Fundos da Eletrobras (ELET3; ELET6) – agora Axia (AXIA3) – acumulam, em média, valorização de 53,21%, bem acima dos ganhos de Ibovespa e CDI em 2025. (Imagem: Feng Yu em Adobe Stock)
Mais de três anos após a privatização da Axia Energia (AXIA3;AXIA6), novo nome da Eletrobras (ELET3;ELET6), os trabalhadores que aplicaram recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) nos fundos da companhia ainda não viram o mesmo desempenho obtido pelas ações da elétrica na Bolsa de Valores. Nos últimos 12 meses, no entanto, esses fundos começaram a reagir e a dúvida agora é se essa recuperação tem fôlego para continuar.
A oportunidade surgiu durante o processo de desestatização da antiga Eletrobras em junho de 2022. Na época, os investidores poderiam utilizar até 50% do saldo da conta do FGTS para investir na companhia por meio dos chamados Fundos Mútuos de Privatização (FMPs). O valor mínimo da aplicação foi limitado a R$ 200.
Um levantamento da Elos Ayta Consultoria com o desempenho de 15 FMPs da Axia de diferentes gestoras mostra que o retorno médio dos fundos foi de 41,63% desde junho de 2022 até agora. No mesmo período, o Ibovespa subiu 44,45%, o Certificado de Depósito Interbancário (CDI) avançou 49,91% e o Índice de Energia Elétrica (IEE) teve ganhos de 40,78%.
As ações da Axia registraram um desempenho superior ao dos FMPs no mesmo intervalo: as ordinárias (ELET3) subiram 46,98% e as preferenciais (ELET6), 72,98%.
Quando se observa o cenário dos últimos 12 meses, no entanto, a realidade muda. Os FMPs acumulam, em média, uma valorização de 53,21%, bem acima dos ganhos de Ibovespa, CDI e IEE, de 12,36%, 13,65% e 26,99%, respectivamente. Por sua vez, os papéis ELET3 subiram 57,32% e os ELET6 avançaram 51,58%, no mesmo período.
Olhando para o histórico desde o início da privatização, analistas observam que a diferença entre o desempenho das ações e dos fundos ocorre, em parte, por conta das taxas de administração dos FMPs, que reduzem a rentabilidadetotal.
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“Também existe uma questão da composição da carteira. Além do investimento em Axia, existe um pequeno pedaço do portfólio que fica em caixa para gerir liquidez. Isso, dependendo do momento, dilui o retorno das ações”, explica Alexandre Pletes, head de Renda Variável na Faz Capital.
Em entrevista ao Estadão em junho deste ano, o CEO da Axia, Ivan Monteiro, afirmou que os 300 mil CPFs que tiraram recursos do FGTS para investir na elétrica ainda lhe tiram o sono. Ele disse se orgulhar, no entanto, dos pagamentos de dividendos realizados pela companhia. Ainda destacou que o mercado de ações responde a fatores de curto prazo, sendo complicado analisar o desempenho dos papéis após a privatização.
O que destravou as ações da ex-Eletrobras na Bolsa?
Fundos Mútuos de Privatização (FMPs) da Eletrobras tiveram retorno menor do que o das ações da empresa desde junho de 2022. (Imagem: Picture Creative em Adobe Stock)
Para Tobias Camargo, consultor financeiro e sócio da GuiaInvest, a virada de chave tanto dos FMPs quanto das ações nos últimos 12 meses ocorreu por conta do anúncio de dividendos da companhia. Em agosto, o Conselho de Administração da Axia aprovou o pagamento de R$ 4 bilhões a acionistas.
Nesta reportagem, mostramos que os investidores passaram a ver a companhia elétrica como potencial “vaca leiteira” – termo que se refere a organizações que geram fluxo de caixa consistente com pouco investimento necessário.
“O anúncio dos dividendos bilionários reacendeu o interesse do mercado e impulsionou a cotação das cotas e das ações da Axia. Houve também um efeito positivo da base de comparação anterior, já que a performance nos últimos anos havia sido mais fraca”, diz Camargo.
