Com cenário macro desafiador, Bradesco redobra esforço para manter carteira saudável; “agro não é um problema”, diz CFO
Em entrevista ao E-Investidor, Cassiano Scarpelli falou sobre como o segundo maior banco do País conseguiu manter crescimento focando em PMEs e consignado
Os números do terceiro trimestre de 2025 apresentados pelo Bradesco (BBDC4) mostram que o segundo maior banco privado do País continua crescendo. Entre julho e setembro deste ano, a instituição financeira obteve lucro líquido recorrente de R$ 6,2 bilhões, dentro da maioria das projeções do mercado, embora alguns analistas do “buy side” (que apostam na compra do papel) esperassem uma cifra ainda mais robusta para o período.
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Acontece que o banco, segundo o CFO Cassiano Scarpelli, prioriza trabalhar com segurança, sem correr muito risco. Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, ele citou que o Bradesco “tem um mantra: a qualidade dos nossos ativos hoje é inegociável”. O foco, conta o executivo, vai continuar sendo principalmente em SME (soluções para pequenas e médias empresas).
“A gente continua focando em SME, com ativos bons, com qualidade de risco muito boa, sobretudo nas linhas governamentais, que são super interessantes e importantes, tanto para os clientes quanto para nós. Além disso, a gente também conhece bem o público de pessoas físicas, e há uma melhora da percepção de inflação mais contida, de renda, de desemprego mais baixo. A gente consegue fazer bons negócios”, disse.
Entre julho e setembro deste ano, a carteira de crédito do Bradesco avançou 10,4% sobre o valor registrado em 2024, atingindo R$ 1,034 bilhão, dos quais R$ 241,1 milhões são de micro, pequenas e médias empresas (crescimento de 24,8% em base anual) e R$ 451,6 milhões são de pessoas físicas (alta de 13,8% ano contra ano) — neste segmento, os maiores avanços foram no cartão de crédito para alta renda (+38,3%) e rural (+75,6%). O banco também é líder entre as instituições privadas no crédito consignado.
O aumento da exposição do banco ao crédito rural não é um ponto de atenção, segundo o CFO, apesar de outras instituições financeiras terem enfrentado alta da inadimplência recente neste setor.
“A carteira do agro no Bradesco está super sob controle. A gente tem alguma pequena variação no banco John Deere, que é natural pela sazonalidade. Lá tem uma carteira específica para duas ou três culturas, mas muito bem resguardada com garantias e com alienação fiduciária”, afirmou.
A inadimplência acima de 90 dias do Bradesco ficou praticamente estável no terceiro trimestre de 2025, na comparação com o mesmo período do ano passado, indo de 4,2% para 4,1%. Apesar disso, o banco optou por elevar o PDD (provisão para devedores duvidosos), uma espécie de fundo de segurança para eventuais calotes, que chegou a R$ 8,6 bilhões, alta de 20,1% na base anual.
“É um caso pontual, nada específico, do atacado. Foi um ajuste maior que tivemos fazer da perda esperada, nada além disso. A inadimplência está super controlada. A gente está muito bem, é um reflexo do que a gente vem construindo, empilhando de carteira de crédito. Não vemos nada saindo do controle. Não vislumbramos nada fora do normal, como a inadimplência que o setor financeiro teve logo no início da pandemia”, destacou Scarpelli.
O diretor financeiro do Bradesco criticou o atual patamar de juros no Brasil e disse que o ambiente macroeconômico deve melhorar em 2026 com o corte esperado para a Selic, que atualmente está em 15% ao ano. No geral, uma taxa de juros mais elevada pode beneficiar o lucro dos bancos com empréstimos mais caros, mas, por outro lado, tende a aumentar o nível de calotes.
“O Banco Central precisa ser capaz de trazer juros reais menores, o que é bom para toda a sociedade, é bom para o sistema financeiro, é bom para todo mundo que está querendo crescer e realizar seus sonhos e, assim, a gente vai ter a oportunidade de continuar crescendo e empilhando carteiras saudáveis no nosso banco”, afirmou o executivo.
Seguros e dividendos
O terceiro trimestre do Bradesco marcou um novo avanço expressivo do segmento de seguros, previdência e capitalização, que foi responsável por R$ 5,7 bilhões da receita total do banco no período, de R$ 35 bilhões. O lucro líquido desse segmento cresceu 6,5% em base anual e 10,3% no comparativo com o segundo trimestre, para R$ 2,5 bilhões. Para Scarpelli, o crescimento expressivo dos últimos anos é sustentável e, apesar de admitir alguns desafios, o avanço deve continuar.
“Passamos por dois anos muito bons em seguros. No ano passado, o último trimestre foi excepcional. Neste trimestre, tivemos uma redução da sinistralidade, isso foi super importante. Tem o desafio todos os anos para o grupo segurador do IGP-M com o IPCA, isso é inerente às seguradoras como um todo, mas no geral nosso grupo segurador continua forte, robusto, está fazendo seus investimentos em tecnologia. É super importante essa parte de digitalização do grupo segurador”, avaliou o CFO.
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Sobre proventos, o diretor disse que o banco vai manter os desembolsos de juros sobre capital próprio (JCP) neste ano e no próximo exercício, “a menos que tenha alguma mudança estrutural e governamental, o que a gente não tem como antever”. O executivo falou ainda sobre o aumento da concorrência de fintechs e a maior regulação de entidades de crédito. “Gostamos da maior concorrência e esperamos operar em um cenário com regulação justa”, concluiu. Veja a entrevista na íntegra acima, ou clique aqui.