O dólar hoje opera em baixa após dados do desemprego, medidos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), nas mínimas históricas, com crescimento da renda média do brasileiro. O mercado também segue atento à possível paralisação do governo dos Estados Unidos após a falta de consenso no Congresso americano. Por volta das 10h15, o dólar caía 0,15%, a R$ 5,31. Na mínima, a moeda chegou a R$ 5,304.
A taxa de desemprego no trimestre móvel de junho a agosto ficou em 5,6%, segundo o IBGE. O número ficou dentro do esperado pelo mercado, segundo as projeções do Broadcast, que estimava a taxa de desemprego em 5,6%. O índice repete o trimestre encerrado em julho, e segue no patamar mais baixo desde 2012, início da série histórica da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua.
Entre os trimestres comparáveis, o desemprego era de 6,2% no trimestre encerrado em maio e de 6,6% no mesmo período do ano passado. Com o resultado, são 6,1 milhões de pessoas desocupadas no país no trimestre até agosto, o menor contingente da série, que caiu 9,0% (menos 605 mil pessoas) frente ao trimestre até maio.
A alta na ocupação foi puxada pelo recorde na quantidade de empregados no setor privado (52,6 milhões de pessoas), grupo que ficou estável frente o trimestre até maio e cresceu 1,5% (mais 768 mil pessoas) em relação ao trimestre até agosto de 2024.
O contingente de empregados com carteira assinada no setor privado (excluindo trabalhadores domésticos) também foi recorde (39,1 milhões), com estabilidade no trimestre e alta de 3,3% (mais 1,2 milhão de pessoas) no ano. Já o número de empregados sem carteira no setor privado (13,5 milhões) ficou estável no trimestre e recuou 3,3% (menos 464 mil pessoas) no ano.
O rendimento médio chegou a R$ 3.488 no trimestre até agosto, com estabilidade frente ao trimestre até maio e alta de 3,3% em relação ao mesmo trimestre de 2024. Com isso, a massa de rendimento médio real chegou a R$ 352,6 bilhões de reais, com alta de 1,4% frente ao trimestre até maio e de 5,4% frente ao mesmo trimestre de 2024.
Em suma, o dado reforça que a economia brasileira continua aquecida, mantendo as expectativas de manutenção da Selic em 15% ao ano ao longo de 2025. Ao mesmo tempo, o mercado precifica cortes de juros nos Estados Unidos. A queda nos juros dos EUA deixa menos atraente o rendimento dos Treasuries, os títulos públicos americanos, ainda considerados um dos investimentos mais seguros do mundo.
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Isso faz com que investidores estrangeiros busquem aplicar pelo menos parte de seus recursos em mercados com um “prêmio de risco” (juro) maior, como o Brasil. E uma entrada maior de dólares por aqui aumenta a oferta da divisa no mercado nacional e tende a reduzir sua cotação em relação ao real.
Para André Valério, economista sênior do Inter, o resultado da Pnad continua a indicar um mercado de trabalho extremamente robusto, com ganhos na renda real e manutenção do nível de ocupação em patamar recorde. Porém, analisando os ganhos de ocupação por grupamento de atividade, nota-se que eles ocorreram em setores menos sensíveis ao ciclo econômico, no caso a agricultura e o setor público, enquanto o grupamento de serviços domésticos apresentou redução na ocupação e o restante ficou estável.
Segundo ele, os dados da Pnad, em conjunto com os do Caged divulgados ontem, sugerem a manutenção da robustez do mercado de trabalho brasileiro. No entanto, o Caged aponta para uma perda de dinamismo no ritmo de contratações, sem maiores pressões nas demissões, enquanto a Pnad indica estabilidade na taxa de desocupação.
“Apesar de ser apenas um dado no tempo, fica a expectativa se o resultado de hoje é um ponto de inflexão na dinâmica do mercado de trabalho, indicando perda de dinamismo nos próximos meses à medida que o aperto monetário é sentido na atividade real. Nós esperamos ser o caso, com a taxa de desemprego avançando até 5,8% ao fim do ano e continuando sua deterioração ao longo de 2026, quando esperamos que atinja 6,5%”, diz Valério
Paralisação nos Estados Unidos pesa sobre o dólar hoje
O mercado também segue atento a possível paralisação no governo americano. O presidente dos EUA, Donald Trump, alertou que ocorrerão demissões em massa se seu governo não conseguir evitar uma paralisação nesta semana. “Vamos cortar muitas das pessoas que pudermos de formar permanente”, disse Trump, em entrevista à NBC News transmitida no domingo (28). “Eu preferiria não ter de fazer isso”, acrescentou ele.
Ontem, o líder da minoria no Senado dos EUA, Chuck Schumer, disse após a reunião com o presidente americano, Donald Trump, que pela primeira vez o republicano escutou as alegações dos democratas, mas enfatizou que ainda existem grandes diferenças entre os dois lados. O comentário acontece sob tensões de uma possível paralisação do governo.
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“Cabe aos republicanos decidir se querem ou não uma paralisação. Nós fizemos propostas e, em última análise, Trump é quem toma as decisões”, disse para jornalistas fora da Casa Branca.
Citi vê dólar a R$ 5,44 ao fim de 2025
Mais cedo, o Citi afirmou em relatório que a recente queda nos preços das commodities intensificará o déficit em conta-corrente, limitando uma apreciação adicional do real. No cenário projetado, o dólar deve ser cotado a R$ 5,44 no final de 2025 e a R$ 5,53 no fim de 2026. Ontem, o dólar à vista fechou em queda de 0,30%, a R$ 5,3223.
Os analistas destacam a recente valorização do real, com o dólar cotado a cerca de R$ 5,30, e que a apreciação de 16% da moeda brasileira em relação ao final de 2024 é resultado principalmente de fatores globais, como a desvalorização do índice DXY, que caiu de 108 para 98.
O banco aponta que o desempenho do real mantém alguma paridade com o de moedas de mercados emergentes. Apesar disso, o fortalecimento da moeda brasileira, junto à robusta demanda doméstica, está impulsionando as importações, segundo o Citi, reduzindo o superávit comercial e amplia o déficit em conta-corrente para 3,5% do PIB.
Este porcentual é maior que a média histórica de 2,3% do PIB registrada desde 1995, e não é totalmente coberto pelos Investimentos Diretos no País, que atualmente representam 3,2% do PIB. “O declínio recente nos preços de commodities é outro elemento que intensifica o déficit em conta-corrente, o que nos leva a ver as contas externas restringindo apreciação adicional do real”, diz o Citi. Para mais informações sobre o dólar hoje, clique aqui.