Ibovespa renova recorde depois de Trump anunciar reunião com Lula; dólar cai ao menor valor do ano
O presidente dos Estados Unidos afirmou ter "gostado" do presidente Lula durante o breve encontro que tiveram nos corredores da Assembleia; veja os destaques
Mesmo com a correção recente, o Ibovespa segue em trajetória de alta. Analistas destacam suporte sólido e miram os 147 mil pontos como próximo objetivo. | Imagem: Adobe Stock
O Ibovespa hoje intensificou o ritmo de alta e fechou no maior nível da sua história, perto da faixa dos 146,5 mil pontos, com as atenções do mercado nos discursos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump na Assembleia Geral da ONU, em Nova York. Entre as afirmações de Lula, em fala indireta aos EUA, ele disse que “falsos patriotas arquitetam ações contra o Brasil”. Apesar do tom do discurso do presidente do Brasil, Trump fez aceno a Lula quando falou na ONU logo depois. Prometeu uma reunião entre os dois – o que o mercado interpretou como uma brecha para a negociação das tarifas de 50% impostas pelos EUA ao Brasil
No fechamento, o Ibovespa subiu 0,91%, aos 146.424,94 pontos. Mais cedo, chegou a atingir máxima a 147.178,47 pontos, patamar nunca antes observado pelo principal índice da B3.
O presidente dos Estados Unidos afirmou ter “gostado” do presidente Lula durante o breve encontro que tiveram nos corredores da Assembleia. “Ele parece ser um homem muito legal”, disse no discurso. “Eu gostei dele e ele gostou de mim. E eu apenas faço negócios com pessoas de quem eu gosto.”
O republicano disse ainda que os dois concordaram em marcar uma reunião. “Lula e eu nos abraçamos e concordamos em nos encontrar”, disse, confirmando que o encontro ocorrerá na próxima semana. Apesar do gesto diplomático, Trump fez críticas ao Brasil. Ele afirmou que o País “enfrenta grandes tarifas por tentar censurar cidadãos americanos” e acusou o governo brasileiro de “perseguir opositores políticos nos EUA”. O republicano contou que passou por Lula ao subir ao púlpito e “não imaginava falar isso sobre o Brasil”, mas defendeu que medidas tarifárias são um “mecanismo de defesa para os americanos” e uma forma de “garantir a soberania dos EUA”.
No câmbio, o dólar hoje caiu ante o real. A moeda americana fechou em baixa de 1,11% a R$ 5,2791, menor cotação do ano e a mais baixa desde 6 de junho de 2024.
Assista aos pronunciamentos no vídeo a seguir.
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A ata do Comitê de Política Monetária (Copom), para detalhar a decisão de manter a Selic em 15% ao ano, também seguiu no radar dos investidores. Ao explicar a decisão da semana passando, quando a Selic foi mantida em 15% ao ano, o Copom afirmou que, após uma firme elevação dos juros, optou por interromper o ciclo e avaliar os impactos acumulados.
Para o economista-chefe da Ativa Investimentos, Etore Sanchez, “reafirmou-se o firme compromisso com o mandato do Banco Central de levar a inflação à meta”. Com isso, a Ativa mantém sua perspectiva de que a Selic permanecerá em 15,00% até meados de 2026.
Entre as blue chips, destaque para a recuperação nas ações de grandes bancos, em especial as do público Banco do Brasil (BBAS3, +2,88%). Petrobras (PETR3) avançou 2,64% e a PETR4, 1,69%. Na ponta ganhadora do índice, Pão de Açúcar (PCAR3, +4,12%), RD Saúde (+3,92%) e Localiza (+3,73%).
No lado oposto, MBRF (o papel que passou, nesta sessão, a reunir Marfrig e BRF, -6,72%), Braskem (-2,38%) e Lojas Renner (-2,15%). Vale (VALE3), principal papel da carteira Ibovespa, virou do meio para o fim da tarde e fechou em baixa de 0,57%, limitando um pouco o fôlego do índice no encerramento. “Havia muita cautela com relação ao discurso de Lula na ONU e à situação diplomática entre os dois países. O que veio foi bem mais ameno, no sentido de reaproximação, o que trouxe efeito também favorável para o câmbio na sessão”, diz Cristiane Quartaroli, economista-chefe do Ouribank
Ibovespa hoje: os principais assuntos desta terça-feira (23)
Bolsas de NY fecham em queda após recordes
As bolsas europeias fecharam maoritariamente em alta reagindo ao avanço dos índices de gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) da Alemanha e da zona do euro, que vieram acima de 50, sugerindo expansão, além do noticiário corporativo envolvendo a Heineken. Ainda que tenha ficado em 51, o PMI do Reino Unido caiu em setembro ao menor nível em quatro meses, o que pode reforçar juro estável por mais tempo.
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Já os índices de ações de Nova York fecharam em queda, depois de Wall Street avançar a novos recordes pelo terceiro pregão seguido ontem. Nasdaq caiu 0,95%, enquanto Dow Jones e S&P 500 registraram perdas de 0,19% e 0,55%, respectivamente.
Na Ásia, as bolsas fecharam com sinais divergentes, com recordes em Seul e Taiwan.
Ata do Copom reforça tom vigilante
P Copom decide manter Selic em 15% ao ano. (Foto: Adobe Stock)
A ata do Copom, divulgada nesta terça-feira (23), reforçou sua postura “vigilante” da última reunião e repetiu que os próximos passos do colegiado podem ser ajustados.
Na última quarta-feira (17), o Copom decidiu manter os juros em 15% ao ano e manteve a mensagem de que, para assegurar a convergência da inflação à meta, em um ambiente de expectativas desancoradas, requer “uma política monetária em patamar significativamente contracionista por período bastante prolongado”.
Também voltou a dizer que tem acompanhado os anúncios referentes à imposição de tarifas comerciais pelos Estados Unidos ao Brasil e como os desenvolvimentos da política fiscal doméstica impactam a política monetária e os ativos financeiros, “reforçando a postura de cautela em cenário de maior incerteza”.
Acrescentou que o cenário segue marcado por expectativas desancoradas, projeções de inflação elevadas, resiliência na atividade econômica e pressões no mercado de trabalho. O colegiado também mencionou novamente que a elevada incerteza no cenário demanda cautela na condução da política monetária e reforçou a disposição para reagir, se necessário.
“O Comitê seguirá vigilante, avaliando se a manutenção do nível corrente da taxa de juros por período bastante prolongado é suficiente para assegurar a convergência da inflação à meta. O Comitê enfatiza que os passos futuros da política monetária poderão ser ajustados e que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso julgue apropriado”, disse, no parágrafo 21.
O colegiado repetiu as projeções de inflação acumulada em 12 meses, já apresentadas no comunicado, para 2025 (4,8%), 2026 (3,6%) e o primeiro trimestre de 2027 (3,4%) — este último, o horizonte relevante da política monetária. Todas as estimativas estão acima do centro da meta, de 3%.
Esses e outros dados do dia ficaram no radar de investidores e impactaram as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o índice Ibovespa hoje.
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*Com informações de Marianna Gualter, Cícero Cotrim, Maria Regina Silva e Luciana Xavier, do Broadcast