Empresas brasileiras enfrentam riscos de liquidez com eventos de crédito recentes (Foto: Adobe Stock)
As empresas brasileiras como Ambipar (AMBP3), Braskem (BRKM5), Master podem enfrentar liquidez e condições de financiamento mais restritas nos próximos meses caso os recentes eventos de crédito prejudiquem a confiança dos investidores, afirma a Fitch Ratings.
As classificações podem se deteriorar à medida que o acesso a capital a custo competitivo diminui. Empresas com necessidades iminentes de refinanciamento e acesso limitado aos mercados internacionais, que representam cerca de 10% da carteira classificada pela Fitch no país, seriam as mais vulneráveis.
Diversos acontecimentos ameaçam o mercado de dívida local do Brasil, que apresentou fortes condições de liquidez nos últimos 12 a 18 meses.
Em 26 de setembro, a Fitch rebaixou, para CCC+/CCC+(bra), os ratings da Braskem, maior petroquímica da América Latina, após a companhia contratar assessores financeiros para avaliar alternativas para sua estrutura de capital, sinalizando uma reestruturação ou ações de dívida que podem ser prejudiciais a credores.
Em 25 de setembro, a agência rebaixou, para C/C(bra), os ratings da Ambipar, que entrou inesperadamente em um processo semelhante ao de inadimplência, após ter obtido uma tutela cautelar para suspender cláusulas contratuais que acionariam a aceleração de suas dívidas.
No início de setembro, o Banco Central (BC) rejeitou a proposta de fusão do Banco Master (B-/Observação Negativa) com o Banco de Brasília (BRB, B-/Observação Negativa), reacendendo preocupações sobre a estabilidade da captação e a capacidade de geração de resultados da instituição privada. O Banco Master tem papel importante no mercado de fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs), uma importante fonte de captação de algumas empresas, especialmente nos setores de varejo e consumo.
Uma queda acentuada no acesso a capital a custo competitivo pressionará empresas com necessidades de refinanciamento no curto prazo, considerando que linhas de crédito rotativo compromissadas não são comuns no Brasil, afirma a agência.
Embora o perfil de vencimento de dívida da carteira classificada pela Fitch seja razoavelmente bem distribuído, cerca de 10% dos emissores classificados podem enfrentar maiores riscos de refinanciamento se houver deterioração das condições de liquidez. Estas empresas têm índices caixa/dívida de curto prazo abaixo de 1,0 vez e dívida de curto prazo superior a 30% da dívida total. Muitos destes emissores são de pequeno porte e apresentam reduzida diversificação no setor de saúde, sendo outros distribuídos em diferentes setores. A Fitch classifica estas empresas apenas com ratings em escala nacional.
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Em junho de 2025, 23% da dívida local da carteira corporativa da Fitch vencia em 2025-2026. As fortes condições de liquidez permitiram que as empresas se refinanciassem, com os emissores classificados emitindo mais de R$ 39 bilhões no terceiro trimestre de 2025. A reação do mercado permanece limitada, com blue chip locais, com ratings elevados, mantendo forte acesso à captação. No entanto, há potencial para uma busca por qualidade, o que pode gerar condições mais restritas para empresas com indicadores de crédito mais fracos.
Os riscos de liquidez de curto prazo são mitigados por políticas conservadoras de alocação de capital adotadas nos últimos dois anos em resposta às elevadas taxas de juros. As empresas reduziram investimentos e cortaram dividendos, em parte em resposta à elevação da Selic. A Fitch projeta fluxo de caixa livre (FCF) agregado positivo em 2026 para as empresas classificadas no país, sustentando indicadores de crédito estáveis. A agência acredita que haverá modesta queda no índice de alavancagem líquida pelo Ebitda (lucro antes de juros, depreciação, amortização e impostos) agregado em 2025 e 2026.
Recentes eventos de crédito remetem ao pedido de recuperação judicial da Americanas (AMER3), em janeiro de 2023, um precedente de contração do mercado após acontecimentos negativos de crédito. Emissores mais fracos enfrentaram dificuldades para obter financiamento nos meses subsequentes, o que levou a 29 rebaixamentos ao longo do ano.