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Petrobras: como o mercado viu o discurso de posse de Silva e Luna

Ações PETR4 tiveram alta de 5,80% nesta segunda-feira (19), cotadas a R$ 24,28

Petrobras: como o mercado viu o discurso de posse de Silva e Luna
Joaquim Silva e Luna assume o comando da Petrobras. Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
  • Depois de todos os imbróglios envolvendo a troca de comando da estatal, Silva e Luna assumiu o posto nesta segunda-feira (19)
  • No breve discurso de posse, o tom conciliador surpreendeu positivamente o mercado
  • “O mercado projetou um lado bem negativo para o presidente novo e agora está tendo a leitura de que não era tão ruim quanto o imaginado”, afirma Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos

A troca do CEO da Petrobras foi, desde o início, cheia de ruídos. Fruto da insatisfação do presidente Jair Bolsonaro com a alta dos combustíveis, a demissão de Roberto Castello Branco e sua substituição pelo general do Exército Joaquim Silva e Luna foram anunciadas nas redes sociais do chefe do executivo em 19 de fevereiro.

A partir dali, o mercado voltou as preocupações para o motivo da troca: a interferência sinalizaria uma alteração ou extinção da política de reajustes da Petrobras? Atualmente, a petroleira estabelece o preço dos combustíveis conforme a cotação do petróleo no mercado internacional e a variação do dólar. Uma ingerência nessa regra poderia resultar em endividamento para a empresa.

As incertezas fizeram com que as ações fossem na contramão do mercado de petróleo mundial e despencassem mais de 20% em um único dia, 22 de fevereiro. Desde o post de Bolsonaro em que a troca foi confirmada até a última sexta-feira (18), quando Silva e Luna foi confirmado na presidência, os papéis caíram 21,59%.

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“Pode ser que hoje a Petrobras seja a petrolífera mais barata do mundo”, afirma Rossano Oltramari, sócio da 051 Capital. “O ativo está em um preço bastante atrasado. A Bolsa e as demais petrolíferas estão andando e os papéis da estatal estão para trás.”

Discurso foi positivo, mas deixa dúvidas

Depois de imbróglios envolvendo a troca de comando, Silva e Luna assumiu como CEO da empresa nesta segunda-feira (19). No breve discurso de posse, o tom conciliador surpreendeu positivamente o mercado. “Vamos buscar reduzir a volatilidade (mudanças bruscas dos preços nas refinarias, em curtos prazos), sem desrespeitar a paridade internacional (alinhamento com os preços externos)”, afirmou.

“Ele demostrou humildade quando disse que ‘quem chega ouve mais e fala menos’. O general também falou em reduzir volatilidade [dos preços] sem prejudicar a paridade internacional, o que é muito importante para o mercado. Foi um discurso bastante sereno”, explica Oltramari.

No dia em que o novo CEO da Petrobras falou sobre a visão em relação aos rumos da empresa, as ações PETR4 responderam com uma alta expressiva, de 5,80%, para R$ 24,28. “O mercado projetou um lado bem negativo para o presidente novo e agora está tendo a leitura de que não era tão ruim quanto o imaginado”, afirma Jansen Costa, sócio-fundador da Fatorial Investimentos. “Então primeiro o mercado, na dúvida, vende as ações a qualquer preço, principalmente o investidor estrangeiro, e depois recompra quando vê uma tranquilidade.”

Contudo, mesmo com os ânimos se apaziguando, ainda há muitas dúvidas sobre como a nova Petrobras vai conduzir a política de preços. Para Ilan Arbetman, analista de research da Ativa Investimentos, apesar do tom amistoso, o discurso foi contraditório.

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“A aplicação de transformações no dinamismo de preços e a manutenção da paridade tendem a apresentar antagonismo e requererão do novo CEO, decisões que, corretamente, serão tomadas após se ambientar na presidência da companhia”, afirma o especialista.

Essa também é a visão de Flávio Conde, chefe de análise da Inversa. “Se a política de preços ficar igual e os preços dos derivados continuarem a acompanhar os preços do exterior e o dólar, o mercado vai gostar e ação vai subir”, diz. “Mas se a política realmente for mantida porque o presidente Bolsonaro trocou o presidente da Petrobras? Para indicar um amigo, mais um general?”

Outras fórmulas de reajuste

Mesmo que não seja tão brusca, alguma mudança deve haver nas políticas de reajustes da petrolífera para assegurar essa ‘suavização de preços’ nos combustíveis, isto é, diminuição da volatilidade.

“Uma das hipóteses é que essa suavização aconteceria por meio da criação de um fundo de estabilização que diminuiria o impacto fiscal. Mas isso requereria uma certa habilidade política”, afirma João Beck, economista e sócio da BRA. “Mas desde que o repasse de preços seja feito de forma técnica, não importa a fórmula, não é isso que preocupa o mercado. É a interferência política.”

O especialista ressalta, entretanto, que o mercado ainda não bateu o martelo sobre a postura de Silva e Luna. “O presidente ainda não foi testado, não houve nenhuma pressão ainda, ameaça de greve dos caminhoneiros e etc”, afirma.

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