Ibovespa em alta na B3 em 2025, refletindo otimismo do mercado com ciclo de juros e desempenho de empresas da Bolsa. (Imagem: THANANIT em Adobe Stock)
O Ibovespa alcançou quatorze sessões seguidas de alta, a mais longa série de ganhos desde 1994. Durante esse caminho de valorização, o índice bateu onze recordes nominais de fechamento consecutivos e superou em 2025, pela primeira vez na história, o patamar de 155 mil pontos.
O movimento, na visão do mercado, é explicado principalmente por questões externas. Com os cortes de juros nos Estados Unidos, investidores estrangeiros têm migrado da renda fixa americana para diferentes bolsas globais em busca de maiores retornos. Esse movimento beneficia mercados emergentes e o Brasil representa um destino seguro.
Enquanto o Ibovespa sobe 29,08% em 2025, outros índices também se destacam globalmente. No Chile, o IPSA avança 43,97% no ano, enquanto o IPC, no México, sobe 27,43%. Já na Argentina, o Merval acumula alta de 16,51%.
Apesar da máxima do IBOV, muitas ações locais continuam sendo negociadas abaixo das médias de preço sobre lucro (P/L), uma das principais métricas de valuation (valor do ativo) usadas no mercado. Trata-se, então, de um ambiente favorável para o investidor gringo: papéis “baratos” no Brasil, Selic em 15% ao ano e juros em queda nos EUA.
Embora tenha batido recorde nominal, o Ibovespa ainda opera abaixo do pico histórico no ajuste em dólar, que foi alcançado em 18 de maio de 2008, quando atingiu 44.616 pontos, segundo dados da Elos Ayta Consultoria. Hoje, está em 28,8 mil pontos. Essa diferença indica que, em termos reais para o investidor estrangeiro, ainda há espaço relevante para valorização.
A esse cenário soma-se a expectativa de que o Comitê de Política Monetária (Copom) inicie o ciclo de cortes da Selic no próximo ano. Embora o último comunicado do Copom tenha sido considerado duro, o texto indicou que a inflação e as medidas subjacentes “apresentaram algum arrefecimento” – trecho que não estava presente nas comunicações anteriores.
Ilan Arbetman, analista de Research da Ativa Investimentos, enxerga que os investidores locais, ao contrário dos gringos, ainda se mostram receosos com o mercado local, dado o elevado nível atual da Selic que privilegia investimentos em renda fixa.
“Mais importante do que saber quando os juros vão cair é entender até que ponto eles vão cair”, diz.
Entre os investidores institucionais, outubro foi o primeiro mês de 2025 a apresentar resultado positivo na Bolsa de Valores, com saldo de R$ 285,306 milhões. Ao longo do ano, a categoria registrou retirada de capital da B3.
O recorde na visão da Bolsa brasileira
Sucessivos recordes do Ibovespa indicam a resiliência das empresas de capital aberto no mercado brasileiro. (Imagem: Edson Souza em Adobe Stock)
Para a dona da Bolsa brasileira, o recorde histórico do IBOV mostra a resiliência das empresas de capital aberto no mercado doméstico.
“A grande mensagem é que, mesmo num ano com taxas de juros muito altas, as companhias conseguiram performar bem”, avalia Hênio Scheidt, gerente de Produtos na B3.
O Ibovespa foi criado em 1967, mas começou a ser divulgado oficialmente no pregão de 2 de janeiro de 1968, como parte de uma iniciativa da Bolsa de oferecer um instrumento mais técnico para avaliação do mercado financeiro do País. Antes, eram apresentadas apenas as cotações de cada ação.
Scheidt explica que o Ibovespa conta com gatilhos para evitar desequilíbrios ou uma concentração excessiva de determinados papéis. Além de considerar critérios como valor de mercado e liquidez, a B3 limita a participação de uma ação a, no máximo, 20% da carteira. Atualmente, o papel Vale (VALE3) tem o maior peso, de 12,15%. Veja aqui mais detalhes do índice Bovespa.
Esses cuidados permitem que o IBOV funcione como uma referência geral para o mercado. Scheidt acrescenta que outros índices de ações também vêm registrando forte desempenho em 2025, como o Índice Dividendos (IDIV), que reúne as maiores pagadoras de proventos e acumula alta de 23,98% em 2025.
Max Bohn, estrategista de ações da Nomos, enxerga que já há um típico rali da Bolsa brasileira de fim de ano. “Não me surpreenderia se o Ibovespa chegasse aos 160 mil pontos até o final de 2025. Mas não será uma trajetória reta. Pelo contrário, realizações são esperadas no meio do caminho”, afirma.
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Segundo ele, o investidor pode aproveitar o momento para fazer ajustes na carteira e colocar um pouco de lucro no bolso, mas sem sair totalmente do mercado de ações, já que as tendências se mantêm positivas para os próximos meses.
Na visão da Monte Bravo, as condições globais que trouxeram a Bolsa até aqui devem permanecer ao longo do ano que vem. A corretora enxerga que o Ibovespa pode caminhar até a faixa de 175 mil pontos em meados do próximo ano. A partir de agosto, no entanto, a dinâmica das eleições 2026 e a perspectiva de ajuste fiscal devem dominar a formação dos preços dos ativos brasileiros.
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Para Matheus Amaral, especialista em renda variável do Inter, o investidor agora precisa considerar os fundamentos e o desempenho das empresas que têm na carteira antes de modificar posições.
Somente o fato de o mercado estar em alta não significa, necessariamente, que seja hora de vender todos os papéis. “Realizar ganhos é importante, sim, mas isso deve ser feito dentro de um plano, com base em critérios claros e alinhado à estratégia de longo prazo”, destaca.
Segundo Arbetman, da Ativa, a Bolsa local não pode mais ser considerada uma “barganha”, dada a alta recente, mas ainda há opções atrativas. “O investidor pode entrar no mercado, mas com seletividade, em busca de empresas com fluxo de caixa forte e previsibilidade nos dividendos”, avalia.
O que vai ficar no radar do investidor agora
O mercado deve monitorar as próximas decisões de juros no Brasil. Em seu último comunicado, o Copom reforçou que o ambiente exige uma política monetária em patamar significativamente contracionista por “período bastante prolongado”.
De um lado, o Banco Central (BC) afirma que o ambiente externo ainda se mantém incerto em função da conjuntura e da política econômica nos Estados Unidos. Do outro, no cenário doméstico, vê indicadores de atividade em trajetória de moderação e o mercado de trabalho ainda mostrando dinamismo.
A trajetória dos juros nos EUA também segue no radar, com o mercado de olho no shutdown – paralisação do governo americano – que restringe a divulgação de dados econômicos. Em suas falas, dirigentes do Federal Reserve (Fed, o banco central estadunidense) têm se dividido entre defender um corte de juros em dezembro e sustentar uma postura mais cautelosa para a próxima reunião.
A partir do ano que vem, um outro fator ganhará força: as eleições presidenciais. “À medida que adentrarmos em 2026, o peso da eleição associada à política fiscal do próximo presidente vai ser central na formação do preço dos ativos do Ibovespa”, observa Alexandre Mathias, estrategista-chefe da Monte Bravo.