A decisão da Vale(VALE3) de oferecer a recompra de até 100% de seus títulos perpétuos é inteligente, vantajosa e faz sentido, disseram os analistas de Genial Investimentos, Itaú BBA e XP Investimentos, em relatórios. A mineradora anunciou na segunda-feira (6) o início da oferta para aquisição facultativa, pela companhia, de até a totalidade das debêntures participativas de sua 6ª emissão.
No pregão de ontem, VALE3 se aproximou do patamar de R$ 60. Nesta terça-feira, as ações da Vale operam em queda de 0,29%, a R$ 59,42, segundo as cotações das 11h30.
Segundo a empresa, existem atualmente 388.559.056 debêntures em circulação e o preço a ser pago pela companhia por cada uma delas, no âmbito da oferta, será de R$ 42,00. O preço de aquisição é fixo e não será alterado até a Data de Aquisição Facultativa. Os titulares poderão manifestar sua intenção de alienação à companhia até as 19h20, do dia 31 de outubro.
“A previsão da parte do preço de aquisição referente ao prêmio de aquisição é R$ 41,92 por debênture, que representa 52.400% sobre o valor nominal unitário atualizado”, diz a Vale.
As debêntures participativas da 6ª emissão vêm do processo de privatização da Vale, para dar aos investidores que detinham ações da companhia, então estatal, o direito de participar de eventuais benefícios futuros da exploração mineral da empresa. Assim, os papéis funcionaram como um mecanismo de compensação para antigos acionistas participarem nos lucros da exploração de jazidas.
Para os analistas da XP Investimentos, a decisão da mineradora é financeiramente vantajosa. A corretora parte da comparação entre o retorno implícito desses títulos, estimado em cerca de 10% em termos reais, e o custo médio de captação da companhia, de aproximadamente 5,5%.
Para chegar a esse número, os analistas Lucas Laghi, Guilherme Nippes e Fernanda Urbano adotaram a mesma premissa de desembolso utilizada no primeiro semestre de 2025, cerca de 1% da receita de minério de ferro, como um equivalente próximo das saídas previstas com a remuneração dos debenturistas nos próximos anos.
Com base nisso, calculam que, ao preço proposto de R$ 42 por debênture, o retorno para a Vale ficaria entre 9% e 10% reais, representando um prêmio em torno de 15% sobre as cotações de R$ 36 a R$ 37 em que os papéis vinham sendo negociados.
A XP ressalta que, considerando o menor custo da dívida da mineradora, a iniciativa faz sentido: ao financiar a operação a 5,5% ao ano, o Valor Presente Líquido (VPL) estimado chega a US$ 1,2 bilhão, equivalente à de 2,5% do valor de mercado da Vale. A corretora, contudo, observa que ainda não está claro qual será a taxa de adesão dos detentores dos títulos à oferta.
Publicidade
Embora enxergue a recompra como correta em termos de alocação de capital, a XP pondera que a operação reduz a probabilidade de dividendos extraordinários no curto prazo. Isso porque as debêntures não entram no conceito de dívida líquida expandida definido pela empresa, cujo alvo varia de US$ 10 bilhões a US$ 20 bilhões. Caso todo o lote seja adquirido a R$ 42 por papel, os passivos da Vale poderiam aumentar em cerca de US$ 3,1 bilhões, levando o indicador de alavancagem projetado pela corretora para o fim de 2025 a aproximadamente US$ 15,7 bilhões.
Vale pode gastar até R$ 16 bilhões em recompra, mas medida é inteligente
Em encontro com analistas, o CFO da Vale, Marcelo Bacci, disse que a Vale poderá despender aproximadamente R$ 16 bilhões se comprar todas as debêntures, mas para a Genial o eventual desembolso é financeiramente inteligente e estrategicamente coerente com o plano de gestão de passivos.
Na ocasião, Marcelo Bacci descreveu as debêntures participativas como um instrumento perpétuo, não contabilizado como dívida. Embora as debêntures não entrem na dívida líquida expandida, o analista da Genial frisa que elas exercem pressão contínua sobre o fluxo de caixa livre (FCF) por meio dos pagamentos semestrais vinculados ao Índice Geral de Preços – Mercado (IGP-M).
Conforme a Genial, esse instrumento não integra a estrutura de dívida da empresa, mas é tratado internamente como uma obrigação permanente de fluxo de caixa. “Entendemos que o anúncio atual materializa a intenção de eliminar uma obrigação de custo relativamente alto, por ser complexa e economicamente onerosa, cujo custo efetivo (cerca de 12% em 12 meses) parece incompatível com a disciplina de alocação de capital atual da companhia”, afirmou Igor Guedes, que assina o relatório da Genial.
Itaú BBA vê pontos negativos para investidor que não aderir à oferta
Na avaliação do Itaú BBA, a medida faz sentido financeiramente. No entanto, há pontos negativos ligados à liquidez desses instrumentos de dívida. Nas contas do analista Daniel Sasson, a medida equivaleria a um desembolso máximo de US$ 3,1 bilhões, caso todos os debenturistas aceitem participar da oferta.
“Na nossa visão, é possível que a empresa já tenha alguma sensibilidade sobre a quantidade de investidores que provavelmente aceitariam vender os títulos no preço proposto”, escreveu o analista, em comentário enviado a investidores.
O banco calcula que a debênture tem um custo implícito de 10% em termos reais, bastante acima do custo médio de dívida da Vale, que hoje está na casa de 5,5%. Do lado negativo, a adesão à oferta por parte de alguns detentores dos títulos vai reduzir a liquidez do instrumento. “Isso é negativo para os investidores que decidirem não aderir à oferta”, diz Sasson.
Desse modo, os analistas concluem que a medida da Vale (VALE3) é positiva para companhia por aumentar a previsibilidade do fluxo de caixa livre, mesmo que a recompra das debêntures reduza o espaço para o pagamento de dividendos extraordinários.