Ibovespa hoje perde os 142 mil pontos com cautela fiscal em meio à votação de IR sobre investimentos e encontro entre Lula e Trump; dólar sobe a R$ 5,33
Adiamento da votação da MP 1.303 e incertezas sobre o IOF aumentam a preocupação fiscal na Bolsa. Veja como o Ibovespa reage
Exterior fica indefinido com paralisação nos EUA e Fed no radar, e local mira Haddad. (Foto: Adobe Stock)
OIbovespa hoje intensificou queda após a abertura desta terça-feira (7), perdendo o nível dos 142 mil pontos. Às 11h13 (de Brasília), o índice renovou mínima aos 141.737 pontos, com recuo de 1,30%. O mercado fica de olho na Medida Provisória que altera a tributação de investimentos, com votação prevista para hoje. No exterior, a paralisação do governo americano completa uma semana.
A cautela fiscal no Brasil e o viés de baixa do petróleo (-0,20%) impedem o principal índice da B3 hoje de subir, mesmo com o tom positivo em Nova York.
As incertezas envolvendo a votação da medida provisória (MP) 1.303/2025, com alternativas à alta do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF), elevam as preocupações com o fiscal. A comissão mista adiou a votação da MP do começo desta manhã para as 15h30, agravando o sinal de alerta para o governo em relação às contas públicas.
Após a alteração, o deputado Carlos Zarattini (PT-SP), relator da MP, disse que o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), pediu para adiar a votação para debater com líderes. Conforme ele, a tributação das fintechs está mantida como no texto da medida provisória original. Já o líder do governo no Congresso, Randolfe Rodrigues (PT-AP), afirmou que o governo busca construir uma composição da MP que atenda a todos, reforçando a necessidade de cumprimento do arcabouço fiscal.
A preocupação fiscal se sobrepõe ao avanço nas conversas comerciais, após ontem os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump conversarem por 30 minutos, dando início a um processo de negociação após a escalada de tensões entre os dois países.
“Nós realmente precisamos que os Estados Unidos recuem em relação a essas tarifas exacerbadas que foram colocadas contra o Brasil. Pelo menos já foi dado um passo político, uma porta se abriu, mas ainda não dá para comemorar. A gente ainda está sendo bastante penalizado pelos Estados Unidos”, avalia Alison Correia, analista de investimentos e co-fundador da Dom Investimentos.
Para Alvaro Bandeira, coordenador de Economia da Apimec Brasil, a conversa entre os governos do Brasil e dos EUA desafoga um pouco a pressão sobre o país, embora a designação de Marco Rubio não tenha sido bem vista. “Scott Bessent seria melhor, é mais flexível e maleável para negociar. O fato de terem trocado telefones pode facilitar, amainar um pouco a negociação”, estima, acrescentando que investidores seguem preocupados com o déficit fiscal global.
Publicidade
No câmbio, o dólar hoje segue firme ante rivais e ante o real. Às 11h13 (de Brasília), a moeda americana subia 0,41% ante o real, a R$ 5,33 na venda.
Ibovespa hoje: os principais assuntos para acompanhar nesta terça (7)
Bolsas globais mostram fôlego curto com paralisação dos EUA
Os índices em Nova York estão indefinidos, enquanto o Nasdaq tenta subir impulsionado pelo salto de quase 180% da ação da Trilogy Metals, após anúncio de investimentos do governo na exploração mineral no Alasca.
Os rendimentos dos Treasuries (títulos da dívida estadunidense) operam estáveis, odólar hoje segue firme e o ouro superou brevemente a marca de US$ 4 mil pela primeira vez, reagindo à rejeição no Senado dos EUA de nova proposta orçamentária para encerrar a paralisação do governo dos EUA.
Investidores aguardam discursos de dirigentes do Fed antes da divulgação da ata da última reunião monetária, na quarta-feira (8). O presidente do Fed de Kansas City, Jeffrey Schmid, disse que o esfriamento do mercado de trabalho ajuda a conter a inflação, mas alertou para o risco de fraqueza maior e descartou cortes agressivos de juros.
