Na fila do FGC? Propostas para antecipar recebimento de CDBs do Master podem ser golpe
Circulam nas redes sociais promessas de 'solução de liquidez' para afetados pelo Master; FGC não permite esse tipo de intermediação e especialistas dizem que é preciso redobrar cuidado
FGC calcula 1,6 milhão de credores com R$ 41 bilhões cobertos na liquidação do Master e afirma ter patrimônio de R$ 160 bilhões para iniciar os pagamentos, que geralmente começam em cerca de 30 dias. (Imagem: Adobe Stock)
Anúncios nas redes sociais estão oferecendo “liquidez imediata” aos investidores que tinham Certificados de Depósitos Bancário (CDBs) do Banco Master e agora estão na fila do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), sem prazo para reaver os recursos. A empresa diz que está desenvolvendo uma “solução de liquidez independente”; e tem até uma lista de espera para que credores possam cadastrar dados pessoais.
No entanto, o FGC não permite esse tipo de intermediação ou qualquer tipo de antecipação de crédito. Para especialistas, é preciso ficar atento à chance de cair em um golpe.
“O desespero por liquidez imediata só irá trazer mais problemas, sendo um campo fértil para oportunistas”, alerta Luciano Ramos Volk, sócio do Volk & Giffoni Ferreira Advogados. “Vale esclarecer que o FGC não autoriza a antecipação de crédito, o que nos leva a crer que eventuais propostas nesse sentido envolverão novas operações de crédito, provavelmente com juros altíssimos, mascaradas de antecipação do FGC para atrair os investidores do Master.”
Para o advogado, é papel do Banco Central fiscalizar esse tipo de oferta. Mas, em meio à maior liquidação bancária da história do País, é difícil que a autarquia consiga olhar para o tema de maneira ampla. “Isso transfere aos interessados o dever de não aceitar qualquer proposta, desconfiar de ofertas milagrosas e, principalmente, buscar informação correta pelos meios oficiais”, diz.
Na avaliação de Bruno Perri, economista-chefe, estrategista de investimentos e sócio-fundador da Forum Investimentos, há chances significativas de que essas propostas se tratem de golpes para roubar dados sensíveis dos investidores que detinham títulos do Master, como nome completo, CPF e dados bancários.
“Outra hipótese é que, não sendo golpe, se trate de operações de crédito com juros abusivos e que muito provavelmente também são irregulares. O investidor sabe que vai receber os recursos, e o FGC costuma ser ágil, mas a data exata deste recebimento é desconhecida, e até que isso ocorra ele poderá incorrer em juros excessivos”, alerta.
Com o decreto da liquidação do Master, quem tinha CDBs do banco na carteira ficou impedido de negociar os ativos. Ou seja, não consegue vendê-los e resgatar o dinheiro. Agora, para quem tinha até R$ 250 mil, só resta aguardar o pagamento da garantia pelo FGC.
O único passo a ser tomado neste momento, apenas um dia após a liquidação do banco, é baixar o aplicativo do FGC e realizar o cadastro básico. Aqui demos um passo a passo.
O garantidor precisa aguardar o envio da relação de credores do Master pelo Banco Central, o que leva em média 30 dias. Depois disso, a solicitação de garantia fica habilitada – o investidor precisa acompanhar as redes sociais ou o aplicativo do FGC para ficar atualizado sobre quando solicitação estará disponível. Então, será solicitado de completar a solicitação da garantia, com a biometria e identificação pessoal a partir de documento com foto, além da assinatura do termo de cessão e sub-rogação.
Quando essa etapa estiver concluída, o pagamento dos recursos ocorre em dois dias úteis.
Cuidado com golpes
Momentos de crise bancária, quando investidores ficam com recursos presos por tempo indeterminado ou acabam com prejuízos, como o que aconteceu com quem tinha mais de R$ 250 mil em CDBs do Master, criam um terreno fértil para golpes. Fragilizada e, muitas vezes, precisando do dinheiro com urgência, a pessoa pode recorrer a soluções que parecem simples, mas escondem armadilhas.
Por isso, é preciso redobrar a atenção com golpes.
Segundo Oduvaldo Lara Júnior, sócio da área de Direito Societário e M&A do escritório Abe Advogados, a melhor orientação é simples: não fornecer dados pessoais, bancários ou documentos a qualquer plataforma que prometa agilizar o recebimento. O investidor deve aguardar a divulgação do procedimento oficial pelo FGC e acompanhar exclusivamente os sites e perfis oficiais do garantidor e do Banco Central.
“Fora isso, não há nenhuma providência adicional que o investidor precise tomar agora. A garantia do FGC é automática, e qualquer oferta de crédito vinculada ao pagamento é um forte sinal de alerta”, destaca Júnior.
O que aconteceu com o Master
O Banco Central decretou a liquidação do Master nesta terça-feira (18), finalizando um processo que vinha se arrastando desde o fim de março, quando a instituição foi comprada pelo Banco de Brasília (BRB) em uma operação posteriormente embargada pelo BC.
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Desde então, o futuro do banco fundado pelo empresário Daniel Vorcaro estava no radar do mercado. O modelo de negócios era considerado problemático, com uma carteira de crédito de alto risco e uma estratégia agressiva de emissões de CDBs a taxas muito acima da média do mercado.
Os “CDBS do Master” se popularizaram entre investidores pessoa física graças aos rendimentos de até 140% do CDI; o que preocupava especialistas dado a representatividade do volume emitido pelo banco na liquidez total do FGC.
Além da liquidação do banco, Daniel Vorcaro foi preso em uma operação da Polícia Federal que apura suspeitas de crimes envolvendo a venda do banco para o BRB. O presidente do banco estatal do governo do Distrito Federal, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo.