz um desafio: como consolidar em uma única tela a carteira de investimentos para acompanhar a rentabilidade e a alocação em tempo real?
Em 10 anos, o número de contas por investidor saltou de duas para até oito, afirma Cassio Bariani, sócio-fundador da SmartBrain. A empresa oferece soluções para profissionais de assessoria e consultoria consolidarem os investimentos de seus clientes em uma única plataforma. “Dentro do universo que a gente cobre, um investidor tinha conta em um, dois bancos. Hoje ele tem um banco, três corretoras, uma distribuidora, e assim sucessivamente”, diz.
A diversificação em plataformas possibilita buscar diversos produtos de investimento do mercado, mesmo sem sair da renda fixa. Produtos de emissão privadas, como Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCIs e LCAs), têm a vantagem da isenção do Imposto de Renda e cada emissor trabalha com taxas de retorno diferentes.
“Às vezes, o mesmo título é emitido por dois bancos com variações na rentabilidade, e observar isso traz uma vantagem adicional para a carteira”, diz a influenciadora financeira Elisiane Moreira. Ela lembra ainda que o investidor brasileiro tem facilidade hoje para diversificar investimentos fora do País, o que amplia ainda mais a relação com novas plataformas.
Buscar ajuda profissional ajuda na gestão
Claudio Ianface Junior, economista e sócio da The Hill Capital, lembra que abrir contas em diferentes instituições pode ajudar na busca por taxas e produtos melhores, mas também dificulta a gestão do patrimônio de forma consolidada.
“O fundamental é ter clareza sobre o patrimônio total e, sempre que possível, buscar o apoio de um assessor de investimentos para consolidar esses dados e garantir que a estratégia esteja alinhada aos objetivos de longo prazo”, comenta.
Atualmente, há no mercado ferramentas com alguns recursos gratuitos que permitem essa integração, a exemplo de Status Invest, Hub3, Investidor10 e Kinvo. Gorila é outra plataforma que nasceu focada no investidor final e mudou o negócio para a venda B2B para os profissionais do mercado financeiro. “Para o cliente pessoa física, esse processo é mais difícil. As ferramentas que fazem o processo automático de input de dados não são 100% completas”, diz Cassio Bariani.
Segundo o executivo, nem todas as informações de movimentação de investimentos são integradas automaticamente, o que limita a visão completa das carteiras em plataformas gratuitas. Em muitos casos, os dados precisam ser registrados manualmente, por meio de sistemas de boletagem ou upload de arquivos, processo geralmente realizado pelos assessores de investimentos. Por isso, ferramentas abertas ao público acabam exibindo apenas uma parte dos ativos do investidor.
Open finance trouxe evolução, mas não está completo
O Open Finance, por outro lado, já permite que o investidor consolide suas informações financeiras em uma única plataforma, visualizando toda a evolução de sua carteira diretamente na conta do banco ou corretora de sua preferência. A maioria deles já oferecem esse serviço aos clientes na primeira tela dos aplicativos. Quem tem interesse precisa apenas autorizar o compartilhamento dos dados, que são buscados automaticamente em diferentes instituições.
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Empresas como a SmartBrain e Gorila se beneficiam desse processo, pois são contratadas por bancos e corretoras para fornecer a tecnologia que viabiliza essa integração. O sistema, no entanto, ainda está em evolução e deve melhorar significativamente quando as APIs – interfaces que permitem a comunicação entre sistemas diferentes – estiverem normalizadas.
Hoje ainda há lacunas de dados, integrações parciais, e nem todas as instituições têm tecnologia ou estão plenamente homologadas para todas as funcionalidades. A evolução gradual está prevista nas normas e cronogramas do Banco Central que tornará esse tipo de serviço obrigatório em breve, fazendo com que os bancos integrem as informações de forma padronizada. “Isso vai facilitar muito a captura de dados permitindo que toda a carteira de investimentos seja visualizada com muito mais precisão e agilidade”, afirma Bariani.