Na Europa, as bolsas ensaiavam uma melhora, com destaque para a França, após a renúncia do premiê Sébastien Lecornu.
Negociação entre Lula e Trump avança
O presidente americano disse querer “fazer negócios com o Brasil” e confirmou futuros encontros presenciais. Lula, por sua vez, pediu o fim da tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, das sanções a ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) e que o secretário de Estado, Marco Rubio, dialogue com o Brasil “sem preconceito”.
Publicidade
Rubio tratará diretamente com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Geraldo Alckmin (Desenvolvimento) e Mauro Vieira (Relações Exteriores). Haddad viaja aos EUA na próxima semana para reunião com o secretário do Tesouro, Scott Bessent.
MP do IR sobre investimentos pode ser votada hoje
A Câmara dos Deputados tem até quarta-feira (8) para votar na Medida Provisória 1.303 que estabelece uma série de regras de tributação sobre os investimentos. O texto trata-se de uma das principais apostas do governo para equilibrar as contas públicas e surgiu como alternativa à elevação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF).
A MP tem arrecadação projetada de R$ 10,5 bilhões em 2025 e de R$ 21,8 bilhões em 2026, mas a expectativa é que a proposta sofra desidratação até ser aprovada. O líder do PT na Câmara dos Deputados, Lindbergh Farias (PT-RJ), afirmou nesta segunda-feira (6) que o governo busca “salvar a maior parte” da medida provisória, mas admitiu que terá que fazer concessões para que o texto seja aprovado no Congresso.
“Nós estamos falando em R$ 35 bi, na parte de arrecadação R$ 20 bilhões. O governo está tentando agora salvar a maior parte disso. Salvar R$ 15 ou R$ 17 bi. O governo vai ter que fazer concessões, isso está claro para todo mundo”, disse Lindbergh, ao deixar a reunião entre líderes da Casa e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. O encontro ocorreu na residência oficial do presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB).
A MP 1.303/25, que muda as regras de tributação de investimentos financeiros, pode ser finalmente votada nesta terça-feira (7) pela comissão mista do Congresso, às vésperas de expirar.
A medida integrava o pacote fiscal do governo e tinha como objetivo revisar as isenções de imposto de renda sobre investimentos como Letras de Crédito Imobiliário e do Agronegócio (LCI e LCA) e debêntures incentivadas, mas não avançou. Dessa forma, a alteração mais significativa deve ser a implementação de uma alíquota única de 17,5% para a maior parte das aplicações financeiras.
A entrevista do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, à EBC deve ganhar os holofotes do Ibovespa hoje, assim como a repercussão do diálogo entre os presidentes Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Donald Trump. Nos Estados Unidos, a paralisação do governo completa uma semana, impedindo a divulgação dos dados oficiais e deslocando o foco para declarações de dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central americano).
A agenda econômica desta terça-feira (7) também traz a divulgação do Índice Geral de Preços – Disponibilidade Interna (IGP-DI) de setembro, enquanto o Tesouro faz leilões de venda de Notas do Tesouro Nacional – Série B (NTN-B, títulos públicos com rendimento atrelado à inflação) e de Letra Financeira do Tesouro (LFT, título pós-fixado com rentabilidade atrelada à taxa de juros).
Publicidade
O presidente Lula se reunirá com os ministros, além dos presidentes do Banco Central (BC), Gabriel Galípolo, e da Caixa, Carlos Vieira, para tratar do lançamento ainda em outubro do programa de crédito para reformas de casas.
No exterior, as atenções ficam em dirigentes do Fed de Atlanta, Raphael Bostic; na vice-presidente de Supervisão, Michelle Bowman; no diretor Stephen Miran; e no presidente da distrital de Minneapolis, Neel Kashkari.
Ainda, o Fed divulga dados sobre crédito ao consumidor em agosto, e a presidente do Banco Central Europeu (BCE), Christine Lagarde, fala pela tarde.
Esses e outros dados do dia ficam no radar de investidores e podem impactar as negociações na bolsa de valores brasileira, influenciando o Ibovespa hoje.
Publicidade
*Com informações de Silvana Rocha e Maria Regina Silva, do Broadcast