“Não temos controle sobre o preço do ouro, mas estamos focados em produzir o máximo possível e ao menor custo”, diz CEO da Aura Minerals
Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, Rodrigo Barbosa fala sobre a expectativa de que o valor do metal continue subindo com mais compras por bancos centrais, como o chinês, e o alto endividamento dos Estados Unidos
Um ano dourado: o ouro acumula alta de mais de 50% em 2025 e o preço da onça já ultrapassou os US$ 4 mil em meio a tensões geopolíticas. O movimento ganhou tração com as guerras na Ucrânia e na Palestina, além do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, a muitos países do mundo, incluindo o Brasil.
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Para a Aura Minerals (AURA33) é um prato cheio. A mineradora, focada principalmente em ouro e cobre em países das Américas, registrou lucro líquido de US$ 5,6 milhões no terceiro trimestre, revertendo um prejuízo de quase US$ 12 milhões visto um ano antes. Junto com isso, a companhia teve produção recorde e aumento no volume de vendas, o que se refletiu em um avanço de 59% da receita líquida na base anual, para inéditos US$ 247,8 milhões.
Em entrevista exclusiva ao E-Investidor, Rodrigo Barbosa, CEO da Aura Minerals, explicou o fato de o lucro da companhia ter diminuído sobre o segundo trimestre de 2025, apesar de ter revertido um prejuízo contra o 3T24. “Quando construímos Borborema, travamos o preço do ouro para que a gente garantisse o payback deste projeto. Então, dois anos atrás, a gente fez heads em que por três anos, assim que começasse a produção, a gente tivesse um preço do ouro mínimo garantido. Ou seja, o aumento do preço do ouro, como está ocorrendo ao longo dos últimos 12 meses de forma expressiva, provoca correções negativas contábeis no nosso lucro”, disse.
“A gente ‘headeou’ menos de 20% da produção, mas como o aumento do preço do ouro está sendo expressivo, isso tem impacto negativo contábil, não caixa, nos nossos resultados. Vai ter mais ajuste de head então nos próximos quartos? Tomara que sim, né? Seja o prejuízo que a gente teve no ano passado, seja esse lucro baixo que teve no terceiro trimestre de 2025, ambos são resultado de um aumento de preço de ouro que tem essas perdas contábeis, não caixa, no nosso lucro”, completou.
O projeto Borborema da Aura Minerals é uma mina de ouro no Brasil, a céu aberto, localizada em Currais Novos, Rio Grande do Norte. Ela começou produção comercial em setembro já com capacidade máxima e deve contribuir positivamente para os próximos balanços da companhia, inclusive elevando o guidance de 2026, que ainda não foi oficialmente anunciado, segundo Barbosa.
Outra mina de ouro da Aura no Brasil que também ajudou bastante o balanço do trimestre foi o projeto Almas, no Tocantins. Foi o primeiro projeto “greenfield” (de construção do zero) da empresa, com uma vida útil estimada de 17 anos e que entrou em operação comercial em 2023. Entre o segundo e o terceiro trimestres deste ano, a produção em Almas cresceu 17%, para 15.088 GEO (onças equivalentes de ouro, na sigla em inglês).
“A gente começou o ano com uma produção de 60.000 onças, depois no segundo trimestre fomos a 64.000 onças e, agora no terceiro trimestre, já adicionamos mais 10.000 onças, que vêm de Borborema, atingindo 74.000”, enfatizou Barbosa.
Preço do ouro deve continuar subindo
Sobre o patamar elevado do preço do ouro, o CEO afirmou que a companhia não consegue controlar isso, mas que foca em produzir o máximo possível do metal ao menor custo possível. Segundo ele, os dois fatores que têm pesado mais sobre a cotação da moeda são a crescente venda de Treasuries (títulos públicos dos EUA) por parte de bancos centrais para a compra de ouro, na esteira das tensões políticas causadas pela guerra entre Rússia e Ucrânia e pelo tarifaço de Trump, especialmente com a China, somado à também crescente preocupação do mercado com o alto nível de endividamento da economia americana.
“O altíssimo endividamento americano sobre o PIB é uma variável para o preço atual do ouro. Estamos falando já de quase US$ 39 trilhões, um valor que vem subindo de forma expressiva ao longo dos últimos 6, 8 anos. Casado a isso, um déficit fiscal americano de US$ 2 trilhões ou mais por ano. Ou seja, em algum momento essa dívida pode se tornar questionável se o governo dos EUA tem condições ou não de pagá-las sem imprimir dinheiro”, afirmou o executivo.
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“Hoje, alguns investidores, tanto os bancos centrais ou já investidores generalistas, macro, entendem que talvez essa dívida não vai ser paga com a geração de recursos internos e [os EUA] vão ter que imprimir dinheiro. Nós no Brasil sabemos muito bem o que acontece quando você imprime uma moeda, você gera inflação e a desvalorização. Portanto, ainda que o ouro tenha oscilações para cima e correções para baixo, a tendência, no nosso ponto de vista, é de alta”, completou.
IPO na Nasdaq
O CEO comentou ainda sobre o IPO que a Aura Minerals fez em julho deste ano nos Estados Unidos, listando ações na Nasdaq. Com isso, a empresa deixou de ter papéis na Bolsa canadense de Toronto e os BDRs (recibos de ações de empresas estrangeiras listadas na B3) na Bolsa brasileira passaram a estar conectados aos novos papéis do mercado estadunidense.
“A gente tinha um volume médio diário negociado pouco relevante para investidores americanos. A gente negociava US$ 1 milhão, US$ 1,5 milhão por dia, e investidores mais sofisticados e grandes fundos americanos, que gostam do case da Aura, sempre deram esse feedback de que a gente precisava ter uma liquidez maior. Então, o objetivo com essa listagem era fortalecer o nosso balanço e aumentar nossa liquidez para que os investidores americanos pudessem considerar a Aura como investimento. Mês passado, a gente atingiu US$ 30 milhões médios negociados por dia. Agora sim, estamos no radar dos grandes investidores”, disse.
O dinheiro levantado com a listagem na Nasdaq também ajudou a empresa a pagar dívidas e reduzir sua alavancagem financeira, com o indicador de dívida líquida sobre Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização) ajustado caindo para 0,15x no terceiro trimestre. É um nível confortável para a companhia continuar buscando crescimento, seja por via orgânica ou através de aquisições, de acordo com Barbosa.
O executivo falou ainda sobre a preocupação da companhia com as questões ambientais e sobre como a Aura Minerals lida com as diferenças regulatórias em cada país que atua. Barbosa comentou também que a mineradora é boa pagadora de dividendos e que deve continuar sendo nos próximos exercícios. Recentemente, ela anunciou o pagamento de US$ 40 milhões aos acionistas. Veja a entrevista na íntegra acima, ou clique aqui.