Bradesco BBI avalia que parceria entre Mercado Livre (MELI34) e Casas Bahia (BHIA3) fortalece canais digitais e impulsiona mercado de bens duráveis, com ganhos logísticos e financeiros. (Imagem: Adobe Stock)
O Bradesco BBI avalia que o acordo anunciado entre Mercado Livre (MELI34) e Grupo Casas Bahia (BHIA3) consolida uma relação “ganha-ganha” em bens duráveis. A partir de novembro, as principais categorias da varejista – eletrodomésticos, eletrônicos e móveis – passarão a ser vendidas na loja oficial dentro da plataforma do Mercado Livre (Meli). Com vendas brutas estimadas em cerca de R$ 35 bilhões, a Casas Bahia é um dos nomes mais tradicionais do segmento no País.
O banco lembra que nenhum dos parceiros divulgou detalhes financeiros ou taxa de comissão da operação, mas avalia que o movimento só faz sentido se ambos conseguirem crescer com “economia unitária e lucratividade positivas”. A estreia às vésperas da Black Friday de 2025 tende a capturar parte da maior sazonalidade do quarto trimestre, afirma o relatório. Pelo acordo, a logística ficará a cargo da varejista, que opera 25 centros de distribuição e mais de 1 mil lojas; hoje, 65% dos pedidos on-line de 1P (mercadorias próprias) são entregues em até 45 horas.
Para o Mercado Livre, o BBI vê a parceria como oportunidade de ampliar presença em um mercado de bens duráveis estimado em R$ 150 bilhões, dos quais aproximadamente 55% já migrou para o online. O banco calcula que o canal próprio da companhia exibe margem Ebit negativa de 3,5% nessa categoria e entende que a migração para o modelo de marketplace tende a melhorar rentabilidade e retorno sobre capital, ao reduzir a necessidade de estoque.
Há ainda potenciais efeitos colaterais positivos: maior uso do Mercado Pago, já que bens duráveis são tíquete médio alto – 66% das vendas da Casas Bahia em 2024 foram feitas via cartão ou crédito ao consumidor –, e reforço logístico, pois a experiência da varejista no manuseio de itens volumosos pode acelerar entregas em todo o País.
Do ponto de vista da Casas Bahia, o relatório destaca a abertura de um “novo e crescente canal” de vendas online. O BBI lembra que Mercado Livre e Shopee vêm adicionando entre R$ 15 bilhões e R$ 20 bilhões em participação de mercado a cada trimestre no varejo brasileiro e considera “estrategicamente correto” aproveitar essa tendência num ambiente de renda das famílias em queda. O banco também enxerga ganho de poder de barganha com fornecedores, já que a visibilidade da marca tende a aumentar na esteira da aliança com a líder de comércio eletrônico.
Na leitura do Bradesco BBI, os benefícios superam o risco de eventual canibalização das lojas físicas, pois o mix poderia migrar para um canal de contribuição menor. Em sentido oposto, a instituição avalia que o movimento cria pressão adicional sobre concorrentes diretos: Magazine Luiza (MGLU3) (neutro, preço-alvo de R$ 15) e Shopee, cuja oferta de bens duráveis ainda está em estágio inicial.
Mesmo sem detalhes sobre a divisão de receitas, o banco conclui que a iniciativa reforça o foco estratégico do Mercado Livre – ampliar sortimento e melhorar experiência do usuário – e fortalece a multicanalidade da Casas Bahia em sua principal categoria.
Publicidade
O banco acrescenta que vê a iniciativa como negativa para a Magazine Luiza (MGLU3), dado o potencial aumento do poder dos concorrentes em sua categoria principal, e para a Shopee, onde as ofertas de bens duráveis ainda estão em estágios iniciais.