A temporada de balanços do terceiro trimestre de 2025 mostrou um retrato claro, e desconfortável, da estrutura financeira das companhias não financeiras listadas na B3.
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A temporada de balanços do terceiro trimestre de 2025 mostrou um retrato claro, e desconfortável, da estrutura financeira das companhias não financeiras listadas na B3.
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Com base no levantamento consolidado pela Elos Ayta, que analisou 268 empresas com demonstrações publicadas na CVM e excluiu Americanas (AMER3) e Axia Energia (AXIA3) para evitar distorções estatísticas, o quadro mostra um trimestre de receitas em leve expansão, custos mais pressionados e uma deterioração visível das margens e do lucro final
A receita líquida operacional atingiu R$ 931,5 bilhões no terceiro trimestre, alta de 3,64% frente aos R$ 898,8 bilhões do mesmo período de 2024.
O crescimento ficou abaixo da inflação medida pelo IPCA, de 5,17% nos 12 meses encerrados em setembro de 2025, um indicativo de que as empresas não conseguiram repassar totalmente os reajustes de preços.
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Ainda assim, o avanço da receita ficou acima da inflação medida pelo IGP-M, que acumulou 2,82% no mesmo período.
O quadro sugere um ambiente de demanda mais sensível a preços, além de setores ainda lidando com elevada competição.
Em outras palavras, as empresas não conseguiram repassar integralmente a alta de preços aos seus produtos e serviços, indicando um ambiente competitivo mais rígido ou uma demanda que não permite reajustes mais agressivos.
O custo dos produtos vendidos (CPV) avançou 4,71%, ritmo superior ao da receita.
Com isso, o lucro bruto registrou crescimento tímido de 0,92%, chegando a R$ 255,1 bilhões.
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A compressão da margem bruta, queda de 0,74 ponto percentual, reflete a dificuldade crescente das empresas em compensar pressões de custos, que continuam atuando tanto no preço dos insumos quanto na logística e nos contratos atrelados à inflação
O ponto mais sensível do trimestre foi o salto das despesas operacionais, que somaram R$ 108,6 bilhões, aumento expressivo de 18,27% em relação ao ano anterior.
Esse avanço impactou diretamente o lucro operacional (EBIT), que caiu 8,98%, para R$ 146,5 bilhões.
O comportamento sugere que a pressão sobre a estrutura, administrativa, comercial ou logística, foi mais relevante do que a pressão sobre a produção. Em períodos de inflação sobre serviços e reajustes de contratos, esse movimento tende a se intensificar.
Mesmo com uma queda de 2,54% no dólar Ptax no período, o resultado financeiro das companhias piorou.
As despesas financeiras aumentaram 21,59%, atingindo R$ 85,8 bilhões, enquanto as receitas financeiras cresceram 23,22%.
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O saldo final foi uma piora de 20,36% no resultado financeiro, que fechou negativo em R$ 48,4 bilhões.
O movimento sugere uma combinação de fatores: endividamento mais elevado, custo doméstico de juros ainda elevado e eventuais perdas em instrumentos financeiros, além de reflexos indiretos das tarifas impostas pelos Estados Unidos, que vêm pressionando custos corporativos ao longo de 2025.
Com margens comprimidas e despesa financeira crescente, o lucro líquido das empresas caiu 9,20%, encerrando o trimestre em R$ 79,1 bilhões, contra R$ 87,1 bilhões no terceiro trimestre de 2024.
O lucro antes de impostos (LAIR) recuou ainda mais: 18,76%.
A dívida bruta das empresas somou R$ 2,21 trilhões, alta de 11,93%, enquanto a dívida líquida avançou 17,17%, alcançando R$ 1,56 trilhão.
O caixa, por sua vez, mostrou praticamente estabilidade: crescimento de 0,99%, para R$ 647,1 bilhões.
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Esse descolamento mostra que, com a elevação da dívida e o caixa quase parado, a alavancagem das empresas aumentou, o que ajuda a explicar a pressão adicional sobre o resultado financeiro.
O volume total de dividendos distribuídos pelas empresas da amostra atingiu R$ 123,9 bilhões, um salto de 206,81% em relação ao mesmo trimestre de 2024.
A Petrobras (PETR3; PETR4) foi responsável por R$ 37,35 bilhões desse montante.
Mas mesmo excluindo a estatal, o desembolso cresceu 212,81%, chegando a R$ 85,54 bilhões, número que reforça a relevância da remuneração aos acionistas no período.
Margens e retorno caem
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As três principais margens corporativas recuaram:
O retorno sobre o patrimônio líquido (ROE) anualizado caiu de 15,11% para 12,01%, um declínio de 3,10 p.p.
O conjunto indica deterioração do desempenho operacional e financeiro, mesmo em um trimestre com alguma melhora nominal no câmbio e nas receitas.
O balanço consolidado do terceiro trimestre de 2025 mostra um mercado corporativo capaz de avançar modestamente em receitas, mas enfrentando pressões estruturais visíveis em custos, despesas e endividamento.
O cenário produzido pela Elos Ayta revela empresas que ampliaram sua atividade, mas tiveram dificuldade para transformar expansão de vendas em geração de valor, um recorte que reforça a necessidade de atenção ao ambiente competitivo, ao custo de capital e ao impacto das tarifas internacionais nos resultados corporativos.
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