Liquidação do Banco Master: como o mercado interpretou a decisão do Banco Central
PF prende Daniel Vorcaro em investigação sobre supostas fraudes bilionárias envolvendo a instituição e o BRB. Procurados, Master não comentou; BRB afirma seguir normas de compliance e transparência
A liquidação do Banco Master ocorreu após o Grupo Fictor demonstrar interesse em comprar a empresa na noite de segunda-feira (17). Na manhã de hoje, a Polícia Federal prendeu Daniel Vorcaro, dono do Master, no âmbito de uma operação que investiga possíveis crimes relacionados à tentativa de venda da instituição ao Banco de Brasília (BRB).
Procurados, o Banco Master não quis se pronunciar sobre o assunto; já o BRB afirma seguir normas de compliance – conjunto de disciplinas que mantém o empreendimento em conformidade com leis, normas e regras – e transparência (leia mais abaixo).
Analistas consultados pelo E-Investidor são unânimes ao afirmar que “a decisão do BC foi assertiva ao determinar a liquidação compulsória do Banco Master”.
“Ao liquidar os ativos, o BC estanca a sangria, impede que o rombo financeiro aumente e protege o patrimônio dos clientes por meio do acionamento das garantias legais, como o Fundo Garantidor de Crédito (FGC)“, avalia Jeff Patzlaff, planejador financeiro e especialista em investimentos.
Guilherme Almeida, head de Renda Fixa da Suno Research, destaca que a decisão ajuda a resgatar a credibilidade do mercado financeiro visto que havia uma percepção de que o Banco Central teria permitido a escalada do problema envolvendo o Banco Master.
“A ação foi mais reativa do que proativa na regulação das estruturas de risco, mas a liquidação extrajudicial coloca um fim na novela do Master e traz tranquilidade ao sistema financeiro tradicional“, diz Almeida.
Como mostramos nesta reportagem, o modelo de negócio da instituição financeira de Vorcaro era considerado de alto risco, visto que o crescimento do banco ocorria pela captação dos CDBs com retornos de até 140% do CDI, com garantia do FGC. Os títulos foram amplamente distribuídos pela XP e pelo BTG Pactual aos seus clientes.
Procurados, XP diz que “está monitorando o tema, assim como atualizando-os com as devidas informações”. Já o BTG (BPAC11) não respondeu ao nosso pedido de posicionamento até a publicação desta reportagem.
Relembre as ações que tentaram salvar o Master
Além das taxas elevadas, a carteira de crédito do Master também apresentava problemas, com recursos concentrados em ativos de baixa liquidez, como precatório, direitos creditórios e crédito privado de empresas em dificuldade financeira.
As dificuldades de levantar recursos para fazer frente aos vencimentos dos títulos levaram o banco a buscar alternativas para viabilizar a sua sobrevivência. No primeiro semestre, o Banco de Brasília (BRB) anunciou a compra de uma fatia o Master, mas operação foi negada pelo Banco Central. Já na noite de segunda-feira (17), foi a vez do Grupo Fictor, proposta interrompida pela intervenção do BC.
O banco também contou com ajuda de fundos de pensão de Estados e municípios. Como mostramos nesta reportagem, o Rioprevidência, responsável pelo pagamento das aposentadorias de servidores públicos e pensionistas do Estado do Rio de Janeiro, investiu quase R$ 2,6 bilhões em ativos ligados ao Master. O Tribunal de Contas do Rio de Janeiro (TCE-RJ) proibiu, em outubro, novas alocações devido ao risco dos investimentos.
Publicidade
O banco ainda tomou um empréstimo de R$ 4 bilhões de recursos do FGC.
“Esses fatores que aumentam o risco de calote e de contágio ao sistema“, afirma Angelo Belitardo, gestor da Hike Capital.
Suspeitas envolvendo operação com o BRB motivaram operação da PF
Já a operação da Polícia Federal (PF) que resultou na prisão de Vorcaro detectou suspeitas da emissão de títulos de crédito falsos pelo banco Master. Como explicou o Estadão nesta reportagem, o BRB transferiu cerca de R$ 12,2 bilhões ao Master no primeiro semestre de 2025 para a compra de carteiras de crédito, antes mesmo de formalizar a intenção de comprar o banco.
São investigados crimes de gestão fraudulenta, gestão temerária e organização criminosa, dentre outros.
O banqueiro foi detido pela PF ainda na noite de segunda-feira (17), quando tentava embarcar em um jatinho particular com destino ao exterior. O presidente do BRB, Paulo Henrique Costa, também foi afastado do cargo em função dos desdobramentos da investigação.
Ao E-Investidor, o BRB comunicou que tem compromisso com a ética, a responsabilidade e a integridade na condução de suas atividades e esclarece que opera normalmente, dando continuidade integral dos serviços e preservando a segurança das operações.
“Se as suspeitas da PF forem confirmadas, a intenção do Grupo Factor para comprar os ativos do Banco Master serviria só para postergar os efeitos da investigação desses problemas”, diz Felipe Sant’Anna especialista em investimentos do grupo Axia Investing.
O Ibovespa hoje opera no campo negativo em meio à repercussão do mercado doméstico sobre o desfecho do Banco Master. No início da tarde desta terça-feira (18) , o índice acionário recuava 0,19%, aos 156.694,68 pontos.