Um imbróglio também foi solucionado em fevereiro de 2025 após a companhia concluir acordo com a União sobre a disputa relacionada aos direitos de voto. Após as negociações, foi mantida a limitação de 10% no poder de voto para qualquer acionista.
O governo federal passou a ter o direito de indicar três dos dez membros do Conselho de Administração, desde que cumpram os requisitos de elegibilidade estabelecidos no estatuto da empresa. Esse direito será mantido enquanto o governo detiver mais de 30% das ações com direito a voto.
Fernando Bresciani, analista de investimentos do Andbank, comenta que, antes da negociação, o mercado temia uma possível guerra jurídica da privatização da empresa. Desde o início do seu mandato, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) fez críticas, já tendo chamado a operação de “processo leonino contra os interesses do povo brasileiro”.
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“O acordo deu um alívio financeiro à empresa, afastou um susto de investimento no meio do caminho e permitiu que ela voltasse a operar com eficiência, destravando valor, fortalecendo o caixa e abrindo caminho para se consolidar como um player de dividendos“, afirma Bresciani.
Em outubro, também animou o mercado a notícia de que a Axia concluiu a venda de toda a participação que tinha na Eletronuclear para a empresa Âmbar Energia, do Grupo J&F, dos irmãos Joesley e Wesley Batista.
O UBS elevou o preço-alvo das ações preferenciais de R$ 59 para R$ 80, mantendo recomendação de compra, enquanto o Itaú BBA reiterou visão positiva, com recomendaçãooutperform (equivalente à compra). O Bank of America (BofA) foi outro que reforçou um posicionamento otimista em relação à tese.
Os bancos viram a venda da fatia da Eletronuclear como um marco no processo de redução de risco iniciado com a privatização, simbolizando o fim de um ciclo de ajustes e o começo de uma nova fase, mais previsível e rentável.
Vale a pena ficar nos fundos?
O governo Lula questionou na Justiça a privatização da Eletrobras e a alteração de seu estatuto social. (Foto: TV Brasil)
Segundo analistas ouvidos pelo E-Investidor, a decisão de manter ou não os investimentos nos fundos da Eletrobras depende do perfil do investidor. Quem busca exposição de longo prazo e está confortável com a volatilidade do setor elétrico pode continuar no fundo, aproveitando o momento mais favorável e o ganho de maturidade da carteira.
Por outro lado, cotistas que desejam reduzir custos ou ter liberdade para diversificar devem considerar a migração para ações diretas, já que os FMPs têm restrições de movimentação e concentração em um único ativo. Vale compreender, no entanto, as regras e prazos de resgate definidos para a modalidade.
“O mais importante é avaliar se o fundo ainda cumpre o papel estratégico dentro do portfólio pessoal”, destaca Camargo, da GuiaInvest.
Quanto às perspectivas para a Axia, ainda há incertezas sobre classificá-la como uma tese de dividendos. De um lado, analistas destacam que a companhia tem avançado em eficiência operacional e mantido disciplina de capital – fatores essenciais para sustentar uma política de remuneração mais consistente. De outro, avaliam que ainda é cedo para considerá-la uma pagadora de dividendos consolidada.
“Penso que o desafio está em equilibrar o pagamento de proventos com o ciclo de investimentos em modernização e expansão de geração. O investidor deve enxergar o papel mais como uma tese de reestruturação do que puramente de renda neste momento”, afirma Lucas Girão, economista, com MBA em Finanças pela Faculdade Brasileira de Negócios e Finanças (FBNF).
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O especialista acrescenta que o setor elétrico tende a se beneficiar de um eventual ciclo de corte de juros em 2026, além do avanço da agenda de transição energética, que favorece empresas com portfólio diversificado em geração e transmissão. “A expectativa é de que a Axia – ex-Eletrobras (ELET3;ELET6) – continue consolidando ganhos de eficiência e, no médio prazo, se torne uma das principais pagadoras de dividendos do setor, mas a execução operacional será o fator decisivo”, conclui.